
“Quando vou para a escola, sinto que estou indo para uma guerra e que estamos perdendo”. Esse é o sentimento de uma professora da rede estadual de Piracicaba, que sob a condição de anonimato, falou com o JP. Ela tem 23 anos no magistério público paulista
A sensação é de medo e de abandono por parte do poder público. “Faltam funcionários, faltam monitores”, diz um outro docente.
Nunca se viu tantos casos de violência nas escolas do Brasil como agora. Alunos que sofrem de problemas de ordem mental grave matam sem piedade colegas e professores.
Pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, encomendada pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de Ensino no Estado de São Paulo), revelou – como mostrado pelo JP esta semana - que 48% dos estudantes e 19% dos professores da rede pública do Estado de São Paulo sofreram algum tipo de violência nas dependências das escolas que frequentam. A pesquisa, divulgada pela presidente do sindicato e deputada estadual Professora Bebel, ouviu 1.250 estudantes, 1.100 professores e 1.250 familiares de alunos entre 30 de janeiro e 21 de fevereiro.
A docente do início deste texto contou ao JP como é seu dia-a-dia.
“Somente esta semana, dois alunos tentaram atacar dois colegas com cadeiras. Levantando a cadeira e tentando jogá-las em outros alunos. Nas duas ocasiões, segurei as cadeiras. No ano passado, um aluno portava maconha na sala de aula e estava a tentar fazer um cigarro com o mesmo, tive que interferir chamando a vice diretora. E na mesma escola, no final de 2022, um aluno acendeu e fumou um cigarro deste tipo dentro da sala de aula. As câmeras o flagraram, mas a gestão nem chamou o aluno para conversar. Devido a estas duas ocorrências, solicitei afastamento desta escola e este ano estou em outra, onde não há problemas com drogas, mas tem outros problemas, violência verbal, física”.
Uma outra professora também relatou um drama. “No início de março, na escola Juracy Neves de Mello Ferracciu, sofri calúnias dentro da sala de aula porque simplesmente eu apliquei uma advertência por escrito a um aluno que estava atrapalhando a aula com caixinha de som”, conta.
Em uma outra escola, a docente diz que apenas uma merendeira trabalha e “os alunos não conseguem se alimentar adequadamente, pois são 20 minutos de intervalo. E quando bate o sinal, existem muitos alunos na fila. E, com isso, eles ficam revoltados, estressados porque não se alimentaram”.
Neste outro caso relatado ao JP, o problema envolve os pais dos alunos. “Hoje (quinta-feira, 30), uma mãe de uma aluna foi até a escola. Diante da diretora queixou-se do professor em tom alterado, dizendo que mandou a filha faltar com respeito com o professor em sala de aula. A própria mãe pediu isso à filha. Sempre aos berros na frente da garota, falando que não acredita em professor”.
O JP recebeu mais denúncias. Na verdade, desabafos, pois os profissionais se mostram cansados de reclamam e providências não serem adotadas pelo Estado. “Essa semana uma aluna da minha escola postou no grupo da sala para as colegas trazerem faca para se protegerem. Inclusive ontem (quarta-feira, 29), teve caso aqui de aluno com canivete na mochila”.
“Vivemos, lamentavelmente, um período de incentivo ao armamento das pessoas e à banalização da violência, e isso afeta fortemente os adolescentes e os jovens. É necessário que existam nas escolas psicólogos capacitados a realizar um trabalho preventivo junto a esses jovens. É verdade que os professores têm sensibilidade para identificar potenciais agressores e até mesmo para dialogar com eles, dissuadindo-os, muitas vezes, de ações violentas. Porém, os professores são responsáveis por diversas classes com 35, 40 ou mais estudantes e não lhes cabe atuar nesse campo”, enfatiza a Professora Bebel, que redobrará as cobranças para melhorar o ensino e o ambiente escolar no Estado.
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