ARTIGO

Em busca da cura – 2

Por André Salum |
| Tempo de leitura: 3 min

Quando defrontados por problemas de saúde, quase todos buscamos a cura, excetuando-se aqueles de tendências masoquistas e os que se sentem beneficiados pela manutenção do estado patológico, no chamado ganho secundário.

Sob uma visão mais profunda e criteriosa podemos perceber que em relação à cura frequentemente queremos, em mecanismo imediatista e superficial, apenas nos ver livres de determinado sintoma ou desconforto, desatentos aos processos e significados envolvidos.

Dependendo do nível da disfunção, doença ou distúrbio que nos acomete, medidas terapêuticas diversas podem ser necessárias, como mudanças alimentares, atividades físicas, higiene mental e emocional, práticas de relaxamento e meditação, harmonização dos relacionamentos e dos ambientes em que se vive e convive. Aliados a medicamentos e cirurgias, tais procedimentos, dentre outros, podem colaborar na promoção e manutenção da saúde.

Todas as funções biológicas, sejam físicas ou psíquicas, passam por processos incessantes de desequilíbrio e reequilíbrio. Existe uma condição chamada de homeostase, que é a tendência, mediante inúmeros mecanismos interligados, de manter a harmonia do organismo, corrigir desvios e restaurar as funções vitais temporariamente desestabilizadas. Por exemplo, ao nos desidratarmos sentimos sede, a qual nos impele a beber água e assim restabelecer o equilíbrio hídrico. Processo semelhante se repete nos demais sistemas orgânicos, garantindo sua integridade funcional.

Com relação ao processo de cura, ajudas podem provir de diversas fontes, cada uma cumprindo seu papel. Todas as práticas que estimulam o organismo a se fortalecer, equilibrar e funcionar adequadamente mostram-se úteis tanto de modo preventivo quanto na restauração e manutenção da saúde. As áreas consagradas à saúde deveriam atuar de modo sinérgico, complementar e integrado, portanto, uma concepção vitalista e holística do ser humano, contemplando seus múltiplos aspectos e dimensões, torna-se necessária para se atingir, tanto quanto possível, a saúde.

Mesmo em casos de patologias congênitas, irreversíveis ou terminais, existem preciosos recursos terapêuticos de natureza física, psíquica e espiritual, os quais devem ser mobilizados a fim de oferecer ao paciente as melhores condições possíveis para sua experiência no corpo físico, por mais difícil e desafiadora que seja.

As variadas e variáveis condições de saúde que se apresentam na vida humana, ao lado da ampla gama de patologias que podem nos acometer permitem-nos buscar compreender aspectos do adoecer e da cura que ultrapassam o diagnóstico clínico e a terapêutica específica. As doenças e os sintomas podem ser compreendidos de múltiplas formas, dentre as quais como sinais da vida nos apontando para uma necessidade de mudanças de atitude e de padrões de comportamento. Outras vezes nos requisitam repouso, reflexão e introspecção, favorecendo um mergulho na busca de sentido existencial, ao nos distanciarem temporariamente dos afazeres cotidianos. Podem ainda representar avisos e alertas ou ser impulsos para que alcancemos modos de vida mais puros e harmoniosos. Podem ainda nos convidar ao desapego àquilo a que estávamos presos enquanto gozando de saúde, muitas vezes desatentos quanto aos objetivos essenciais da existência. Desse modo, até mesmo um mal aparente pode ser concebido como instrumento da vida capaz de nos despertar, purificar e impulsionar rumo a uma vida mais plena, significativa e verdadeiramente saudável.

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