ARTIGO

Mães na praça

Por Edson Rontani Júnior | 10/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Uma mãe, ajoelhada, aos prantos, encoberta por suas vestes as quais denunciam apenas suas mãos, testa e pés. Uma mão masculina pousa sobre sua cabeça. Outra mãe, neste caso, uma esposa. Esta, segura um bebê de colo com um dos braços. Com a outra toca seu marido. Este aparece entre as duas mães que não têm a certeza de que o homem retornará ao seio da família. A incerteza toma parte desta obra de Lélio Coluccini situada desde 1938 na praça José Bonifácio, área anteriormente denominada praça Sete de Setembro, na região central de Piracicaba.

Tal instigante percepção de tristeza na figura de duas mães passa despercebida nos dias atuais, mesmo às vésperas de se comemorar mais um dia das mães. O Monumento ao Soldado Constitucionalista, erigido com arrecadação popular e instalado em 1938 ficou à frente onde outrora esteve instalado o Teatro Santo Estevam. De 1980 a 1988 foi transposto para a praça em frente ao Cemitério da Saudade – hoje praça Victório Angelo Cobra, o “Cobrinha” – na alegação de dar ares modernos ao calçadão central. Quando retornou em 1988, foi montado em local um pouco distante do local original.

Caro leitor, quando puder, pare e contemple a parte esquerda do Monumento. Fite a tristeza de ambas as mães e a incógnita se tal “voluntário piracicabano” retornaria daquele entrave civil/militar ocorrido em 1932 denominado de Revolução Constitucionalista. Muitas mães, esposas, pais sentiram e seus filhos e netos ainda hoje sentem a ausência de piracicabanos que morreram durante o conflito que obrigou muitas pessoas a empunhar uma arma pela reforma da Constituição Brasileira que, na ocasião, respirava ares da monarquia, uma vez a carta magna de então era datada de 1891 e sequer dissociava os poderes constituídos dando ampla autonomia ao executivo sem ouvir e legislativo ou ser fiscalizado pelo judiciário.

A obra homenageia os combatentes voluntários na Revolução de 1932. Cabe lembrar que o próximo dia 18 é o Dia da Juventude Constitucionalista, data em que, 91 anos atrás, foram mortos os manifestantes que formaram o acrônimo M.M.D.C. Sua construção foi decidida pelo poder público, através do prefeito Luiz Dias Gonzaga, em conjunto com voluntários e familiares daqueles que tombaram na luta pelo 9 de julho.

Para a obra, foi contratado o escultor Lélio Coluccini, italiano da cidade de Pietrasanta, região da Toscana, nascido em 3 de dezembro de 1910. Este chegou com a família ao Brasil quando tinha dois anos. Era de uma família de artesãos em mármore que na cidade de Campinas (São Paulo) fundou a Marmoraria Irmãos Coluccini. Tinha um dom natural com a escultura que a família acabou investindo profundamente nele. Lélio, em 1924, retorna para a Itália, morando com a avó Teresa, e estudando no Instituto de Arte Stagio Stagi em Pietrasanti. Tinha 28 anos quando concluiu o Monumento ao Soldado Constitucionalista em Piracicaba. Deixou obras memoráveis no Brasil, como a escultura A Caçadora, pertencente ao acervo do Museu da Arte Moderna de São Paulo. Faleceu em Campinas em 24 de julho de 1983.

Mães, esposas e famílias são homenageadas na obra. Uma das placas lembra os piracicabanos mortos em combate na Revolução de 1932: Alexandre Petta, Antonio de Barros, César Claudionor Barbieri, Ennes Silveira Mello, Francisco Honório de Souza, Jorge Jones, Jorge Zohlner, José Homero Roxo, José Soares, Lamartine Mariano Leme, Louro de Barros Penteado, Natal Meira Barros, Plácido Barbosa, Prudente Meirelles de Moraes, Romário de Mello Nery, Silvio Cervellini, Sylvio Cervelini, Virgilio Gomes e Walter Scaglione. Bom dia das mães.

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