ARTIGO

Saúde Mental no Trabalho

Por Luiz Xavier |
| Tempo de leitura: 3 min

Mais uma reflexão interessante, importante e atual da colega Kátia Mestriner, Psicóloga Clínica e do Trabalho. Acompanhem:

“Segundo a Organização Mundial da Saúde, nos últimos cinco anos o número de trabalhadores afastados por doença mental no trabalho teve um aumento de mais de cinquenta por cento. Estou aqui me referindo à ansiedade, depressão, e síndrome de Burnout, que pode ser definida como um esgotamento emocional, sem contar episódios como picos de ansiedade e pânico, que também podem estar relacionados ao trabalho.

Por que hoje em dia parece que as pessoas estão adoecendo mais? Podemos pensar em várias hipóteses, mas um dos fatores é a percepção mais clara de que o trabalho pode sim fazer muito mal à saúde, a depender das condições em que ele acontece.

Sem dúvida o ambiente do mercado de trabalho, que acontece fora da organização, também influencia o clima interno, porque as pessoas ao temerem não conseguir outra oportunidade em caso de demissão, tendem a se sujeitar a condições desfavoráveis, como se fossem reféns do trabalho atual.

Embora algumas empresas possam considerar vantajosa a condição de mercado em que há muita gente disponível para poucas oportunidades, na realidade este desequilíbrio desfavorece a todos, porque o temor de perder o trabalho não é o melhor dos fatores motivadores, certo?

A que me refiro quando falo de trabalho? Por definição, é toda a transformação da realidade, e isto inclui os trabalhos não remunerados e também os não reconhecidos como tal. O trabalho da dona de casa, por exemplo, o trabalho voluntário, que são tão importantes para a construção da sociedade e muitas vezes não reconhecidos.

No entanto, vamos nos ater ao trabalho remunerado, este que tem sido no mundo todo precarizado, estabelecendo-se, muitas vezes, como trabalho informal, sem garantias, mas apresentado como empreendimento de gente criativa e batalhadora. Estes trabalhos, assim como os empregos formais, geralmente têm sido mal remunerados, sendo que a maioria dos trabalhadores tem dificuldades até de suprir os custos de sobrevivência.

Quais são as condições que podem levar ao adoecimento emocional causado pelo trabalho?

Segundo Dejours, são aqueles que não favorecem a criação de significado por parte do próprio trabalhador, ou seja, se a pessoa não consegue enxergar que sua atividade produz satisfação, por ser parte de algo importante, socialmente reconhecido. A sensação de colher o que se plantou, a satisfação de sentir que valeu o esforço é, portanto, condição para a saúde mental.

Um dos aspectos que favorecem a criação de significado é o reconhecimento social do trabalho, ou seja, se a família, amigos e colegas percebem que o trabalho tem valor, o trabalhador terá maior facilidade em perceber o valor daquilo que realiza. A sensação de realização no trabalho por seu significado tem um peso maior do que as condições externas ao trabalho, como ambiente físico, segundo aponta Dejours em suas pesquisas sobre a psicodinâmica do trabalho, área que aborda o trabalho do ponto de vista da psicanálise.

As condições externas ao trabalho em si, tais como temperatura, ruído, estilo de liderança, salário e benefícios devem ser boas o suficiente para não causar desmotivação, mas não são os motivadores do trabalho, e sim, o conteúdo da tarefa, à qual o trabalhador pode atribuir significado. Bombeiros, veterinários, professores, por exemplo, são profissionais admirados pelas crianças.

Fica uma reflexão: o que você queria ser quando crescesse?”

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