Realizar o bem que queremos

Por André Sallum | 09/09/2022 | Tempo de leitura: 2 min

Por André Salum

“Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico”. A confissão de Paulo de Tarso, registrada na Epístola aos Romanos, reflete a condição do ser humano que, apesar da sincera busca espiritual, percebe-se refém de atitudes e impulsos incompatíveis com a condição de aprendiz do Evangelho. Todos os que se encontram em um caminho espiritual se deparam com situações análogas àquelas vividas por Paulo.
Quando imersos nos afazeres cotidianos, frequentemente cremos ter superado antigos conflitos, limitações e vícios, até que alguma circunstância imprevista ou atitude alheia nos desencadeie reações inesperadas, inadequadas ou reprováveis. Tais situações refletem nossa realidade, quando expressamos qualidades negativas que supúnhamos não mais possuir. Essas ocorrências funcionam como espelhos a nos revelarem, quando então nossas ilusões e fantasias se desfazem.
Se tivermos a intenção sincera de melhorar, tais situações, embora desagradáveis, constituem valiosas oportunidades para nosso autoconhecimento e consequente transformação.
Como a jornada evolutiva humana não é linear, muitas vezes alternamos acertos e erros, sucessos e fracassos, avanços e retrocessos, por isso quando tropeçamos e caímos podemos aproveitar tais episódios como experiência evolutiva, saindo da condição vitimista em que geralmente nos situamos. É nesses momentos que conseguimos perceber com maior clareza aspectos obscuros de nosso ser que necessitam ser iluminados, integrados e curados, quando as circunstâncias exteriores apenas refletem a nossa realidade interior. Sob uma perspectiva espiritualista e evolutiva importa reconhecermos nossas reações diante dessas situações e o que elas têm a nos ensinar, a fim de tomarmos as necessárias medidas corretivas e educativas.
Alguns aspectos de nossa personalidade são o reflexo de conteúdos psíquicos profundos, havendo se transformado em automatismos. Temos reações e atitudes de tal forma arraigadas em nosso ser que se transformaram em uma segunda natureza, por isso não bastam decisões ou votos precipitados para conseguirmos modificar nossa estrutura psíquica. Somente mediante um trabalho paciente e perseverante conseguiremos nos transformar. Existem aspectos indesejáveis ou disfuncionais do nosso comportamento que não conseguimos, sozinhos, superar, o que nos exige a procura de ajuda. Em diversas circunstâncias necessitamos de instrução espiritual, principalmente diante de problemas complexos que nossa condição humana não pode resolver. Em tais casos a leitura e o estudo em grupo de obras inspiradoras podem ser válidos, pois nelas encontramos valiosas chaves para a resolução dos mais variados desafios da vida. A oração se apresenta como valioso auxiliar nesse processo pois ao orarmos reconhecemos um poder superior, unimo-nos a ele e nos abrimos à inspiração.
Sugestão que sempre permeia os ensinos espiritualistas é a dedicação a algum serviço altruísta. A participação em grupos de serviço ao próximo renova nossas energias e transforma nossa natureza, facilitando a dissolução de núcleos egocêntricos. Igualmente importante, o reconhecimento e a consequente afirmação da nossa natureza, origem e destino divinos – parte essencial de qualquer prática religiosa – por si só fortalecem nossos aspectos superiores, permitindo-nos reconhecer que erros, fracassos e desequilíbrios são condições transitórias, presentes apenas enquanto não temos plena consciência da nossa verdadeira natureza.

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