ARTIGO

O Dia das Mães

Por Armando Alexandre dos Santos | 15/05/2023 | Tempo de leitura: 5 min

No segundo domingo de maio é costume, em todo o Brasil, comemorar-se o dia DAS MÃES, no plural. Já em Portugal costuma-se celebrar o dia no singular, dizendo-se “Dia da Mãe”. Por que essa curiosa diferença linguística? Talvez seja ela motivada pelo desejo de realçar a unicidade da maternidade. De fato, Mãe é só uma, ninguém pode ter duas mães...

Em Portugal também é comemorado o Dia do Pai, no singular, mas numa data diferente da que se celebra no Brasil. Aqui temos em agosto o Dia dos Pais, lá se realiza no dia 19 de março Dia do Pai. Por que 19 de março? Porque nesse dia ocorre a festa litúrgica de São José, o pai adotivo de Jesus Cristo.

Poucas coisas há de tão sagradas e poucas inspiraram tanto poetas e artistas como a maternidade, que, a bem dizer, consiste em uma prolongada sucessão de alegrias e dores, esperanças e apreensões. De fato, esperanças e preocupações acompanham o dia-a-dia da futura mãe durante os nove meses da gestação, e se fazem acompanhar de incômodos físicos de natureza vária; o parto é marcado por dores lancinantes de que nós, homens, nem sequer somos capazes de fazer ideia. Mas, quando após o nascimento pela primeira vez a jovem mãe segura nos braços o seu filhinho e lhe oferece o seio, por um curioso prodígio da memória humana instantaneamente se apagam todas as dores, sofrimentos e preocupações... Somente alegrias e esperanças tomam conta da mãe que tem nos braços o fruto de suas entranhas.

Mas a maternidade não para por aí. Ela se prolonga meses, anos e décadas afora. À medida que a criança se vai desenvolvendo, que ela cresce e se torna adolescente, depois jovem e por fim adulto, o espírito materno vai tendo, sempre e a cada dia, uma sucessão de preocupações e esperanças, de dores e alegrias. É esse o dia-a-dia das mães. É exatamente por isso que Coelho Neto, um literato que teve grande voga há 100 anos e hoje é injustamente esquecido, afirmou que “ser mãe é padecer num paraíso”.

A mãe que é verdadeiramente mãe nunca deixa de sofrer, mas também nunca deixa de se alegrar. Nunca deixa de ter preocupações e apreensões em relação ao filho ou à filha, mas também nunca deixa de ter esperanças. Ela teme, sem dúvida, as incertezas do futuro e as contrariedades que podem sobrevir, mas ela nunca deixa de confiar. Ela sabe, no mais íntimo do seu ser, com uma certeza inabalável, que jamais deixará de ser mãe, sabe que enquanto ela viver nunca seu filho deixará de depender dela e de poder contar inteiramente com ela.

Poucas coisas me impressionaram tanto, a propósito do amor de uma mãe, como o ato heroico de Santa Edviges, Duquesa da Silésia, que nasceu em 1174 e faleceu em 1243. De acordo com os costumes do tempo, casou ainda menina, com 12 anos de idade, com Henrique I, o Barbudo, duque da Silésia e da Polônia, e dele teve três filhos e três filhas. Foi mãe, pela primeira vez, com apenas 13 anos.

Ela era profundamente ligada ao seu primeiro filho, que sucedeu ao pai no governo dos seus feudos e que, assim como o pai, também se chamava Henrique. Sem dúvida, o mais dramático episódio da vida de Santa Edviges, e aquele em que sua excepcional grandeza de ânimo mais se patenteou, foi justamente a morte de seu filho Henrique, o Piedoso, depois de um reinado de apenas três anos.

O valoroso príncipe reuniu um exército de 20 mil homens e se dispôs a enfrentar a poderosa ofensiva dos bárbaros mongóis, que haviam tomado Kiev e começavam a invadir a Polônia. Já anos antes, graças a seu dom de profecia, Edviges havia previsto a morte de seu filho nessa guerra. Mas, com força de ânimo, não procurou dissuadi-lo de ir combater: era dever de Henrique lutar à frente de seu povo contra os inimigos da Fé e da Pátria, e jamais sua mãe o afastaria do cumprimento do dever.

Edviges somente rogou ao filho que antes de entrar em batalha esperasse os reforços que deveriam chegar de Wroclaw, mas Henrique respondeu à mãe: “Querida Senhora minha Mãe, não posso mais esperar, pois estou ouvindo cada dia mais os angustiados gemidos do meu pobre povo, e devo lutar e expor minha vida à morte pela Fé católica”.

Segundo antigos relatos, os mongóis, além de três vezes mais numerosos, teriam usado no combate uma arma misteriosa (talvez pólvora) que soltava por longos tubos de cobre uma fumaça malfazeja que desorientou a cavalaria cristã. Henrique pereceu heroicamente no combate, em meio à ruína do seu exército.

Foi a 9 de abril de 1241 que se deu essa tragédia. Sobrenaturalmente avisada do que havia acontecido, Edviges comentou com sua fiel amiga e confidente Dermudes: “Perdi o meu filho. Ele partiu de mim como um pássaro voando, e nunca mais o verei novamente nesta vida”.

O golpe foi muito duro para seu coração materno. Mas em nenhum momento ela deixou de se conformar inteiramente à vontade de Deus. Três dias depois, um mensageiro esfarrapado e esgotado pelo esforço apresentou-se diante da duquesa e lhe deu a triste nova. Sem se perturbar, ouviu tudo o que lhe dizia o mensageiro e, em resposta, limitou-se a dar em voz alta graças a Deus, que lhe enviava aquela terrível provação: - “Graças Vos dou, Senhor, porque em vossa bondade me destes esse filho que sempre me amou e respeitou, e que jamais me deu motivo de tristeza. Embora muito me alegrasse tê-lo vivo comigo, ainda maior alegria tenho porque, por sua morte heroica, uniu-se ao Salvador. A Vós humildemente recomendo sua alma”.

Conforme relatos da época, Edviges ainda foi pessoalmente ao campo de batalha procurar o corpo do filho para dar-lhe, assim como a seus companheiros de luta, sepultura cristã.

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