Uma nova etapa na história da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) teve início em 2023, após a aprovação do plano de recuperação judicial da universidade, leilão do Campus de Santa Bárbara d’Oeste e a desativação do Campus Taquaral em 2022. Os cursos que antes tinham como base a estrutura localizada na Rodovia do Açúcar, agora iniciaram uma nova etapa, dessa vez no centro de Piracicaba, em outro prédio histórico da instituição. A mudança gerou o temor de um possível fechamento da universidade na sociedade e nos alunos. Porém, no contexto da recuperação judicial, o reitor da universidade, professor Ismael Forte Valentim, coloca a mudança como um ponto positivo e relevante para que a Unimep resolva seus problemas financeiros. “Nós tivemos muito cuidado, porque essa decisão, tomada entre a mantenedora e a direção, foi muito difícil. Sabemos da importância do Taquaral para nós e para a sociedade, mas chegou num ponto em que estava insustentável”, disse. Confira os principais trechos da entrevista com o reitor da Unimep.
O plano de recuperação judicial da Unimep foi aprovado no ano passado. Como está o processo?
Temos quatro meses do plano até aqui e temos 36 meses para cumprir o plano. Ele foi aprovado com uma série de ajustes, especialmente aqueles que a classe trabalhista estava reivindicando via sindicatos. Acabamos fazendo os ajustes e, de certa forma, acatando 100% do que a classe pediu. O plano tem algumas etapas previstas e uma delas já foi cumprida. Tínhamos até o final de janeiro para fazer o primeiro pagamento, que era um valor pendente de até cinco salários mínimos. Mas tem alguns credores que já deixaram a universidade e que de alguma forma, perdemos o contato, ou as pessoas não estamos acompanhando. Então, há uma pendência, mas não porque não queremos, e sim porque não conseguimos encontrar essas pessoas. Mas é um grupo muito pequeno. Temos uma segunda etapa para ser cumprida até o final do ano, que é mais uma parte de pagamentos que devem ser feitos até o valor de R$ 10 mil. Isso já representa 80% dos credores que terão seus créditos ressarcidos até o final do ano. A nossa expectativa é para que, até 2024, consigamos cumprir os pagamentos de todos. O plano foi aprovado, temos mais três ou quatro leilões. Estamos levantando recursos para essa próxima etapa, e isso acalma um pouco especialmente os credores maiores, que são os bancos, financiadores e fornecedores. Eles saem que, por ordem legal, vão ser pagos.
As aulas no campus do Centro começaram em fevereiro de 2023, após a desativação do Taquaral. Como foi essa mudança?
A decisão da mudança aconteceu numa reunião na última semana de novembro, e claro que foi uma decisão muito difícil tomada entre a mantenedora e os gestores, porque nós sabemos da importância do Taquaral para a cidade e para a região. Mas chegamos num ponto em que estava insustentável. A previsão era entrar em 2023 com 500 alunos no Taquaral e mais 200 em Lins nos cursos de Odontologia e Direito. E de certa forma foi isso o que aconteceu. Nós temos hoje perto de 800 alunos na universidade, sendo próximo de 200 em Lins e 550 no Centro. Conseguimos comportar esse número de alunos com tranquilidade no centro. Nós temos um número de salas de aula, laboratórios por aqui, porque a Unimep começou no centro. Já temos estrutura na área de Química e Biologia. E alguns outros espaços dos cursos de fisioterapia e nutrição. É próximo à rodoviária, nosso perfil de alunos é de gente que trabalha na região central, ou mora no centro, então facilitou. Tivemos o vestibular agora, que foi muito bom. No meio do ano, vamos oferecer de novo os cursos de Medicina Veterinária e Direito, e para o final do ano, pretendemos avançar para oito ou dez cursos a serem oferecidos no
Campus Centro.
Algum curso pode ser criado nos próximos anos?
Não são cursos inéditos. São cursos que serão retomados com uma melhor organização curricular e pedagógica e que já há algum tempo não vinham sendo oferecidos no processo seletivo ou não estavam formando turmas. Retomamos a oferta de cursos como Engenharia de Produção, que é um curso que tinha em Santa Bárbara, e conseguimos autorização do MEC para trazer para Piracicaba. Também os cursos de Engenharia Civil e Arquitetura, que existiam em Santa Bárbara. Estamos retomando o projeto, mas ainda não iniciamos a tramitação no MEC, para o curso de Engenharia Química, que vimos que tem uma alta demanda, principalmente pelo perfil do nosso parque industrial. Outro novo curso que ofertamos foi a Biomedicina, que vamos oferecer no vestibular do final do ano, e que teve uma boa participação no processo seletivo, mas a conversão em matrículas infelizmente não atingiu o número necessário para a criação de turmas. Na área de Comunicação, estamos finalizando no MEC a tramitação do curso de Mídia e Audiovisual, que é um
curso experimental.
Algum curso pode ser extinto?
Nós temos alguns cursos, em especial de Licenciatura. Por exemplo, Música Licenciatura é um que já há algum tempo não conseguimos formar turmas e é bem provável que vai ser extinto. Há muita preocupação porque já estamos tendo problemas com professores na educação básica. Muitos engenheiros estão dando aula de disciplinas de exatas, biólogos dando aula de Biologia ou Química. As novas gerações não estão interessadas em fazer licenciatura. Outros cursos, como Letras Português e Inglês, História, Filosofia e até Pedagogia tiveram uma grande diminuição na procura. Além das licenciaturas, Educação Física Licenciatura, também têm
baixa procura.
E sobre o Campus Taquaral, qual a situação? Recentemente houve um movimento para o uso do espaço como universidade federal.
Toda a parte administrativa, financeira, contábil e tecnologia ainda estão no Taquaral. Ou seja, alguns setores ainda estão trabalhando por lá a pleno vapor. O Campus não foi listado na recuperação judicial como imóvel de interesse. Fizemos o processo de desativação mais por questão de economia. Mas, eventualmente, como precisamos de recursos, que não são poucos, se surgir uma proposta de negociação muito boa, a mantenedora pode pensar em vender. Mas não tem essa possibilidade. Existe um grupo que está com um movimento grande para que o Taquaral se torne o Campus de uma universidade pública, ou mesmo uma universidade, propriamente dita. Há uma expectativa da União fazer uma desapropriação e se tornar uma universidade pública. A grande preocupação de muita gente, e nossa também, é perder o Campus. Lá em Santa Bárbara, ficamos tristes, mas, ao mesmo tempo, a tristeza se atenuou porque uma universidade comprou o espaço. Se conseguirmos que a União, Estado ou uma outra universidade adquira aquele espaço para dar continuidade à educação, seria o ideal.