ARTIGO

Cabelos podem representar traumas e ou profundas transformações.

Por Ana Carolina Carvalho Pascoalete |
| Tempo de leitura: 3 min

A psicologia é uma ciência aplicada por pessoas, e para pessoas. E onde existe uma relação entre seres humanos, existe espaço para atuação da psicologia, podendo ser desenvolvida pelo próprio sujeito, ao adquirir conhecimento, sabedoria, praticando sua inteligência nas diversas experiências da vida. A atuação da psicologia é tão expansiva quanto o crescimento da população, e logo durante a infância e adolescência, na psicologia do desenvolvimento, quando o indivíduo ainda está em formação, as chances de uma experiência de vida desfavorável, pode causar fixações e ou traumas, pois no decorrer do desenvolvimento os indivíduos ainda não apresentam maturidade suficiente para lidar com frustrações e mudanças que impactam na vida.

Um adulto com comportamentos de coerência, honestidade apresenta tendência de que tenha se desenvolvido minimamente de forma adequada, e assim mais preparados para enfrentar os desafios que o viver exige. Vamos abordar sobre um exemplo muito simples, de quando uma criança precisa cortar o cabelo, é comum ouvir sobre as “batalhas” enfrentadas pelos tutores para auxiliar o cabeleireiro há conter a criança, e enfim o desfecho comum é cabeleireiro estressado, mãe envergonhada, corte mal feito e criança com medo.

Desta forma a ação em obrigar alguém a fazer algo contra sua vontade, pode gerar aversão, e possíveis traumas. Agora imagine pensar em estratégias aonde a criança chegue a um ambiente que se sinta confortável, com um espaço acolhedor e divertido, com histórias infantis, brinquedos educativos, envolvendo a criança a cooperar com o corte e sendo beneficiada ao final com um brinde que pode ser representado por um balão. Assim facilitando para que as crianças saiam felizes, sem a necessidade de contenção, tornando a experiência saudável e criativa, e essa criança não chegará à vida adulta com resistência a necessidade de cortar o cabelo.

O cabelo tende a representar nos indivíduos um processo de conquista de auto-estima, e por isso impacta na vida das pessoas de diferentes maneiras. Uma delas é a vontade de externar no visual uma mudança que já aconteceu no íntimo do indivíduo.

Na clínica é comum presenciar transformações capilares em pacientes que mudam de área para atuação profissional, e ou pessoas que finalizam relacionamentos, ou indivíduos que passam por situações difíceis, como dificuldades relacionadas à saúde. É comum transformar a aparência nos finais de ciclo no decorrer da vida, como um desejo em se proporcionar mudanças, ressignificando as dores psíquicas do passado, com possibilidade de atuar de maneira diferente impulsionando possíveis mudanças em como se relacionar com o mundo.

A ideia da mudança representa a época do florescer e é a metáfora perfeita sobre transformações, e começar apenas mudando o cabelo é um símbolo forte da nossa aparência e percepção de si. Levando a um aspecto bem importante na reconstrução ou construção da beleza interior e da aceitação, principalmente para o sexo feminino.

De acordo com os dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de produtos capilares no mundo, vale ainda abordar que historicamente o cabelo exibe uma relação de poder e uma ligação direita com a sensualidade, assim muitos indivíduos criam a expectativa de que imediatamente após uma grande mudança nos cabelos vão se sentir incríveis, sentindo-se referências poderosas da ancestralidade, mas essa abordagem não é assim para a maioria, muitas pessoas após a transformação não tiveram uma satisfação imediata, e pode se transformar em uma experiência dolorida, tornando a construção da auto-estima uma tarefa nada fácil, pois o cabelo pode demorar meses para crescer, estimulando comportamento inclusive de isolamento social. Não existe um método unânime de passar por uma transição, como um corte ideal e perfeito, porém as trocas de experiências proporcionarão novidades, tentativas, erros, acertos, assim como todas as demais experiências na vida, que vão guiar os sujeitos individualmente para alcançarem uma fase transformadora.

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