ARTIGO

Abuso

Por Rubinho Vitti | 20/02/2023 | Tempo de leitura: 3 min

"Mulher é morta a facadas em condomínio."

"Mulher é encontrada morta em quarto de hotel."

"Mulher é morta e homem preso por feminicídio."

"Mulher é esfaqueada pelo ex enquanto buscava filha em escola."

Essas são apenas algumas das manchetes sobre crimes contra mulheres que ocorreram nos últimos meses em Piracicaba.

De acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada dois dias em São Paulo durante o ano de 2022. Isso significa que 187 mulheres morreram apenas pelo fato de serem mulheres.

Boa parte dessas mulheres foram vitimadas por namorados, maridos ou ex-companheiros. Basicamente, elas morreram por terem tomado a decisão difícil de deixar relacionamentos tóxicos ou por não terem forças para fazer isso.

Aquela máxima do "se correr o bicho pega se ficar o bicho come" é mais do que verdadeira, mas, no caso, é o bicho-homem.

Quem não conhece alguém que já passou por um relacionamento abusivo?

Sabe quando você tem uma amiga que começa a namorar e de repente some? Ou aquela colega de trabalho que está feliz porque começou um relacionamento e depois de um tempo começa a ficar estranha, falta do serviço e muitas vezes simplesmente pede demissão, não porque ela quer, mas porque o companheiro "acha que é melhor ela ficar em casa"?

Todo mundo está propício a ser levado por um relacionamento abusivo, seja casais hetero ou homoafetivos -- falo por experiência própria. E se é fácil entrar, sair dele pode ser um inferno!

Um relacionamento abusivo começa igual a qualquer outro. São dias ensolarados, apaixonantes. Parece que você finalmente encontrou o amor.

Aos poucos, começa um processo de posse. É aquele incômodo com a presença de amigos. Sair de casa fica cada vez mais raro com a desculpa de que "é muito melhor ficarmos juntinhos só nós dois".

Até mesmo a família começa a ser um incômodo. "Por que sua mãe liga tanto para você? Você não tá crescidinho para ficar sendo paparicado pela mamãe?".

O celular também vira uma ameaça. "Tá olhando o que nesse celular? Deixa eu ver o que você tá vendo"

E é assim que as primeiras brigas começam e, no fim delas, o abusador ainda convence que é do abusado a culpa por tudo o que ocorreu, embaralhando sua cabeça.

Nessa hora, a vítima de um relacionamento deste tipo nem sempre sabe que está, de fato, sendo manipulada.

A violência psicológica é invisível e constante. "Vai na academia para que? Se mostrar para os outros?", diz, ao mesmo tempo que solta um "você engordou, né?". Aliás, existe todo um jogo de elogiar para depois destruir. Isso vai confundindo cada vez mais a pessoa.

No fim, a ideia é fazer a vítima achar que o máximo que ela conseguiria se relacionar era com o abusador e mais ninguém e que ele estaria fazendo um favor de ser o companheiro dela.

Sem amigos, sem família, com o psicológico totalmente abalado, com medo e acuada, a vítima vai se entregando cada vez mais ao controle de seu parceiro abusivo.

Muitas vezes, o caminho do relacionamento ultrapassa a linha do psicológico e começa a violência física. O abusador passa a ser mais intenso e qualquer deslize é motivo para bater, gritar e humilhar. O resultado disso já sabemos!

É preciso ficar atento aos sinais: falta de respeito, ciúmes excessivo, desconfiança sem motivo, dependência financeira, dependência afetiva, chantagem emocional... são muitos pontos que preenchem as lacunas de um relacionamento abusivo.

Muitas vezes, a vítima está tentando gritar por ajuda, mas não consegue. São esses gritos silenciosos que moram nos detalhes. E é preciso muita atenção para poder escutá-los.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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