Uma das minhas atividades favoritas desde a tenra juventude era participar ativamente da programação cultural do Sesc Piracicaba. Mesmo minha família ou eu não sendo da área do comércio, não tendo uma ligação "oficial" com a instituição, eu aprendi a me apaixonar por aquele ambiente cheio de arte e aberto a tudo e a todos.
Além de poder curtir shows de artistas incríveis de potência nacional, o Sesc também sempre teve uma visão ampla de como é possível -- e necessário -- inserir na programação os artistas genuinamente piracicabanos.
E essa proximidade entre o público de Piracicaba e os fazedores da arte local foi como uma escola para eu entender, cada vez mais, que a inspiração necessária para minha vida artística e cultural estava mais perto do que eu imaginava.
Mas uma atividade específica, que acontecia às quintas-feiras na unidade, fez toda a diferença para a minha geração: primeiro como Quintas no Sesc e depois Quintas de Canto.
Funcionava assim, todas as semanas, artistas piracicabanos se apresentavam ali, enchendo a comedoria que se tornava um espaço cultural riquíssimo e cheio de vigor e alegria.
Depois de muitos convites, resolvi ver o que era aquele "zum zum zum" que todo mundo falava que acontecia de quinta-feira lá no Sesc. E me impressionei!
A primeira vez que fui ao Quintas de Canto, se bem me lembro, foi para ver a cantora Lu Garcia, piracicabana da gema. Logo na entrada, já percebia que o local estava mega lotado.
Gente ocupando toda a comedoria e já posicionada nos andares superiores para poder assistir ao show. Lu, lindíssima como sempre, levantou um público bem misto: jovens, famílias, idosos, estudantes, trabalhadores, grupos de amigos, casais de namorados.
A atmosfera daquele lugar me encantou de uma forma que nunca havia sentido antes. E foi a partir dali que comecei a frequentar o Sesc todas as quintas e fui conhecendo, aos poucos, a nata artística da cidade, da velha guarda aos novos talentos que surgiam dia a dia.
Do samba de Zazá e Sandra Rodrigues à seresta de Tereza Alves, passando pelo blues da Rio Grande, a MPB da Maracangalha e Márcio Sartório, o rock da Royales e da Pa Moreno, o choro da Água de Vintém, o clássico pop do Ternamente Eclético, entre muitos e muitos outros.
Bastava comparecer às quintas no Sesc Piracicaba, de olhos fechados, que era garantia de conhecer um novo nome da música piracicabana. As Quintas de Canto eram uma espécie de selo de qualidade e todos os músicos locais queriam um dia fazer daquela festa.
Até que eu mesmo também subi naquele palco, junto com minha banda, Os Republicados. Ôh, sorte!
Segundo minhas pesquisas no material de divulgação do Sesc Piracicaba, a última edição do Quintas de Canto aconteceu em julho de 2015.
Depois disso, o projeto musical das quintas-feiras foi mudando de nome e se mesclando a outros projetos.
Não que o Sesc deixou de prestigiar os artistas piracicabanos, muito pelo contrário. Foram e são inúmeros artistas e bandas da cidade que continuam fazendo parte da extensa programação da entidade.
Porém, a frequência não é mais a mesma. Aquela tradição das quintas-feiras já não existe mais como era antes. E temo dizer que, junto com ela, uma geração de artistas ficou órfã de uma agenda mais fiel à música piracicabana.
Assim, fico pensando! Será que aquele jovem Rubinho, nos dias de hoje, teria o mesmo conhecimento da importância da música piracicabana e seus artistas sem uma programação voltada a eles?
Fica meu apelo ao Sesc Piracicaba pela volta do Quintas de Canto. Ao público e aos artistas, que cobrem mais, não só do Sesc, mas do poder público por um espaço maior para a difusão da música feita em solo piracicabano.