ARTIGO

A Fraternidade Diante da Fome

Por Prof. Adelino Francisco de Oliveira |
| Tempo de leitura: 3 min

A Campanha da Fraternidade desse ano de 2023, motivada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), traz como tema “Fraternidade e Fome’, e como lema ‘Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Reconhecendo a urgência do problema social da fome, essa é a terceira vez que a Campanha da Fraternidade coloca o desafio do enfrentamento à fome como tema central para a oração, reflexão e ação dos Católicos, bem como da sociedade em geral, no tempo da Quaresma e ao longo de todo o ano litúrgico.

O texto base da Campanha da Fraternidade apresenta dados e informações preocupantes e gravíssimas, que situam a fome como um dos problemas mais urgentes que afligem a população em situação de maior vulnerabilidade social no Brasil. Com coragem profética, a Campanha da Fraternidade faz a denúncia de que a fome é um drama perverso que assola o cotidiano de milhões de brasileiros. Ultrapassando a dimensão da denúncia, a CF-2023 também aponta saídas, a partir da cultura da solidariedade e da implementação de políticas públicas comprometidas com a construção de uma sociedade justa, ética e profundamente solidária.

Trinta e três milhões de brasileiros passam fome! Esse é o tamanho da tragédia social que se tornou a marca de uma triste e perversa realidade nacional. A fome é uma violência brutal que se levanta contra a dignidade da vida., que é dom de Deus. Com fome não há possibilidade alguma de que a vida se desenvolva, que as potencialidades humanas floresçam. É insuportável e desumanizadora a dor causada pela fome. É simplesmente inaceitável que alguém passe fome. Diante da fome de trinta e três milhões de pessoas a sociedade tem urgência em se mobilizar. A fome precisa ser saciada hoje! Combatê-la é, sem dúvida, o problema mais urgente e central que a sociedade brasileira precisa enfrentar agora, destaca a Campanha da Fraternidade em seu texto base.

No Brasil a fome e a insegurança alimentar tendem a ser invisibilizadas. As pessoas passam fome diariamente e cerca de cem milhões vivem sem saber se conseguirão comer uma única vez ao longo do dia. Mas essa multidão de famintos, que alcança a casa milhões de brasileiros, não ocupa os noticiários. A fome então é escondida, silenciada, invisibilizada, como se não existisse, como se não fosse o grande flagelo da sociedade, decorrente diretamente da política econômica neoliberal, que só privilegia os interesses do mercado, deixando a população literalmente abandonada, vivendo em situação de extrema e perversa vulnerabilidade. A fome é consequência de uma política da morte.

Sob a inspiração do Evangelho narrado pela Comunidade de Mateus, reportando à cena do Sermão da Montanha e do evento da multiplicação dos pães, a Campanha da Fraternidade propõe e anuncia o caminho da comunhão, da partilha e da solidariedade como estratégias para se suplantar a lógica do pecado social da indiferença e da brutal injustiça de se relegar tantas pessoas à indigência, abandonadas para morrer de fome. Jesus convoca e ordena aos seus discípulos a darem, eles mesmos, alimento à multidão faminta. Quem tem fome não pode ser dispersado e abandonado. A fome precisa ser saciada na hora. Essa é a responsabilidade de toda discípulo de Jesus. Essa é a responsabilidade de toda a sociedade. Na ação de Jesus, multiplicando e partilhando pães e peixes, a saída para a fome encontra-se em uma outra economia, aquela que divide os bens produzidos, rompendo com a lógica da indiferença e da acumulação privada. Fundamental que a CF-2023 encontre eco nas diversas comunidades cristãs, criando um movimento de solidariedade e de formação cidadã.

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