Sobre Praças e Cidadania

Por Prof. Adelino Francisco de Oliveira | 28/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Para que serve uma praça? Já se perguntou? Quantas praças existem na cidade de Piracicaba? Para você, a praça é um local de encontro afetivo? Ou um espaço para longos e interessantes diálogos com amigos? A praça seria o local de debates políticos ou de conversas fortuitas e devaneios? A praça se constitui como um lugar para entretenimento e lazer, um jogo de tabuleiro ou comer um lanche sem pressa? Ou a praça é o espaço da pregação, da defesa da fé, onde você busca converter pessoas para sua concepção religiosa? Quantas vezes você esteve frequentando uma das praças de Piracicaba nesse último ano, por exemplo?

No contexto da Grécia dos filósofos, na Antiguidade, a praça, designada de ágora, era o espaço por excelência do encontro, do diálogo e do debate intenso de ideias. A ágora grega ficava localizada na acrópole, a parte mais alta e central da cidade. A experiência de ter tempo livre, o ócio, para confrontar ideias na ágora, na praça, foi um dos pontos mais determinantes para o florescimento do pensamento filosófico. O ócio e a ágora. O tempo livre e a praça. A filosofia. A praça como o lugar singular para o diálogo franco e profundo sobre os temas mais fundamentais da vida.

O apóstolo Paulo de Tarso, com a missão de levar a mensagem do cristianismo para todos os povos, percorreu distantes caminhos, para muito além dos limites geográficos de Jerusalém e de Israel. Em Atenas, na ágora, Paulo falou aos gregos sobre o Deus desconhecido, pregando a ética do amor ao próximo e ensinando a verdade que é Jesus Cristo. Na praça pública, Paulo, com ousadia e visão universalista, tomou parte nos debates, apresentando o Evangelho.

Recentemente, visitando o Uruguai, pude permanecer por um interessante período monumental cidade de Montevidéu. Fiquei mesmo impactado e encantado como a praça ocupa um lugar central no cotidiano da vida das pessoas por lá. Em Montevidéu há uma verdadeira ocupação cidadã das praças. E são muitas as praças, todas iluminadas, bem cuidadas. Observei que a praça passa a ser o lugar do encontro, da leitura, da conversa alegre, do protesto político, de beber chimarrão (té), de ouvir música e até de dançar. Sejam idosos, jovens ou crianças, todos disputam a praça como um direito, como o lugar da cidadania.

E as praças de Piracicaba, como estão? Servem para quê e para quem? É muito difícil e dispendioso o trabalho de zeladoria das praças? Tenho percorrido a cidade e reparado no nível de abandono e degradação das praças por aqui. Algumas não têm nem bancos! Quase todas, sofrem com a ausência de paisagismo e com o mato que cresce livre, sem poda nem cuidado. Frequentar algumas praças por aqui pode ser quase uma aventura, expondo-se a diversos perigos, em locais sem iluminação, com calçamentos esburacados e sem nenhuma segurança. Definitivamente tais praças não convidam para o convívio cidadão.

É possível aprender alguma coisa sobre o sentido das praças com os antigos gregos e também com nossos vizinhos uruguaios de Montevidéu? O que é preciso ser feito para que em Piracicaba todos tenham o direito à praça, o direito à cidade? Viver a praça é também viver uma perspectiva aberta e democrática de cidade. Bancos, flores, árvores, música, transeuntes, burburinho, livros, banca de jornal, reflexão, odores, gastronomia, crianças, cachorros, gatos, passarinhos, seus amigos, jovens, mulheres, homens, tudo remete à vida na praça e, por mais singela que seja esta reflexão, a alegria de caminhar neste espaço público nos traz a ideia de pertencimento, comunidade, partilha, afeto, encontro, liberdade, cidadania! 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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