Aprender grego é, além de descobrir um novo idioma, realizar uma verdadeira viagem no tempo, cultura e tradições de um povo. Chamada de berço da civilização ocidental, a Grécia também é lar de histórias que seguem vivas até hoje como lições e aprendizados para povos do mundo todo. Hoje, você irá descobrir alguns dos principais contos da mitologia grega para se divertir e aprender ainda mais!
Os 12 trabalhos de Hércules
Antes de começarmos com a primeira história, cabe um aviso. Hércules, é como os romanos chamavam um dos semideuses mais famosos da Grécia. Os gregos propriamente ditos o chamavam de Héracles. Por convenção e difusão, vamos utilizar o nome romano para contar a história.
O herói grego possuía força e inteligência acima da média dos outros humanos, além de um forte senso de justiça. Seu pai era Zeus, que o considerava seu filho preferido -- fruto de um caso extraconjugal com uma mulher comum.
Todo esse carinho despertou o ciúme de Hera, a esposa de Zeus, deusa da família, símbolo da monogamia e fidelidade. Para se vingar, ela amaldiçoou o herói enviando Atê, a deusa da loucura, para possuí-lo. Em devaneios de insanidade, Hércules imaginou que estava cercado de inimigos e desferiu flechas a esmo, para todos os lados.
Quando recobrou a consciência, o herói percebeu que, na verdade, havia matado os próprios filhos. Atormentado, como não poderia deixar de ficar, ele foi até Delfos para consultar o Oráculo e descobrir como se redimir de seu erro. A resposta? Hércules deveria servir ao rei de Micenas, o temido e odiado Euristeu.
O rei enviou o enviou para realizar um trabalho monumental, composto por 12 missões consideradas impossíveis. No entanto, o herói grego superou todas em uma jornada que duraria uma década inteira. Eis os trabalhos que Hércules realizou:
1. Matar o Leão de Nemeia, cuja pele era indestrutível.
2. Eliminar a Hidra de Lerna, monstro com dezenas de cabeças que se autorregeneravam.
3. Capturar a Corça de Cerínia, o mais rápido de todos os animais.
4. Caçar um javali bizarro que aterrorizava a região de Erimanto, na Arcádia.
5. Limpar os estábulos do rei Áugias, dono do maior rebanho do mundo.
6. Derrubar as aves de penas cortantes do Lago Estínfale.
7. Capturar o touro cuspidor de fogo da Ilha de Creta.
8. Domar as quatro éguas do rei de Trácia (elas se alimentavam de carne humana).
9. Roubar o cinturão mágico de Hipólita, a rainha das Amazonas.
10. Roubar o gado de Gerião, um monstro de três cabeças e seis braços.
11. Colher as maçãs de ouro do Jardim das Hespérides, protegido por Hera.
12. Capturar Cérbero, o cachorro de três cabeças que guardava a entrada do inferno.
Édipo
O conto de Édipo é um dos mais famosos na mitologia grega, sendo utilizado até na psicanálise, na figura do “Complexo de Édipo”. Também é muito presente na cultura popular.
A história conta que Édipo era um príncipe, filho de Pólibo e Periboea. Um dia, o jovem recebeu uma profecia assustadora: no futuro, ele mataria o pai e se casaria com a própria mãe. O príncipe ficou aterrorizado com a ideia da profecia se cumprir e decidiu fugir para evitar que o destino profetizado pelo oráculo se cumprisse.
Saiu de casa e rumou pelas estradas, mas logo no início de sua jornada, Édipo deparou-se com um estranho, um homem que tentou atropelá-lo com uma carruagem. Irado, o jovem decidiu vingar-se da forma mais brutal que poderia. Derrubou o homem, o agrediu e, em seguida, amarrou-o na carruagem. Assim, seguiu seu caminho arrastando o desconhecido pela estrada até que ele morresse.
Mais tarde, chegou à cidade de Tebas, onde encontrou-se com a estranha criatura de nome Esfinge. Com corpo de leão, asas de águia e cabeça de mulher, o monstro desafiava aqueles que chegavam à cidade com um enigma, intimidando os forasteiros com a mensagem “decifra-me ou te devoro”. Aqueles que erravam transformaram-se em refeição para a besta.
O enigma consistia na seguinte pergunta: “Que criatura pela manhã tem quatro pés, a tarde tem dois, e à noite tem três?”
Depois de refletir, Édipo respondeu: “os humanos”. E eis a explicação. A manhã significava a infância, quando os humanos engatinham. A tarde, por sua vez, representava a vida adulta, quando se caminha com os dois pés. A noite era a velhice, já que os idosos utilizam uma bengala para se apoiar.
Ao dar a resposta correta, Édipo não somente se livrou de ser devorado, como tornou-se rei de Tebas, e casou-se com a rainha local, de nome Jocasta. Tempos depois, um vidente trouxe uma terrível revelação para o novo monarca: Políbio e Periboea eram os pais adotivos de Édipo.
