DESPEDIDA

Rita Lee marcou a vida de piracicabanos: veja relatos emocionantes

Cantora morreu nesta segunda-feira, aos 75 anos; lutava contra um câncer de pulmão

Por Roberto Gardinalli | 09/05/2023 | Tempo de leitura: 5 min

Arquivo Pessoal

O jornalista Rubinho Vitti e Rita Lee: legado que não vai se apagar
O jornalista Rubinho Vitti e Rita Lee: legado que não vai se apagar

Morreu, no fim da noite de segunda-feira (8), em sua casa, a cantora Rita Lee, aos 75 anos. A notícia da passagem de uma das figuras mais conhecidas e reverenciadas da cultura brasileira deixou o país em luto. A cantora vinha lutando contra um câncer de pulmão desde 2021. Em 2022, ela anunciou que tinha se curado da doença, após exames mostrarem a remissão do tumor.

“É tarde, já vou indo, preciso ir embora, até amanhã”, escreveu o músico Roberto de Carvalho, marido de Rita, em homenagem publicada nas redes sociais.

“Grande parte de mim morreu”, escreveu o filho, o também músico, Beto Lee.

Nascida em São Paulo, no dia 31 de dezembro de 1947, Rita Lee Jones de Carvalho em toda a sua carreira vendeu mais de 55 milhões de discos, e apresentou múltiplas faces da arte que criava. Primeiro, na psicodelia com os Mutantes. Depois, foi para o rock´n roll, com a banda Tutti Frutti e, já na carreira solo, apresentou ao público um som mais radiofônico e popular, criado ao lado do marido Roberto de Carvalho. “A Rita Lee era o coração dos Mutantes, sem ela o grupo não existiria e não teria a influência que teve. A Tropicália também não existiria sem ela, pois ela dava o humor para uma época muito tensa da Ditadura Militar”, explicou o jornalista Rubinho Vitti, de Piracicaba. "A influência dela pro rock nacional veio depois, com a atitude dela à frente do Tutti Frutti, que rendeu hits como Agora Só Falta Você, Ovelha Negra, Jardins da Babilônia, entre outros”, citou Vitti.

Músicos de vários estilos, de Gilberto Gil e Ney Matogrosso a Lucas Silveira, da Fresno e Andreas Kisser do Sepultura, lamentaram a passagem de Rita, o que evidencia a importância da artista para toda a cultura brasileira. “A Rita dizia que apesar do rock, sempre desfilou por todas as avenidas musicais. Acho que foi isso. Ela inventou o rockcarnaval, que é a mistura de marchinha com rock, ela fez música romântica, fez bossa nova, até baião, por isso é natural que todos os estilos a homenageiem agora. Mais do que merecido”, completou.

SÍMBOLO DE LIBERDADE

Rubinho Vitti lembra, também, que Rita Lee tem seu lugar na história além da música que fazia. A figura da cantora é associada à liberdade pessoal e ao estilo de vida. “Essa influência ultrapassa os caminhos da música. Ou seja, a figura da Rita era muito importante na influência dos jovens”, comentou o jornalista. “E isso a gente pode ver pelas questões libertárias, na defesa dos animais, da natureza, do meio ambiente. Rita sempre foi muito incrível com ideias maravilhosas sobre o viver. E isso nos influenciava”, finalizou.

O velório de Rita Lee acontece nesta quarta-feira (10), no Planetário do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Em nota, a família informou que o corpo da cantora será cremado, em cerimônia fechada aos familiares e amigos, conforme o desejo dela.

RAINHA DO ROCK

Pessoa leve, generosa, simpática e atenciosa. Assim foi definida, pelos fãs, a personalidade da cantora Rita Lee. Apesar da fama de Rainha do Rock, a cantora não deixou de atender aos seus fãs mais fiéis, e os reconhecia mesmo com uma multidão à frente.

As passagens por Piracicaba marcaram os fãs na cidade, que guardam as memórias com carinho. Rubinho Vitti, por exemplo, a acompanha há 25 anos. “Entre 2000 e 2013, fui a pelo menos 30 apresentações dela”, disse. “Acabei virando um fã conectado. Conheci ela pessoalmente em 2001, numa tarde de autógrafos do disco ‘Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar’. Dei uma fitinha pra ela com uma música que fiz pra ela. Depois disso ela me chamava de Rubinhow (com esse w no final) e me chamava assim sempre que nos víamos”, comentou.

A relação próxima entre fã e artista chegou ao ponto de ‘Rubinhow’ dar um toque especial à capa do disco “Balacobaco”, de 2003. Segundo o jornalista, em uma das passagens da cantora por Piracicaba, ele a presenteou com bonequinhos dos personagens Sininho e Peter Pan. “A capa é um relicário, e ela fez questão de colocar a Sininho bem na frente”, contou. Outra história marcante para Vitti foi quando ele desabafou com a cantora sobre a morte de sua gata. “Quando perdi minha gatinha uma vez, escrevi um e-mail e ela respondeu na hora, desejando que eu ficasse bem e adotasse outra. O coração dela é gigantesco”, finalizou.

GENEROSA

A cantora Júlia Simões também traz uma lembrança carinhosa da generosidade de Rita Lee. Júlia foi chamada para subir ao palco com a cantora em um show no ginásio Waldemar Blatkauskas, em 1999. Mas, por pouco, não perdeu uma chance única. “Eu acompanhei a passagem de som dela, entreguei alguns presentes para ela e um CD demo meu, com uma carta. Eu escrevi na carta que meu sonho era cantar Desculpe o Auê com ela”, contou a cantora. “Na hora do show, ela falou ‘queria chamar uma menina cantora, a Júlia Simões’. Mas eu estava no fundo, e outra menina subiu no meu lugar, porque ela achou que eu não tinha ido”, contou. “Elas cantaram a música, e quando eu cheguei na frente, fiquei chateada porque perdi aquela oportunidade. Mas aí ela me viu lá embaixo e falou ‘a Júlia está aqui e ninguém me falou? Vamos cantar de novo’. Ela foi super generosa por cantar Desculpe o Auê de novo”, disse Júlia. “Sou eternamente grata à Rita por esse momento inesquecível”, completou.

Violinista da OSP (Orquestra Sinfônica de Piracicaba), Liège Mello contou que as composições de Rita embalaram a vida dela. “O primeiro vinil que eu e minha irmã compramos foi o ‘Lança Perfume’, com a nossa mesada. Éramos crianças e fazíamos shows imitando a Rita e o Roberto para os nossos pais assistirem”, lembrou. “Tive a alegria de poder ter ido a todos os shows dela em Piracicaba. Uma vez, no teatro Dr. Losso Neto, estávamos sentadas bem na frente, na escadinha. E numa música menos conhecida ela falou: até essa vocês sabem?”, disse.

O maestro da OSP, Knut Andreas, também cita a importância da cantora, que teve uma música executada pela orquestra no concerto Rock Sinfônico. “Foi muito especial conhecer a música da Rita Lee. São memórias que fiam para a vida inteira. É a conexão entre a música e momentos inesquecíveis”, disse.

Clique para receber as principais notícias da cidade pelo WhatsApp.

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.