Natália Ferrari de Sousa Reis é um exemplo de quem corre atrás de seus sonhos com muita garra e determinação. A atriz, de 29 anos, é formada em Relações Públicas e Publicidade, Artes Dramáticas e já realizou diversos outros cursos voltados para a área de artes, como canto, dublagem, interpretação para cinema e teatro de Shakespeare. Piracicabana, a artista também já morou em Campinas, Curitiba, São Paulo, nos Estados Unidos e alguns meses na Europa. Ao longo de sua trajetória profissional, em aproximadamente 10 anos, levou a carreira de atriz em paralelo com uma carreira em escritório: trabalhou em multinacionais, produtoras, agências e no mercado cultural. Mas, o seu primeiro trabalho formal e profissional como atriz foi durante a estreia de Reis, novela da emissora Record TV – um divisor de águas em sua vida que a fez deixar o escritório para se dedicar a carreira de atriz em tempo integral.

Em 2022, o seu talento a fez ter o reconhecimento da Câmara Municipal de Piracicaba, onde foi homenageada com o Voto de Congratulações, pela representação piracicabana na arte nacional e de iniciativa do vereador Pedro Kawai (PSDB). Na época, o vereador destacou que a participação do jovem na cultura é fundamental na formação da sociedade e no dia a dia de uma comunidade. ‘Trazendo a história da Natália, a vitória da Natália e a exposição que ela está tendo hoje como um reconhecimento aqui na Casa, faz com que a gente tenha essa visão de que os jovens usem seu exemplo como referência para poder crescer e participar da vida cultural da sua cidade e transformar isso em profissão’.

No dia em que recebeu a homenagem na Casa de Leis, Natália estava acompanhada dos familiares e agradeceu as congratulações e falou de como o teatro foi importante para sua vida. ‘Espero que sirva de alguma forma de exemplo ou inspiraçãoeque mais jovens se envolvam com cultura. Acho que todas as crianças deveriam fazer teatro porque nos traz muito autoconhecimento, muita empatia, e espero que mais pessoas tenham essa experiência’.

Nesta conversa com o Jornal de Piracicaba, Natalia conta sobre a paixão pela profissão, suas personagens Sâmila e Arrava, dificuldades que sentiu como atriz do interior e, também, traz conselhos para quem pretende seguir a mesma carreira.

Como e quando surgiu a paixão por ser atriz? É difícil dizer, pois acho que ser artista sempre compôs uma enorme parte da minha personalidade. Eu amava jogos teatrais quando criança e apresentava peças para a família. Eu cantava e fazia shows imaginários pela casa o dia inteiro. Cresci querendo ser cantora, e meu encantamento com a atuação começou na época que eu fazia teatro na escola depois das aulas – estudava no CLQ na época. Aquelas aulas eram os momentos pelos quais eu mais esperava da semana e, muito rapidamente, entendi que os palcos eram meu lugar preferido. Apesar de estar interpretando outras pessoas, era quando eu me sentia mais como eu mesma e mais viva.

Você chegou a ser homenageada com Voto de Congratulações pelo seu papel na novela Reis, da Record, interpretando Sâmila. O que significa para você de ter esse reconhecimento de sua própria terra natal? É emocionante, pois é claro que eu sai de Piracicaba com esses grandes sonhos, de alcançar lugares profissionais de prestígio. Então poder sentir que estou no caminho certo é gratificante. Esta homenagem também me permitiu agradecer pela trajetória que fiz e fiquei muito feliz ao receber.

Você estreou como Sâmila na temporada “A Decepção”. Como foi sua reação quando soube que o papel era seu e como foi trazer a personagem à vida? Quando recebi o convite para interpretar Sâmila eu não tinha muita ideia da dimensão do papel. Posso dizer que “a ficha foi caindo” aos poucos, assim que comecei a receber os roteiros e trabalhar com preparadores de elenco da Record. Inicialmente imaginei que seria uma personagem pequena, mas mesmo assim já estava muito contente pela porta de entrada que representava. Quando entendi que Sâmila tinha um papel de protagonismo e um enredo cheio de desafios, fiquei lisonjeada pela confiança que depositaram em mimefiz de tudo para entregar o meu melhor e mais um pouco todos os dias. Acredito que foi essa dedicação e essa presença que me ajudaram a ser convidada a voltar nas temporadas seguintes, mesmo sem isso ter sido planejado de início.

