Se pudesse, faria do artigo de hoje colcha de retalhos com tantas mensagens recebidas. Em respeito ao leitor, repito o título. Se bem lê, entende, num momento de acontecimentos diversos, muitos deles tristes, outros tantos inaceitáveis, sugerindo artigos para ler com olhos e mente desanuviados.
Ler, entender, sentir, como tantos sentem, indo além da leitura.
Zezé Palo, professora em nível de Pós-Graduação, em São Paulo, deixou-me recado: “Que artigo maravilhoso e fiel sobre São Paulo! Propague mesmo este sentimento da diversidade e polivalência da cidade. Parabéns pela clarividência de seu olhar cosmopolita!”.
Obrigo-me, então, a repetir o título insistindo na esperança e por sentimentos mais amplos que os meus, como os observados em Rosa Weber, Ministra-presidente do STF, discreta, elegante, lúcida, rigorosa nos princípios e fiel cumpridora deles. Excelentíssima Senhora. Nela, deposito esperanças sem limites na prática da Verdade e da Justiça.
Alexandre de Moraes, seu par, paulista como eu, aviltado por muitos, a meu ver, injustamente, ergue com a Senhora Presidente, a clava forte da Justiça e chama pelos filhos da Pátria, a que vejam, entendam, sintam e, com coragem, não fujam à luta em respeito ao Estado Democrático de Direito.
Prova de respeito à liturgia do cargo. Mantêm-se altivos diante da infâmia e revelam ter aprendido com os pais, lições de vida, devotamento à Pátria, deferência às instituições e à autoridade, não importa quem seja.
Há, por toda parte, ex-alunos meus investidos em cargos como estes. Eu os reverencio. Meus ex-alunos, os conheci na juventude. Se merecedores ou não da deferência, a história dirá. Imbuídos de autoridade, neste momento, merecem. Se sabem ordenar, dialogar, decidir, atuar, fazer-se obedecer, só no futuro haverá resposta. Sobre todos, a Constituição da República a que, indistintamente devemos obediência e cuidado nas ações.
Nesta hora, vejo as homenagens que se prestaram em todo o Brasil à Glória Maria. Em diferentes meios, sociais, aí está ela, merecedora de aplausos. Emocionado, observo. Ninguém fez melhor que a Rede Globo! Talvez seja este padrão de qualidade a tormenta de muitos. Se não gosta da emissora, recomenda o bom senso, evite ver, sem lançar mão de adjetivos torpes, que depreciem ou desrespeitem.
Os profissionais de informação são, na democracia, farol e guia. Não fossem eles em suas investigações, quanta coisa sob tapetes! Se ético, respeita o leitor e informa com precisão e verdade.
Fico a imaginar como atuaria Glória Maria diante do descalabro, da destruição, do desrespeito à história, à arte, ao patrimônio público, a uma cidade criada para ser única e, depois, tombada para jamais ser alterada no seu conceito e na sua forma em benefício das gerações que nela vivem e das que virão.
Dignos, a Ministra e seus pares não fugiram à luta! Os líderes de outras instituições, igualmente. O Judiciário, guardião de tudo, deu provas de seu valor e de sua força.
Chego, embora não desejasse que assim fosse neste afastar dos olhos a névoa que os envolve, à questão dos yanomamis. Recebo informações diversas. Fico com indigenistas, repórteres cinematográficos, jornalistas sérios, sem importar qual rótulo trabalhista os envolve e, revoltado e triste, colho as notícias, interessado tão somente na sua capacidade de ver, de pensar, de escrever, de informar.
Imagens provam a cruciação de um povo meu, destratado, desrespeitado, crianças à míngua, enfermas muitas, mortas outras tantas, vitimadas pela ganância e pelo mal que os maltratam em sua porção de terra.
Florão da América, berço esplêndido onde tinham suas ocas com redes estendidas, onde faziam suas danças, orientavam seus filhos na tradição perfeita de sua cultura em favor da natureza... Onde os manifestantes cheios de sentimentos de amor à pátria? É num gesto de grito diante da dor que ele lateja! Na ação, na verdade da fala, na solidariedade, no acolhimento.
Em viagem pelo Brasil, Mário de Andrade chamou a atenção para a identidade brasileira e os fenômenos que fazem parte dela:
“Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus!/ muito longe de mim, / na escuridão ativa da noite que caiu, / um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos, / depois de fazer uma pele com a borracha do dia, / Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu...”
Eu sinto por ele. Eu vivo com ele. Eu clamo por ele. Se dentre os leitores haja quem não se incomode, quem me explica?
A morte de Glória Maria possibilita conhecer e reconhecer a grandeza de seu trabalho até mesmo entre aqueles que, tendo acompanhado a repórter em sua carreira, possam supor que não tenha sofrido discriminação e desrespeito.
Os repetidos crimes de injúria racial praticados no país a cada instante sempre existiram. O desrespeito aos povos originários, aos nordestinos, às mulheres, deve, a qualquer custo ser reprimido.
Garoa de meu São Paulo, costureira de malditos, por que tanto ainda se esconde?