ARTIGO

Carnaval e a contagem regressiva

Por Ana Carolina Carvalho Pascoalete |
| Tempo de leitura: 3 min

Começamos o mês de fevereiro e inicia-se a contagem regressiva para o grande evento carnavalesco que contagiará todo o Brasil. Carnavalizar é um estado de desordem, de subversão e se pensarmos os onze últimos meses, que seguimos as regras instituídas pelo social em nossa sociedade,  o período do carnaval pode ser encarado como uma espécie de libertação, onde os indivíduos podem se permitir serem o que quiserem, soltando -se a entrarem em uma nova realidade. Os problemas e demais dificuldades rotineiras da realidade diária que vivenciamos podem esperar o feriado do carnaval acabar como ultimo carro alegórico passando na avenida representada pela vida. Durante o fim de semana do carnaval é permitido fantasiar, falar mais alto, se divertir e se jogar na alegoria.

O pai da psicanálise Freud em sua teoria abordava que a substituição do brincar vivido pela criança quando expõe seus brinquedos compartilhando suas fantasias, ponderado pelos adultos que inibem suas fantasias, pois com a maturidade, a vida adulta nos exige assumirmos compromissos e com isso vamos construindo uma identidade e passamos a temer o olhar dos demais sobre nós mesmos. Somos cobrados o tempo todo e durante o período do carnaval sentimos que podemos liberar nossos mais profundos e secretos desejos sem o peso do olhar do outro. Desta maneira podemos identificar que o carnaval provoca uma quebra na ordem social e permite uma inversão de papeis e valores, representados pela mistura das cores, classes sociais, diversão e cultura e o importante é que nesse período tudo é permitido.

Para a psicanálise, a fantasia atrai o olhar do outro, chama a atenção, e é possível desfrutar de tanto prazer e felicidade, de maneira que o desejo e a realidade se misturam, devido a isso, o inconsciente pode ultrapassar os limites da sociedade e das cobranças pessoais. Ainda as fantasias carnavalescas permitem a exposição de muitos conteúdos que na maioria das vezes ocultamos durante nossa existência. As mascaras assumem os lugares das nossas dissimulações sociais, pois com todos os adereços usados disfarçamos e ou revelamos nossos segredos profundos, podendo brincar ou driblar nossos medos, independente de sermos lembrados ou não no dia seguinte.

 Porém, somente temos a temer os exageros, para não termos que nos deparar com as angustias do cotidiano, fazendo o percurso contrario no nosso dia a dia por todos os prazeres que abdicamos em prol da nossa segurança e sobrevivência. Pois o carnaval no âmbito coletivo, pode nos promover a loucura do âmbito individual, colocando em risco a estrutura social, pois podemos nessa ocasião dar vazão a tudo o que fingimos não ser para sermos aceitos pelos nossos pares e assim garantir o pão de cada dia e o tão recompensado amor que buscamos em nossas relações.

Vivemos em meio a valores sociais que os indivíduos masculinos tendem a sufocar sua sensibilidade e seu desejo de enfeitar-se, porque são características vistas como femininas. Enquanto os indivíduos femininos tende a conter o seu desejo de ser o objeto de desejo e de prazer. E mais mascaras, continuaremos mascarando nossos incontroláveis anseios e curiosidades sexuais com o brilho do reflexo da sociabilidade e do respeito ao próximo. Desta forma seja você o Deus grego que escolher assumir nesse carnaval, lembre-se que são apenas três dias. Desta forma tornando seus desejos miseráveis, sua condição humana miserável nos próximos dias do restante do ano. Perceba como os seres humanos são seres absurdamente contraditórios, capazes de imensuráveis resignificações.

Tenha você à preferência que for, ao escolher aproveitar seus dias de carnaval, faça sua escolha valorizando a beleza de que ao fim do feriado será necessária a consciência de retomar a batucada da rotina convencional.

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