Trazer uma personagem à vida é sempre desafiador e muito prazeroso. É como conhecer uma pessoa nova pela qual você se apaixona. Descobrir e criar os traços de sua personalidade, entender o que ela tem de similar ou diferente de você mesmo, criar o seu passado e entender como isso afetaoseu presente. Enfim, seria uma entrevista de horas se eu falasse sobre todas as etapas desse processo!

Em seu retorno em o Reis, você interpretou Arrava, neta de Sâmila. Como foi realizar essa transição de personagem? Foi importante ter alguns meses de preparação entre as duas personagens, pois toda aquela pesquisa e estudo começam novamente do zero. Conheci e criei laços com novos colegas de cena e novos preparadores de elenco, li novos roteiros, passei novamente pelo processo de caracterização (provas de figurino, cabelo e maquiagem). Como eram dois trabalhos na mesma novela e seguidos um do outro, fiz questão de estudar também as diferenças entre Sâmila e Arrava, para criar mulheres distintas.

Quais são as principais diferenças entre as personagens? Sentiu alguma identificação ou dificuldades em interpretá-las? Acredito que a diferença mais marcante está no fato de Sâmila ter crescido com segurança e confortoeuma mãe que cuidava eaprotegia muito, enquanto Arrava cresceu sem estrutura nenhuma, sem casa, filha de uma prostituta e em constante ameaça e perigo de vida. Ou seja, apesar de ambas terem passado por situações difíceis, vejo Sâmila mais doce e Arrava mais dura e forte, como uma sobrevivente. Me identifico com aspectos de cada uma delasetambém aprendi muito com ambas. Sâmila faria de tudo pela sua família, tem coragem e humildade para ajudaropróximo. Arrava é uma lutadora, valoriza o que é realmente importante na vida, é um porto-seguro e uma fonte de inspiração para os que estão a sua volta.

Sendo do interior, sentiu dificuldades em ingressar na área artística como atriz? Qual conselho daria para quem quer seguir a carreira? Tem uma dificuldade adicional para todos que estão fora do eixo de produção cinematográfica brasileira, atualmente São Paulo e Rio de Janeiro. É mais difícil que a pessoa tenha contatos trabalhando na área, conheça as boas escolas que conseguem te ajudar a ingressar no mercado, entenda o funcionamento de agências de atores, e por aí vai. Atualmente somos três piracicabanos no elenco de Reis, então não é impossível! Mas certamente é difícil e muito demorado. Aos que querem seguir por este caminho, recomendo pesquisar muito sobre qualquer curso e agência de seu interesse, pois existem muitas falsas promessas nesse meio. Tente conversar com pessoas que já passaram pelos lugares onde você quer estar. Esteja sempre buscando se aprimorar como ator, nunca pare de estudar. Procure não ficar sentado esperando as coisas acontecerem e o seu telefone tocar com uma grande oportunidade - mesmo atores reconhecidos estão frequentemente criando seus próprios projetos, produzindo conteúdos que os destacam. Esteja pronto para quando um bom trabalho aparecer, pois a impressão que você deixa vai te ajudar ou não a seguir carreira. Mas lembre que essa oportunidade pode demorar muito. Para mim, foram quase 10 anos. Ou seja, é importante também ter outras formas de se sustentar enquanto busca ser ator.

Durante a homenagem na Câmara Municipal, você agradeceu o teatro pela importância que teve em sua vida. Quais aprendizados o teatro trouxe para você? O teatro me ensinou sobre mim. Sobre quem eu sou e o que eu quero fazer nesse mundo. Me trouxe, mais do que qualquer outra coisa, empatia e humildade. Me tornou uma pessoa mais observadora e artística. Mais presente e feliz. Me proporcionou grandes amizades e aventuras. Eu realmente não sei quem seria a Natália sem o teatro.