THAÍS FORNICOLA

‘Eu tenho certeza que estou abrindo caminhos para outras mulheres’

Por Fernanda Rizzi | Jornal de Piracicaba
| Tempo de leitura: 9 min
Alessandro Maschio/JP

Inspiração para muitas mulheres, Thaís Fornicola Neves é a primeira mulher a assumir o cargo de diretora Agroindustrial do Polo Piracicaba da Raízen. Paulistana, se formou em Engenheira eletricista pelo IMT (Instituto Mauá de Tecnologia) e iniciou sua carreira na Accenture, consultoria americana de processos e sistemas. Já a sua jornada na Raízen começou há mais de 12 anos, ao integrar o time de Recursos Humanos da Cosan. Hoje é responsável pelo Polo Piracicaba, incluindo uma planta de etanol de 2ª geração, única unidade operada em escala industrial no mundo. Thaís lidera um time de mais de três mil pessoas em busca de produzir cana e produtos de alta qualidade, eficiência e energia.

E ela não para por aí! Focada em ajudar mulheres a ocupar cargos de liderança no mercado de trabalho, em especifico na agroindústria, ela administra a página @vamosjuntasnoagro no Instagram, no qual se aproxima de cada mulher, ajudando-as se tornarem empoderadas e abrir novos caminhos para si mesmas. Em 2021, integrou a lista das 100 Mulheres Poderosas do Agro, da Forbes Brasil.

A diretora contou ao Jornal de Piracicaba como é a Thaís mulher: profissional, mãe, esposa, empoderada, suas metas e em como é possível viver uma vida em equilíbrio, sem exigir a perfeição.

Como surgiu a paixão pela agroindústria?

Surgiu quando eu comecei a trabalhar bem de perto na área mais agrícola em 2015 para 2016. Eu comecei na Cosan em 2009, mas eu estava meio distante da produção agrícola e industrial e, quando eu cheguei mais próximo, eu realmente me apaixonei pelo agronegócio e de ver como é grande a transformação que fazemos a partir do solo, do plantio e de tudo o que conseguimos extrair da terra. É fascinante no sentido de ter uma complexidade muito grande e eu sempre fui atraída por coisas complexas, quanto mais difíceis é mais legal. Então eu acho que cada vez mais eu estou aprendendo muito e me atraio, além da beleza de ver a planta crescendo, plantar na variedade e época certa. Tem muita coisa encantadora no agronegócio.

O quão satisfatório é saber que hoje você é a primeira diretora agroindustrial? Qual responsabilidade carrega como mulher no cargo? 

É muita responsabilidade porque para chegar até aqui foi muita coragem e resiliência. Essa posição de ser a primeira eu tenho certeza que eu estou abrindo caminho para muitas outras, eu estou sendo uma referência e um exemplo para muitas outras. Eu me cobro muito de fazer um bom trabalho e de deixar um excelente legado para que as próximas gerações venham e se atraiam para estar em uma posição como a minha. Aos longos dos anos, nós pudemos ver o interesse maior das mulheres por esse tipo de função, que é mais complexa no sentido de estar um em ambiente mais masculino. Meu papel é abrir caminhos, permanecer e incentivar as mulheres a quererem estar junto com nós aqui.

Eu tenho uma conta no Instagram que chama @vamosjuntasnoagro e lá eu mostro a Raízen sob o ponto de vista de uma funcionária que realmente quer atrair e mostrar que tem um espaço legal para as mulheres dentro do agronegócio. Aqui na Raízen nós temos uma meta super agressiva de ter 30% de mulheres na liderança, já estamos evoluindo bastante. Agora nós temos duas mulheres diretoras na agroindústria, eu fico muito feliz de representar e abrir caminhos para as mulheres.

Como surgiu a ideia de criar o @vamosjuntasnoagro para se aproximar mais das mulheres?

Surgiu da ideia de eu pensar como eu iria me aproximar delas, como eu iria mostrar o trabalho que estamos fazendo aqui e como eu poderia contatá-las porque é difícil você conseguir atrair, dar visibilidade das vagas que nós temos e do trabalho que fazemos aqui. Então eu pensei que se eu conseguisse começar a mostrar o nosso dia a dia no Instagram e achar as mulheres que estão no agronegócio e fazendo faculdades relacionadas a isso, então eu conseguiria me aproximar desse público. Foi assim que surgiu o @vamosjuntasnoagro, que existe há três anos. Várias mulheres interessadas enviam currículos e tiram dúvidas. Eu acho que é uma maneira de atrair uma parceria com o apoio do time da Raízen, da equipe de Comunicação que me ajuda a postar e é super legal.

Sua história é muito inspiradora e com certeza você é a inspiração de muitas mulheres. Mas, durante o seu percurso, você teve alguma inspiração ou algo/alguém que serviu como um combustível para você não desistir?

Ao longo da minha carreira eu tive várias pessoas, principalmente o meu marido, que não me deixou desistir. Ele acompanhou toda a trajetória, todos os momentos bons e os mais difíceis e foi fundamental para chegar aonde eu cheguei. Mas, ao longo da jornada, muitas pessoas nos apoiam com palavras de incentivos, as próprias mulheres do meu time sempre me incentivaram muito a me manter firme. Cada palavra que eu recebia que eu era referência e inspiração para elas, isso me alimentava de energia para continuar o que eu estou fazendo e dar seguimento nesse trabalho.

Atualmente, quais unidades estão sob o seu comando? E qual o seu maior desafio para tornar as usinas mais eficientes?

Eu sou responsável por pelo Polo Piracicaba da Raízen e por três mil pessoas que fazem toda essa operação da parte agrícola e industrial dessas unidades.

