ARTIGO

Consciência de Classe e Transformação Política

Por Prof. Adelino Francisco de Oliveira |
| Tempo de leitura: 3 min

A classe trabalhadora tem uma identidade em comum, que demarca o seu lugar na dinâmica das relações sociais. A consciência dessa identidade, a compreensão do pertencimento a esse determinado grupo social, é fundamental para a organização da luta política. A consciência de classe possibilita a identificação e solidariedade entre seus pares e o comprometimento com suas pautas de luta. O sentido mais importante é que a classe trabalhadora esteja unida, consolidando forças para enfrentar e derrotar as situações históricas que reproduzem uma lógica de opressão e exploração.

O reconhecimento de pertença a uma determinada classe social deveria ser quase que evidente. Como alguém não consegue compreender, com o mínimo de clareza, a qual grupo social e econômico pertence? Por meio de estratégias ideológicas, articuladas pelas classes dominantes, a realidade, que seria óbvia, torna-se confusa e de difícil discernimento. Preso em um jogo de discursos e manipulações, o indivíduo acaba por não se reconhecer enquanto classe social trabalhadora. Em outras palavras, o pobre não percebe sua condição de empobrecido, tendo a falsa percepção, a partir dos valores que assume, de que pertence a um outro segmento social.

É preciso dizer que são diversos os recursos ideológicos, sempre difundidos pelas classes hegemônicas, que buscam impossibilitar que os trabalhadores adquiram plenamente uma consciência de classe. A ideologia guarda exatamente essa tarefa: impedir com que a classe espoliada tenha consciência do próprio universo em que está inserida. A ideologia cumpre a função de produzir uma visão fragmentada, distorcida e alienada sobre a realidade. Sob o viés das artimanhas ideológicas, como uma lente que distorce a visão, a pessoa olha o mundo, mas se torna incapaz de destrincha-lo em sua profundidade.

Cumpre ressaltar que as abordagens das pautas identitárias podem acabar também prestando um serviço às classes dominantes, na medida em que provocam uma fragmentação ainda mais intensa no seio da classe trabalhadora. Mergulhada no identitarismo e fechada em suas questões, a pessoa pode perder a percepção de que pertence a um grupo social mais amplo, distanciando-se dos debates mais gerais que afetam a classe trabalhadora em seu conjunto, ainda que se reconheçam diferenças e a diversidade no interior deste grupo. Todavia, nenhuma delas é capaz de retirar uma perspectiva comum que coloca trabalhadores como sujeitos históricos, oprimidos e explorados, sem tempo livre para vislumbrar suas mais caras potencialidades.

Os movimentos sociais, os coletivos identitários, as organizações sindicais, os partidos políticos não podem perder de vista que a luta por direitos sociais e ambientais guarda uma representação universal. A emancipação nunca é um processo individualizado ou mesmo específico para um determinado grupo. Isso não significa ignorar as especificidades e pautas de cada segmento social. É preciso que as demandas identitárias sejam reconhecidas e legitimadas. Mas a luta por libertação contempla uma dimensão coletiva, que deve englobar a classe trabalhadora no sentido mais amplo e universal.

A utopia política de um mundo que garanta a universalização dos direitos de cidadania decorre de uma luta emancipatória, que se levanta contra todas as formas de opressão e exploração. A classe trabalhadora somente terá condições de travar e sair vitoriosa dessa luta se estiver unida enquanto classe, serrando fileiras em um processo capaz de revolucionar, trazendo as sementes de um novo tempo, democrático e socialista.

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