ARTIGO

Aceitação e mudança – 1

Por André Salum | 12/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Ao longo de nossa existência, inúmeras circunstâncias se apresentam como opções desafiadoras, diante das quais podemos decidir por diferentes rumos. Aceitar determinadas situações ou tentar mudá-las depende em parte de como as consideramos, se positivas ou negativas. A dúvida frequentemente nos assalta quanto a resolvermos determinada questão, mediante esforço, ou aceitá-la tal como se nos mostra, evitando riscos e poupando energias.

Muitas das circunstâncias aparecem como possibilidades, e podemos alterar o rumo dos acontecimentos a depender de nossas atitudes e escolhas, por isso nos perguntamos até que ponto devemos mudar condições aparentemente desagradáveis e incômodas sem antes compreender-lhes o sentido e significado. Parece-nos particularmente importante o trabalho interior de autoconhecimento, pelo qual podemos compreender por que algo nos incomoda e afeta, bem como perceber até que ponto é um incômodo do nosso ego, ou seja, algo que nos contraria os desejos, frustra as ambições, desfaz as fantasias, restringe o egoísmo, modera o orgulho, retira-nos certas máscaras e revela algo sobre nós mesmos que preferiríamos ocultar. Os eventos dessa natureza, embora positivos e promotores de crescimento interior, são sentidos pela personalidade como desagradáveis e nos impelem a atitudes reativas pelas quais tendemos a retornar à nossa zona de conforto, perpetuando os padrões egoicos e disfuncionais de comportamento aos quais estamos condicionados. Em muitos desses casos talvez fosse melhor não mudar conforme superficialmente desejaríamos, pois, em nossas tentativas de fuga ao que nos desagrada, perdemos preciosas oportunidades de nos libertar e curar através de mudanças necessárias e profundas.

Enquanto nosso ego se encontra preenchido e satisfeito, não sentimos necessidade de mudança, aceitando e cultivando até mesmo o que constitui obstáculo a realizações mais elevadas. Tendemos a nos acomodar e a somente buscar mudanças significativas quando defrontados pelo sofrimento. Por isso, precisamos estar atentos ao que aparentemente nos agrada, pois é possível que seja o que mais precise ser trabalhado e transformado.

De acordo com diversas instruções espirituais, ao atingirmos maior consciência da nossa natureza essencial, anímica, mudamos a perspectiva sob a qual avaliamos as situações. Aqueles que atingiram esse mais elevado nível de consciência revelam considerar fatos, relacionamentos e ocorrências sob outra perspectiva, mais ampla e profunda. A partir desse lugar, situações desafiadoras que em nós poderiam desencadear reações intempestivas e mudanças imediatas são aceitas por esses seres com resignação e serenidade. Outras situações às quais nos acomodamos e que nos satisfazem os interesses superficiais, egocêntricos e imediatistas, são por eles prontamente repelidas, por constituírem obstáculos à realização dos propósitos evolutivos que seguem com fidelidade.

Ocorrências que se mostram como estímulos evolutivos, convites à superação de limites, processos purificadores, lições preciosas e evocações aos nossos potenciais anímicos geralmente desagradam muito ao nosso ego, o qual se vê ameaçado em seu comodismo e satisfações, provocando naturalmente insegurança e indefinição. Reconhecer o valor de tais situações muda as atitudes diante delas, o que pode significar tanto aceitá-las como mudá-las, a depender não mais de interesses egoístas, mas da compreensão do que seja o mais correto a ser feito.

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