2023: o golpe da ratoeira

Por José Osmir Bertazzoni | 27/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

“Marcha soldado cabeça de papel, se não marchar direito vai preso pro quartel. O quartel pegou fogo, a polícia deu sinal. Acode! Acode! Acode! A bandeira nacional.”

Essa “letrinha”, tocada e cantada pelas crianças nas escolas, tem um significado político social muito forte. O soldado nesse caso é o símbolo da pátria fascista que sustenta essa empáfia miliciana, e não os profissionais como são e devem ser os soldados da pátria, diferente dos golpistas, que ao longo da história patrocinaram ataques contra a democracia.

A verdadeira história:

O primeiro golpe militar no Brasil nós conhecemos nos livros de história e na sala de aula por "Proclamação da República", que ocorreu no dia 15 de novembro de 1889, fato que verdadeiramente foi um golpe militar que pôs fim ao regime monárquico no Brasil. O líder do golpe foi o Marechal Deodoro da Fonseca.

Após o golpe de 15 de novembro, Deodoro, o monarquista que derrubou a monarquia, acabou sendo o chefe interino da república até que esta tivesse uma Constituição. O texto constitucional republicano foi aprovado em 14 de fevereiro de 1891. Deodoro da Fonseca foi eleito indiretamente o presidente da República.

Em 03 de novembro 1891 Deodoro deu outro golpe de estado no presidente Marechal Floriano Peixoto, Deodoro da Fonseca renunciou ao cargo de presidente diante da reação da marinha brasileira, que ameaçou bombardear a cidade do Rio de Janeiro, caso o presidente continuasse no cargo. Essa reação da marinha é conhecida como a Primeira Revolta Armada na terra tupiniquim contra as milícias do Rio.

A Revolução de 1930 foi um golpe de caráter militar encabeçado por lideranças dos estados da Paraíba, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que juntas lutaram contra todo o restante do país elegendo indiretamente Getúlio Vargas como presidente do Brasil.

Registra-se que os mesmos militares/milicianos que apoiaram o golpe de 1937, tiraram Vargas do cargo de chefe de Estado em 1945. Vale lembrar que o contexto do golpe que depôs Vargas do cargo de presidente em 29 de outubro de 1945, era o do fim da Segunda Guerra Mundial.

Golpe de 1964: João Goulart, nos anos de 1963 e 1964, apresentava uma postura polêmica ao incitar militares de patente baixa, como sargentos, a se insubordinarem contra a hierarquia militar.

Tivemos agora, em 08 de janeiro de 2023, a mais estúpida tentativa de golpe que será conhecida na história como “A Revolta da Ratoeira”; digo isso porque ao invadirem como ratos, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto, com atos criminosos de vandalismo e destruição, ficaram aprisionados (mais de mil e setecentos ratos que se autodenominam “patriotas”) dentro do “queijo”.

Notem que o principal da letra musical infantil é que, “marcha soldado cabeça de papel” não é uma criança com boné de papel na cabeça, mas um ser descabido de cérebro com cabeça de papel. Logo, a letra é uma crítica as repúblicas de bananas instaladas pelas ditaduras militares na América Latina.

“Se não marchar direito vai preso pro quartel” não é no sentido meramente disciplinador, mas sim de coerção àqueles que não respeitam a hierarquia militar, cujo Comandante maior é o Presidente da República, eleito pelo processo eleitoral democrático aplicado a todos.

No trecho, “O quartel pegou fogo”, não se observa o sentido literal da chama, mas sim de rebelião, de afronta a hierarquia e a Ordem Constitucional.

“Nosso ex-presidente fujão armou a arapuca e pegou o avião”, isso não é texto da música, mas combina perfeitamente com a covardia de militares e civis que não sabem reconhecer a derrota nas urnas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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