Seu verdadeiro pai era Laio, o estranho que o jovem matara na estrada. Sua verdadeira mãe, era a própria Jocasta, com quem acabara de se casar. Desta forma, mesmo fugindo e tornando-se um poderoso rei, Édipo não conseguiu fugir de seu destino.
A lenda de Narciso
“É que Narciso acha feio o que não é espelho”. A famosa frase de Caetano Veloso, na canção “Sampa”, demonstra bem como uma história com mais de 2500 anos segue viva no imaginário popular ocidental.
A superstição na Grécia Antiga afirmava que contemplar a própria imagem era um prenúncio de má sorte. Essa é, provavelmente, a origem do mito.
Narciso era um jovem de beleza única, herói nas cidades de Téspias e Beócia. Ele era filho de Cefiso, deus dos rios, e da ninfa Liriope. Pouco antes de seu nascimento, a ninfa consultou o adivinho Tirésias a fim de descobrir o destino de seu filho. O vidente afirmou que o menino seria belíssimo e teria uma longa vida, desde que nunca olhasse para seu próprio rosto.
Ao chegar à vida adulta, a profecia de sua beleza cumpriu-se, e Narciso era tão bonito quanto era arrogante. Despertava a paixão de todos ao seu redor -- homens e mulheres -- incluindo ninfas e semideuses.
No entanto, desprezava a todos, provocando a ira de muitos pretendentes. O jovem preferia viver só, pois considerava que ninguém fosse digno de sua beleza. Inconformada, a ninfa Eco jogou uma praga sobre Narciso: ele iria amar com muita intensidade sem poder ter para si a pessoa amada.
Nêmesis, a deusa punidora, escutou o pedido de Eco e decidiu atendê-lo, jogando um encanto num pequeno lago que havia na região. Quando Narciso inclinou-se para beber água, acabou vendo, pela primeira vez, seu próprio reflexo e encantou-se consigo mesmo.
Apaixonado pela própria imagem, mas triste por nunca poder alcançá-la (já que não se tratava de outra pessoa), Narciso passou dias olhando o próprio reflexo na água, até que lentamente definhou e morreu.
Outra versão da lenda conta que, num rompante de amor e desespero, Narciso tentou agarrar a própria imagem, caindo no lago e morrendo afogado.
Midas e o toque de ouro na Mitologia Grega
Midas era rei e soberano na Frígia, localidade situada na atual região da Turquia. Ele era filho de Górdio, um pobre camponês, e tinha um filho chamado Litierses -- este era conhecido como “o ceifador de homens”, já que gostava de decapitar seus inimigos.
Mesmo não sendo herdeiro da realeza, o pai de Midas foi escolhido como rei pelo povo da Frígia, que acreditava que sua chegada era o cumprimento de uma antiga profecia. Essa profecia afirmava que o rei da Frígia iria chegar ao povoado em uma carroça. Enquanto o povo debatia sobre seu destino, Górdio, junto de sua mulher e seu filho, Midas, chegaram à cidade justamente em uma carroça.
O desejo do Rei Midas
Midas era extremamente rico e poderoso, e morava com sua filha em um lindo palácio. No entanto, mesmo sendo um dos homens de maior fortuna no mundo, a ambição do rei era grande, e ele almejava ter sempre mais. Inclusive, um de seus passatempos preferidos era dedicar horas e horas a contar e admirar suas moedas de ouro.
Um dia, Sileno, seguidor e conselheiro de Dionísio, o deus do vinho, teve uma noite de bebedeira na Frígia e perdeu-se pela cidade. Ele então foi levado por camponeses ao encontro de Midas. Reconhecendo a figura, o rei o acolheu e o tratou muito bem durante dez dias.
No décimo primeiro dia, Midas decidiu levar Sileno de volta para o deus Dionísio que, muito agradecido pela ajuda e hospitalidade para com seu amigo (na Grécia Antiga, a hospitalidade com estranhos era sagrada), ofereceu ao rei o direito de fazer um desejo. O deus do vinho prometeu que iria cumprí-lo, não importando qual fosse o pedido.
Almejando ser ainda mais rico, Midas pediu para que tudo o que ele tocasse virasse ouro. Mesmo não gostando da ideia, Dionísio atendeu o pedido. Ansioso em testar seu novo poder, o monarca arrancou um ramo de carvalho e ele virou ouro diante de seus olhos. E assim foi testando com todos os materiais ao seu redor: areia, frutas, pedras, etc.
Mas o que era alegria rapidamente se tornou em lamento. Para celebrar, Midas pediu para que lhe servissem um enorme jantar, que ele nunca conseguiu comer, já que todo alimento que encostava se transformava instantaneamente em ouro.
Distraído, o rei não percebeu que sua filha se aproximava para o abraçar, e quando isso aconteceu, era tarde demais: a garota havia se tornado uma estátua de ouro. Triste, pediu para que Dionísio desfizesse seu desejo. Benevolente, o deus do vinho o atendeu, e tudo o que ele havia transformado em ouro, voltou ao normal, incluindo sua filha.
Frustrado com a própria fortuna, Midas abriu mão de sua riqueza e virou um seguidor de Pã, deus dos bosques.