Perseverar no bem

Por André Salum |
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Na vida cotidiana, nosso empenho por uma vida íntegra e pela correta realização das tarefas que nos cabem frequentemente são testados e desafiados por situações e influências tais que, se não perseveramos no bem, nos desviam do caminho e nos levam a condições de onde, às vezes, somente sairemos à custa de esforço e sofrimento.

A fim de evitarmos tais dissabores, parece-nos importante reconhecer o valor da perseverança – firmeza de propósitos aliada à paciência e à persistência na superação dos desafios e obstáculos que fazem parte da experiência evolutiva em que estamos imersos (perseverança que não se confunde com teimosia, a qual é obstinação em ações e atitudes incorretas ou desarmônicas, requerendo ser reconhecida e corrigida).

Tomemos alguns exemplos do cotidiano. Quando, influenciados pelos convites ao abandono do dever, perseveramos um pouco mais, logo as forças se nos renovam e o entusiasmo volta a ser sentido, trazendo-nos a satisfação de não termos desistido. Quando, assediados pelas tentações – reflexos de nossas próprias tendências e sombras – resvalamos para condutas indignas, se perseveramos na obediência à própria consciência, percebemos os impulsos menos felizes arrefecerem, dando lugar ao equilíbrio restaurado, poupando-nos ações das quais, cedo ou tarde, nos arrependeríamos. Quando a impulsividade nos impele a reações agressivas e violentas, se, após breve silêncio, perseveramos na atitude atenta e ponderada, em poucos instantes podemos retornar à serenidade momentaneamente ameaçada. Quando, após esforço e dedicação, tropeçamos e caímos em velhos erros e vícios, se perseveramos no ideal e no trabalho, sentimos novas forças a nos reerguerem, a fim de prosseguirmos, sem olhar para trás.

Nessa jornada, a adesão a uma proposta espiritual como roteiro de vida torna-se importante, a fim de que, nos momentos mais difíceis e desafiadores que todos enfrentamos, possamos nos valer das instruções recebidas, aplicando-as na realização das tarefas que somos chamados a executar.

A perseverança no bem, a fim de não se abalar, requer outras virtudes e valores que a sustentem e lhe deem apoio: a fé, combustível da alma; a confiança de estar seguindo na direção correta, dada pelas instruções espirituais que se tenha aceitado e acolhido; a paciência, sem a qual torna-se impossível superar os períodos problemáticos e as fases menos agradáveis da jornada; a atenção e a vigilância, necessárias para se detectar e corrigir eventuais desvios de rumo; a humildade, fundamental para reconhecermos todas as vezes em que frustramos a nós mesmos quanto a objetivos e metas, dispondo-nos a recomeçar tantas vezes quantas se façam necessárias.

Na condição atual do mundo, em que conflitos, crises, desafios e problemas complexos se sucedem diariamente, a perseverança no bem é condição indispensável à sustentação da paz e à tranquilidade da consciência, pois a cada desafio vencido, a cada passo dado, a cada conquista interior de virtudes e de valores, expressos em ações corretas e benéficas a si e aos demais, mais firme e segura se torna a caminhada, rumo à plenitude que a todos nos aguarda.

Em tal processo de autoconhecimento e de autotransformação, podemos nos inspirar na Natureza, a qual nos concede exemplos diários de paciência e perseverança inesgotáveis, pois, mesmo explorada, desrespeitada e agredida, se renova e renasce a cada dia, convidando-nos silenciosamente a fazermos o mesmo.

Comentários

1 Comentários

  • Rovilson Ribeiro 30/01/2023
    Prezado André Salum, seus textos sempre nos trazem conteúdos e reflexões importantes, que nos ajudam na caminhada para sermos seres humanos mais conscientes e espiritualizados. Parabéns! Gratidão!