O neofascismo se tornou uma ameaça presente e muito real para as sociedades democráticas. É quase inacreditável que esse fantasma, que assolou o mundo no decurso da primeira metade do século XX, culminando com a 2ª grande guerra, tenha voltado a ter espaço e adeptos no cenário político do contemporâneo. O neofascismo é a expressão do mal radical, que se levanta contra o projeto de um mundo livre e racional, sedimentado em critérios éticos e no programa dos direitos humanos. A formação para a cidadania política é o caminho para libertar o mundo das ameaças sombrias e nefastas do neofascismo.
No plano político o neofascismo intenta contra a democracia, instaurando um estado autoritário e policial. No campo dos valores e da cultura, o neofascismo se apresenta como conservador, defensor de uma moral fechada e conservadora. Mas tudo não passa de mera hipocrisia e muito cinismo. No final o neofascismo representa uma visão atrasada e retrógrada de valores e de relações humanas, advogando em defesa do racismo e de todos os tipos de preconceitos e discriminações. No aspecto econômico, o neofascismo levanta a bandeira do ultraliberalismo, atuando em prol exclusivamente dos interesses do mercado. O resultado é o agravamento das injustiças sociais e ambientais, em um Estado de perpétua vigilância e controle, gerando opressão e exploração.
É evidente que o neofascismo não apresenta sua face extrema e aterradora de pronto, revelando seu real significado e representação, que é a política da morte. Por meio de um discurso sempre velado e cheio de metáforas e interditos, o neofascismo procura avançar no processo de alienação política, para ganhar mentes e corações. O negacionismo e revisionismo históricos, o obscurantismo contra os avanços científicos, a disseminação em larga escala de mentiras (fakenews) e pós-verdade, a produção cotidiana de desinformação são expedientes e estratégias comuns para convencer e conquistar as massas, obtendo apoio ao projeto de poder, que produção tão somente pobreza e morte para a população, sempre privilegiando o grande capital em uma perversa lógica de concentração de riquezas. Curvar-se aos interesses do mercado significa fechar os olhos e abandonar as demandas do povo.
O grande desafio do contemporâneo é superar a ameaça do neofascismo, fortalecendo a compreensão social do lugar central da democracia e dos direitos de cidadania. Para tanto é urgente a construção de amplo movimento de educação popular, visando a formação para a cidadania política. Não basta repassar conteúdos, em uma perspectiva bancária de educação. A dinâmica de ensino-aprendizagem deve contemplar o desenvolvimento do pensamento crítico e problematizador, ancorado no mais profundo senso ético de justiça.
Ensinar a ética, desde a mais tenra idade, como critério de julgamento e ação é o caminho para se derrotar as pretensões políticas do neofascismo. A educação é o mais potente recurso para se construir consciências livres e comprometidas com a ética da justiça e da solidariedade, base para sociedades realmente democráticas. A formação para a cidadania política é mesmo urgente e deve compor todos os currículos. Para além dos conteúdos, os jovens estudantes precisam apreender o discernimento ético, o compromisso com a justiça social e ambiental. Somente assim o neofascismo será, de fato, derrotado.