ARTIGO

Movimentos e transformações

Por André Salum |
| Tempo de leitura: 3 min

A vida, em seus múltiplos fenômenos e aspectos, se apresenta como sucessão interminável de mudanças. Viver, portanto, é mudar, e tantos são os movimentos da existência que o transformismo é constante a nos acompanhar, fruto da força propulsora da vida. Dentre essas mudanças, existem as que ocorrem sem a participação direta de nossa vontade, que nos fogem ao controle e à escolha, diante das quais, para evitar maiores conflitos e sofrimentos, a aceitação parece ser a melhor opção. Mudanças externas, sejam familiares, sociais, econômicas, políticas, institucionais, às quais estamos sujeitos, fazem parte do que é chamado de carma coletivo, ou seja, injunções a que se submetem as coletividades obedecendo a leis evolutivas.

Uma mudança externa pode repercutir no mundo íntimo de cada um e nele provocar ou impulsionar transformações, dependendo do estado de consciência de quem a recebe e de como reage aos estímulos recebidos. Por exemplo, diante de um difícil desafio alguém pode se desesperar, se rebelar, se entristecer ou, ao contrário, decidir enfrentá-lo e reescrever o próprio destino a partir daquela experiência. Portanto, mais do que as ocorrências, é nosso estado interior e o modo como reagimos a elas que se torna determinante. Assim, uma situação aparentemente desfavorável (aparentemente porque contraria interesses, desejos e ambições do ego, mas nem sempre necessidades evolutivas da alma), se corretamente compreendida e aceita, pode se converter em impulso transformador e renovador.

Se estamos sujeitos a situações que independem da nossa vontade, muitas outras dependem de nossas decisões e das atitudes delas decorrentes, as quais são alimentadas e sustentadas pelo esforço, persistência e dedicação. Tais fatores são capazes de promover mudanças, ainda que graduais, no rumo de nossa vida, pois ao mudarmos a direção e perseverarmos no caminho, automaticamente mudamos o destino.

Parece importante reconhecermos que há transformações pessoais que demandam longo tempo e esforço a fim de serem logradas. Existem estruturas e instâncias psíquicas mais profundas – as quais trazem matrizes condicionantes de comportamentos, atitudes e reações – que não podem ser removidas ou alteradas com decisões superficiais, mas requerem um trabalho perseverante de autoconhecimento e autoeducação. Esse trabalho gera novas matrizes psíquicas, as quais induzem a novos comportamentos, saudáveis e libertadores. Esse processo faz com que antigos padrões disfuncionais de comportamento percam sua força e seu automatismo, até então condicionantes de vícios, compulsões, reações e conflitos.

As transformações mais profundas e de efeito prolongado requerem boa dose de paciência em relação a nós mesmos tanto quanto aos demais, sem expectativas imediatistas ou fantasiosas. Mesmo nos casos daqueles que se notabilizaram por mudanças radicais em suas vidas, tais mudanças foram fruto de longos processos de maturação e preparação até a eclosão dos resultados aparentes; foram igualmente sucedidas por um trabalho de sedimentação, cultivo e prática dos novos valores.

Tais casos nos inspiram a reconhecer que a longa jornada começa com os primeiros passos, e, onde quer que estejamos, podemos trabalhar em nós mesmos as condições favoráveis às mudanças almejadas, utilizando-nos do tempo e aproveitando as oportunidades que a vida oferece à nossa transformação para melhor, convertendo-nos, consequentemente, em colaboradores e semeadores da era nova que se anuncia.

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