ARTIGO

Não aja como se tudo fosse normal

Por Fabiane Fischer | 11/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Na semana passada falei sobre os amortecedores da vida, mas hoje vamos nos aprofundar um pouco mais. Certa vez, uma pessoa me perguntou: “Ok, eu estou mesmo viciado. Estou viciado em álcool, em traições, em pornografia... Mas se está tudo bem na minha vida, por que tenho que mudar alguma coisa? Por que eu tenho que sentir dor se sinto prazer com isso? Por que não posso continuar assim?”

Um dos sintomas mais comuns do profundo amortecimento no qual o ser humano se encontra é uma doença psíquica cuja principal característica é um estado quase hipnótico no qual a pessoa acredita que tudo está absolutamente normal: a corrupção é normal, a violência é normal, contar mentirinhas é normal, a traição é normal, a competição, o fingimento, a trapaça, o engarrafamento... Tudo é normal. Os seus relacionamentos são quase sempre fúteis e não duram mais do que algumas semanas, mas isso também é normal. Você passa mais tempo na internet procurando distrações, mas não tem um diálogo gostoso em família e isso também é normal; seus filhos ficam trancados no quarto, mas obvio que isso é normal para um adolescente; você não consegue ficar alegre em uma festa sem beber álcool, mas isso é normal; o planeta está sendo destruído, os animais estão sendo mortos, nossos alimentos estão sendo contaminados... Mas está tudo bem na sua vida, porque tudo é normal!

Então a minha resposta é sim, você pode continuar vivendo dessa maneira. Durante algum tempo, você pode escolher viver anestesiado, pelo menos até o momento em que o efeito das suas ações comece a aparecer na sua vida. E esse efeito pode surgir de diversas maneiras: na forma de um acidente, uma perda, uma doença, uma frustração ou até mesmo como uma paixão. Vida é movimento, e tudo está em constante transformação, então chega o momento em que a vida traz um desafio com que você queira se mover, entende?

Mas durante algum tempo, é provável que você consiga levar a vida com um certo nível de amortecimento e aliás algumas pessoas permanecem assim a vida toda, até que algum acontecimento importante o surpreende e você se assusta. Começa a se sentir desconfortável, passa a sentir angústia, uma inquietude sem explicação, como uma sensação de estar faltando alguma coisa. Você percebe que não está feliz apesar de tudo estar “normal”, de tudo estar “bem”. E quanto mais você envelhece mais triste você fica, porque começa a ter consciência de que ainda não conquistou a si mesmo. Quando essa inquietação bate à sua porta, aí sim vem à pergunta: “O que eu fiz com a minha vida? Eu construí casas, comprei coisas, adquiri cultura, viajei muito, mas ainda não sei quem eu sou, por que estou aqui neste mundo. Qual o sentido da minha vida? O que eu fiz nesta existência?” E por aí vai...

Todos os dias recebo pessoas em meu escritório gritando por socorro. Pessoas que não sabem quem são, que estão sem direção na vida e muitas não suportando isso se entopem de “anestésicos e amortecedores” para sobreviver a mais um dia, entre estes amortecedores posso destacar medicamentos, em sua grande maioria calmantes, antidepressivos e ansiolíticos ou álcool, cocaína, maconha e craque. É muito raro receber alguém que não faça uso de nenhuma das “drogas” que mencionei acima e a pessoa não entende porque isso está acontecendo com ela, o que tem de errado pra sofrer tanto assim...

Quando começam a falar se torna tão claro a sequência de frustrações na vida e a fragilidade emocional da pessoa que vejo cada dia mais a importância e o poder que os pais têm sobre o resultado da vida de um filho. Todas as debilidades emocionais vêm de uma baixa autoestima que pode ter sido ocasionada por vários motivos, mas isso é um tema longo que ficará para o próximo artigo. O que posso adiantar aqui é: PAIS VOCÊS TÊM UM TESOURO EM SUAS MÃOS, FAÇAM VALER A PENA E NÃO AJAM COMO SE TUDO FOSSE NORMAL!!! Com carinho, Fabiane Fischer.

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