Quais são os seus atuais projetos na Raízen? Nós prezamos muito o nosso DNA de sustentabilidade USG. Nós prezamos por garantir tudo o que podemos de todos os recursos. Acabamos de inaugurar a Planta de Biogás e também há Planta de Etanol da 2ª Geração. Essas duas frentes fecham a economia circular, ou seja, usa os resíduos do bagaço para produzir o Etanol de 2ª geração. Nós temos uma tecnologia super inovadora e proprietária para essa transformação.

O Biogás também uma forma de tirarmos aproveito do resíduo que é a vinhaça, que o resíduo da produção de Etanol de 1ª e 2ª geração. Em um processo de destilação, você tira o Etanol e sobra muita vinhaça. Essa vinhaça é rica em matéria orgânica, que destinada a essa nova planta e a partir de lá iremos colocar dentro de um processo industrial para poder produzir o gás metano e o metano.

De tudo nós temos três principais resíduos: o bagaço, a torta de filtro e a vinhaça. Esses três resíduos estão sendo endereços para que possamos produzir mais energia sem precisar replantar mais nenhum hectare de cana.

Você é Embaixadora do jogo Cana de Açúcar da Coleção Joias do Agro. O que é o projeto? Elas são duas irmãs Cristiane e Adriane Steinmetz, que são produtoras de soja e trigo no Mato Grosso. Elas têm uma linha de joias que representam uma cultura do agro e elas me convidaram para ser embaixadora da joia da Cana de Açúcar. Eu e de nossas fornecedoras de cana, que é a Cristina Pacheco, foi junto comigo ser embaixadora. É super bonito, tem anéis, brincos e colares.

Como você se enxerga daqui alguns anos? Quais planos têm para o seu futuro dentro da agroindústria?

Eu quero continuar fazendo esse trabalho de ser referência feminina para as mulheres e eu quero ver a meta dos 30% se concretizar. Espero que continuemos nessa jornada até o ponto em que eu não seja mais o assunto de ter de falar de diversidade, que tudo possa acontecer naturalmente. Esse é meu plano.

Agora falando de carreira eu quero dar os meus próximos passos, tenho a ambição de ser CEO de uma companhia do grupo e estou trabalhando muito para isso, aprendendo no dia a dia para ser uma pessoa e profissional melhor e conseguir ajudar ainda mais a Raízen nessa jornada para definir o futuro da energia que é o nosso principal propósito aqui.

Hoje, quais são os seus compromissos com a Raízen? 

No meu dia a dia o principal é cuidar da vida das pessoas que trabalham comigo, pois a segurança é acima de tudo. Não apenas a física, mas segurança psicológica. Quero garantir o bem estar de todos, que todos estejam felizes com o papel delas. Toda a minha liderança está engajada nisso. Também continuar na jornada da descarbonização que é a implementação dessas tecnologias que estão nos ajudando a descarbonizar não só o Brasil como o mundo. Nós somos protagonistas da redefinição do futuro e de prover soluções para os nossos parceiros e clientes. Cada vez mais nós temos essa demanda com produtos mais verdes que ajudam a combater as mudanças climáticas e estamos na luta. Meu compromisso é construí esse futuro do ponto de visão da emissão de gases e efeito estufa.

Não apenas falando de meio ambiente, mas também da sociedade. Nós temos projetos de ajudam jovens em sua formação e inclusão no mercado de trabalho, não apenas na parte técnica, mas também na comportamental. Temos parceria com o Senai, no qual fazemos formações de mulheres e homens para cursos específicos  para o que estamos precisando. Temos também os menores aprendizes e a Fundação Raízen. Há várias frentes.

E como é a Thais mulher? Além de uma posição de liderança, você também é mãe e esposa. Como equilibrar tudo isso?

Eu tenho dois meninos, o Pedro (12) e o Eduardo (9). Eu sou casada, o meu marido também trabalha na Raízen, então temos uma vida intensa. É uma parceria e ele é uma peça fundamental nesse equilíbrio que eu consigo ter. Ele tem a função dele como pai e eu como mãe, então tem tudo dividido. Há as pessoas que me ajudam também em minha casa, a minha mãe todas as vezes que eu preciso também me dá muito apoio.

A questão para manter o equilíbrio é você pensar que não será perfeita em tudo, você irá deixar a desejar um pouco e há fases que ficamos mais intensas na família, no trabalho. Eu não cobro, eu me cobro quando eu não estou bem ou plena para estar com eles vivendo uma vida intensa e com plenitude. A minha escolha é feita com base no que está me fazendo feliz. Se eu estou feliz na minha vida profissional, então isso vai fazer com que eu esteja plena na minha casa e feliz com os meus filhos.

Lógico, nós temos altos e baixos, mas eu tento ser muito tranquila. Eu faço esporte para garantir que o meu estresse será dissipado. Minha família e meu trabalho são as minhas prioridades e é o que eu dedico o meu tempo.

Você também já integrou a lista das 100 Mulheres mais Poderosas do Agro da Forbes Brasil. Para você, qual a importância de ter e incentivar a participação feminina dentro do agronegócio? 

É motivo de muito orgulho e gratidão. No dia que eu vi, não acreditei. Pensei: “não é possível que isso está acontecendo comigo!”. Sabe quando você não sonha com algo? Eu já sonhei em ser presidente de uma empresa, ser diretora, mas nunca em estar na Forbes. Foi uma gratidão porque foram as pessoas, o mercado, uma percepção coletiva. Isso me fez ficar muito feliz com o reconhecimento de um trabalho que eu estou fazendo e, que, às vezes você acha que ninguém está vendo. Mas sim, as pessoas estão vendo o que você está fazendo mesmo que de longe. O meu objetivo realmente era ajudar as mulheres e não receber algo em troca.

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