A preciosidade do recurso público

Por Gilmar Rotta | 15/09/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Por Gilmar Rotta

A história de nossa sociedade é marcada por períodos de profundas mudanças, ou até revoluções, em todos os aspectos: social, demográfico, profissional, econômico, industrial, tecnológico, cultural e até mesmo de costumes. Mas a atual evolução das comunicações faz com que nenhuma das anteriores se aproxime em velocidade e frequência de tudo o que presenciamos hoje.
Das profissões mais demandadas no mercado de trabalho até as novas configurações familiares numa moradia, tudo é reapresentado de forma muito rápida, exigindo flexibilidade e adaptação. Mas é preciso saber que todo movimento mais acentuado deixa um rastro de consequências, muitas vezes para o conjunto da população.
Podemos entender que uma mudança no mercado de trabalho, que traz oportunidades a um segmento, pode também significar a exclusão social de quem não estava preparado, sobretudo de um grupo com déficit na educação recebida. No outro exemplo, uma alteração nos padrões de moradia pode resultar em demanda maior por imóveis, que se não for bem acompanhada por políticas habitacionais é capaz de deflagrar processos de marginalização, explosão de custo de aluguéis, que tomam renda da população e custarão muito mais para a sociedade.
Ao incluirmos no raciocínio as novas necessidades de infraestrutura ou as buscas pela saúde pública (num cenário de elevação da expectativa de vida) perceberemos que tratamos de uma conta muito alta.
Valendo aqui a repetição do discurso sempre atual de que são os municípios os mais próximos das demandas da população, convém lembrar de que forma eles suportam tudo isso: através dos recursos públicos, que custam aos brasileiros o altíssimo patamar de cerca de 1/3 de toda a riqueza produzida, e bem por isso precisam ser valorizados com o máximo da eficiência e da adequada alocação.
A iniciativa privada, sempre muito atenta à essas questões, é campeã em desenvolver e aprimorar conceitos de gestão que buscam o maior retorno a um investimento. Ela nos ensina sobre a importância de delegar funções aos mais capacitados em defender projetos e convencer da viabilidade dos investimentos buscados.
Especialmente pelo fato de que os valiosos recursos não estão necessariamente à mão de quem mais precisa, o Poder Público carece de representantes preparados para os trâmites de defesa de projetos e busca de recursos, já que até nisso a concorrência impera. Em idêntico conceito ao da iniciativa privada, em prol da eficiência, o representante público precisa estar não apenas sujeito à cobrança, mas também acessível a ela.
Sem qualquer conflito de interesses, não é necessária preocupação com a divergência de propósitos entre as gestões pública e privada. Para aproveitar os conceitos gestores e garantir eficiência na aplicação, a sensibilidade social pode estar configurada como “um negócio” público que precisa dar o retorno, mas na forma de qualidade de vida.
Logo, diante da nítida limitação de recursos para necessidades que certamente continuarão crescendo, só conseguimos valorizar o que está acessível por meio de algumas premissas: assertividade na detecção de disponibilidades, defesa impecável da viabilidade e entrega do retorno.
Por outro lado, enquanto a fórmula da eficiência é o diferencial na disputa para atender às necessidades cidadãs, é preciso pensar no futuro e mobilizar forças para reorganizar com justiça as disponibilidades. Isso quer dizer que o discurso do verdadeiro municipalismo precisa se concretizar através da redistribuição favorável de recursos a quem se coloca mais próximo das necessidades.

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