“Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar”. Esta frase é de Machado de Assis, considerado o maior nome da Literatura Brasileira. Sabemos amar? Sabemos pelo menos o que é amor? Proponho fazermos uma viagem sobre isso hoje! Teremos três paradas e estaremos super bem acompanhados nelas... Vamos?
Pois bem. Chegamos na primeira e é o filósofo Platão que nos recebe dizendo que amor é “eros”, de onde vem o erótico, o erotismo, etc. Para ele, amamos o que desejamos e, se conquistamos o que desejamos, já não amamos mais. Ele revela que amor é desejo e desejo é o que queremos e não temos. Portanto, “se você ama o que deseja, deseja o que não tem e quando tem deixa de amar”.
Quantas coisas (ou pessoas) você desejou e quando conquistou não desejou (amou) mais, ou não teve o mesmo “desejo” de antes. Mas você pode perguntar: “Então não amo meu trabalho, porque não tenho desejo de ir trabalhar!”. Experimente ficar desempregado, ver as contas chegando, seu filho passando necessidades e você vai sentir muito amor por seu trabalho! Mas, quando conseguir, o círculo vicioso continua... (e trabalho é só um dos muitos exemplos). Platão está certo? Na verdade, somos “ensinados” a viver esse amor de Platão, desde pequenos. Aliás, o capitalismo aplaude Platão! No ginásio fomos treinados a “desejar” ir para o Colegial (hoje ensino médio), só que a “felicidade” estava em chegar na Faculdade; na Faculdade fomos treinados a entender que “a vida valerá a pena” quando tivermos um MBA, doutorado ou entrarmos numa grande empresa e, quando entramos, o “desejo” é o próximo cargo! Metas, etapas, números, resultados, exploração, dor, suor, frustrações. O próximo passo! Esse sim valerá a pena! E quando atingimos quase tudo, pensamos que a felicidade e a vida perfeita estarão na aposentadoria... Só que estaremos no fim. E, quando aí estivermos, impossibilitados fisicamente e emocionalmente de muita coisa, talvez nos arrependamos amargamente de viver a vida no “amor de Platão”.
Continuando nossa viagem, chegamos na segunda parada e encontramos Aristóteles. Ele nos informa que não concorda com Platão, pois amor não é o desejo do que falta, mas a alegria do que não falta mais. “Philia” é o amor de Aristóteles, ou seja, a alegria de valorizar o que temos, agora. Não o que teremos, mas o que temos. A aceitação! A sua grama, não a grama do vizinho... Devemos nos encantar com a vida, sem a “neura” de nos comparar ou de que precisamos de mais.
Finalmente, chegando na terceira parada, somos recepcionados por Jesus Cristo, que gentilmente “resolve” o dilema e fecha com chave de ouro nossa viagem. Ele revela que amor não é o desejo do que falta e nem a alegria do mundo, pois nem tudo vai alegrar nossa alma... No amor de Cristo, “o que importa é o que o amado sente”. O outro! Uma poderosa e inteligente lição de empatia. Enquanto o ser humano não entender que o sentido da vida é dar sentido à vida do outro, não haverá felicidade verdadeira.
“Aquilo que fará o homem vivente feliz é a entrega, é permitir que o outro viva melhor do que viveria se você não existisse, é permitir que o outro sorria um sorriso que se você não fosse ele não sorriria, é permitir que o outro sinta alegria que se você não estivesse, ele não sentiria, e aí sim, você terá vivido uma vida boa. Esta é a lição de Jesus. Portanto, segundo Jesus, o amor vale mais do que a própria vida”. (Clóvis de Barros Filho)
Não fica mais fácil entender agora a causa dos nossos apegos e conflitos internos?
Por qual amor você quer ser amado?
Você ama com o mesmo amor que quer ser amado?
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