HISTÓRIA

Centro Martha Watts, 20 anos: livro vai coletar memórias culturais e afetivas do espaço

O local faz parte do Instituto Educacional Piracicabano e foi fundado em 27 de junho de 2003

Por Nani Camargo | 07/05/2023 | Tempo de leitura: 5 min
nani.camargo@jpjornal.com.br

Alessandro Maschio/JP

O Centro Cultural Martha Watts completa 20 anos em 27 de junho de 2003. As comemorações, no entanto, já começaram. E o presente a todos os envolvidos na fundação, na busca do acervo e nos eventos já realizados ao longo desta trajetória cultural é um belo livro que deve ser lançado no segundo semestre: o “Coletando Memórias: 20 anos do Centro Cultural Martha Watts”.

“É uma forma de registrar permanentemente memórias afetivas de tantas pessoas que viveram e vivem o Centro Cultural. O livro será composto a partir de memórias e depoimentos dos vários atores que ajudaram a construir essa história de 20 anos, artistas, funcionários, estagiários, visitantes, pesquisadores, jornalistas, comunicadores, autoridades políticas, gestores educacionais”, conta Joceli Cerqueira Lazier, coordenadora do Centro.

O Martha Watts faz parte do Instituto Educacional Piracicabano e sua história começa muito antes de sua inauguração. A professora Jaïr de Araújo Lopes, patronesse do museu desde 1993, começou muitos anos antes a guardar os primeiros objetos e documentos a fim de preservar a memória da instituição. “Na série de vídeos “10 anos em 10 capítulos”, produzido pela TV Unimep em 2013, o professor Almir Maia nos conta que o CCMW era um sonho antigo da administração do IEP (Instituto Educacional Piracicabano). Nos fala também do seu encantamento com o lugar em sua chegada em Piracicaba em 1978, mas da necessidade de espera para a realização de tal sonho, devido outras demandas da Instituição e sua ampliação na época”, lembra Joceli.

Desse sonho à inauguração do CCMW foram várias etapas. Em 2000, foi nomeado um grupo de trabalho visando a apresentação de um anteprojeto para um Centro de Memória Institucional.

O processo de restauro ocorreu de 2001 a 2003, sendo os responsáveis os arquitetos Marcelo Cachioni (parte exterior) e Hélio Dias (parte interior). O tombamento do prédio como Patrimônio Histórico Cultural de Piracicaba, ocorreu em 2002. Em 2003 foi dado o nome de Martha Watts ao centro cultural e tivemos a inauguração em junho do mesmo ano.

“O Centro Cultural Martha Watts é um espaço de múltiplas atividades culturais e de pesquisa, monitorias e preservação de acervos históricos significativos de Piracicaba”, pontua.

O Marta Watts está fechado desde o início da pandemia, em março de 2020. A coordenadora explica que como as equipes, tanto do CCMW, como as de manutenção e higienização do IEP ficaram em isolamento social, o prédio ficou sem a manutenção necessária. Devido a isso, ele precisa passar por um processo de reformas. “Não é segredo que o IEP passa por um processo de reestruturação, portanto essas reformas não podem ser feitas a curto prazo”, diz Joceli. O JP detectou, também, rachaduras na estrutura do prédio.

Quando estava em pleno funcionamento, oferecia várias atividades culturais, artísticas e educacionais. Com programação mensal, as atividades são diversificadas, sendo realizadas de 2 a 3 exposições temporárias, encontros, apresentações musicais e teatrais, oficinas, palestras. “Os trabalhos de gestão do acervo e atendimento aos pesquisadores são atividades que não foram interrompidas. A diferença é que no momento os atendimentos precisam ser agendados”, esclarece a coordenadora.

ACERVO

O JP pediu à Joceli que listasse os principais destaques do acervo. A lista é grande. O acervo do Museu Prof.ª Jaïr de Araújo Lopes é composto por objetos e documentos sobre a história do IEP.

“O acervo IEP nos conta muito da história do Instituto Educacional Piracicabano da Igreja Metodista, desde o início do Colégio Piracicabano até a Universidade Metodista de Piracicaba. Já o acervo Rocha Netto, um dos mais completos acervos sobre futebol do país, conta com uma surpreendente coleção fotográfica, anotações sobre clubes nacionais e internacionais, flâmulas, fichas técnicas de jogos, dados biográficos de atletas e livros, jornais e revistas que somam mais de 30 mil textos”, detalha a especialista.

Formado por livros, periódicos, fotografias, recortes de jornais e correspondência pessoal, o acervo João Chiarini reúne uma rica bibliografia sobre folclore e literatura, assuntos nos quais o jornalista e advogado foi especialista. Manifestações folclóricas tradicionais de Piracicaba estão registradas em fotos e textos. “Correspondências pessoais destacam o contato com escritores como Jorge Amado e Oswald de Andrade. O acervo João Chiarini foi doado ao IEP pela Academia Piracicabana de Letras em 1995.

O acervo Jair Toledo Veiga, é um acervo documental que reúne textos, recortes de jornais, publicações e informações do IEP, da Igreja Metodista e pesquisas genealógicas. Professor e figura atuante na vida política e social de Piracicaba, Jair Toledo Veiga reuniu ao longo de seu trabalho diversos documentos que contribuem para a preservação da memória. Seu acervo foi incorporado ao IEP em 2001”.

Joceli informa que os processos do poder judiciário foram incorporados pela Universidade Metodista de Piracicaba em novembro de 2001, mediante o acordo estabelecido com o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que concedeu a guarda dos documentos à Instituição. O acervo contém mais de treze mil processos datando estes de 1801 a 1946. Esta documentação é composta das mais variadas ações, entre elas processos crimes, inventários de bens, inquéritos e ações executivas.

Já o acervo Elias Boaventura possui um vasto número de livros dos mais diversos assuntos, no qual pode-se destacar o material ligado à educação, filosofia, política e religião. Boaventura foi reitor da Unimep entre os anos de 1978 a 1986, era doutor em educação pela Universidade Estadual de Campinas e veio a falecer no ano de 2012. Sua gestão, ocorreu durante o período da ditadura militar e ficou marcada pela defesa da democracia.

“O jornal Movimento, que circulou entre 1975 e 1981, em um período marcado pelo ressurgimento dos movimentos sociais e pelo enfraquecimento da Ditadura Militar, instaurada com o golpe de 1964. Fizeram parte do seu conselho editorial Fernando Henrique Cardoso, Orlando Villas-Boas e Chico Buarque de Holanda. O periódico foi um dos principais representantes da imprensa alternativa, crítico ao regime militar e defensor do restabelecimento da democracia”, declara.

E por que é tão importante se preservar a nossa história? Joceli responde: “Preservar a história, é importante para organizar o passado e liberar as potencialidades do presente. Preservar a história está ligada a construção de nossa memória coletiva, o que nos possibilita um maior entendimento do nosso contexto hoje. A história compõe a identidade cultural de um povo, representa a riqueza cultural e nos ajuda a ter uma melhor percepção sobre nossa e outras culturas."

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