Por David Chagas

Dada a largada para a propaganda eleitoral, entrevistas, debates, artigos diversos por eleições livres, em diferentes meios de comunicação, como, desde o fim da ditadura souberam ser as nossas, escrevo, na expectativa de que, lendo, o leitor, a quem sou sempre grato, possa tirar proveito do que ficou desta e de outras tantas manifestações semelhantes a serviço da boa informação. Sigo a pauta.
Ter estado, também, em bancos universitários de qualidade, com o desejo íntimo de ensinar, me permitiu aprender, sob a luz de mestres excepcionais e leituras corretamente indicadas, a importância de ver além, admitindo a verdade, analisando estudos de pensadores geniais, tratando de ir muito além do que o olhar percebe e capta.
Ler e aplicar à Educação, em especial, no trabalho com crianças e adolescentes, adultos e, claro, na análise do que falam os postulantes a cargos públicos, sobretudo aqueles que, para afirmar-se, são arrogantes, ampliam ainda mais a altivez do olhar, dão grosseiro tom à voz, apresentando como fato o que, em verdade, não é.
Daí este desejo inconsciente (ou não?) de tentar encontrar, no momento atual, razão que me ajude a entender as diferentes reações do corpo e da visão, diante do triste espetáculo encenado em distintos palcos no uso, muitas vezes, equivocado, da linguagem.
Adepto das teorias lacanianas entendo que o inconsciente deixa de ser uma instância individual, sai do sujeito e abarca uma rede de relações sociais. O outro, na tentativa de aclarar toda uma combinação de sistemas simbólicos e socioculturais, permite desvendar a dinâmica entre o Eu e as instituições, exatamente onde se insere a escola.
Se bem entendemos isso, é possível ter visão da forma como se distribui, agora, de modo mais horizontal, tais relações, e a razão de bloquear, cada vez mais, a necessária mudança na Educação tentando buscar, senão de vez, luz necessária capaz de dar a todos clareza no entendimento do texto usado em campanhas sobretudo e quando, bem entendido, dará norte à escolha de novos dirigentes.
Rui Barbosa, há cem anos, indignado com a ignorância da grande maioria e a péssima imagem do Brasil aos olhos do mundo, conclamou: “O Brasil não é isso!”
Os responsáveis por tantos descalabros parecem pouco importar-se. Falseiam, deturpam ideias, acusam indevidamente, resvalam nas ações, descumprem o que a lei determina e propalam estas e outras tantas falácias entre seguidores.
As bravatas propaladas entre gente humilde, simplória, muitas vezes beirando o ridículo, ultrapassam limites, permitindo ao estrangeiro imaginar que o país vai na contramão da história.
Fizemos tanto, conseguimos tanto, avançamos em tantas coisas, nas artes, nas ciências, em tecnologias de ponta, assuntos a que nunca se referem movidos, muitas vezes, pelo negacionismo próprio dos que, pouco conhecendo, insistem em parecer capazes de tratar de diferentes assuntos porque assentados no poder.
Rui Barbosa, em sua análise, prossegue com intrepidez, coragem, bravura nacionalista:“Deverão, com efeito, as outras nações, a cujo grande conselho comparecemos, medir o nosso valor pelo dessa troça de escaladores do poder, que o julgam ter conquistado, com a submissão de todos, porque, em um lance de roleta viciada, empalmaram a sorte e varreram a mesa?
Não. Não se engane o estrangeiro. Não nos enganemos nós mesmos. Não! O Brasil não é isso. Não! O Brasil não é sócio de clube, de jogo e de pândega dos vivedores, que se apoderaram da sua fortuna, e o querem tratar como a libertinagem trata as companheiras momentâneas da sua luxúria.
Não! O Brasil não é esse ajuntamento coletício de criaturas taradas, sobre que possa correr, sem a menor impressão, o sopro das aspirações, que nesta hora agitam a humanidade toda.
Não! O Brasil não é essa nacionalidade fria, deliquescente, cadaverizada, que receba na testa, sem estremecer, o carimbo de uma camarilha, como a messalina recebe no braço a tatuagem do amante, ou o calceta, no dorso, a flor-de-lis do verdugo.
Não! O Brasil não aceita a cova, que lhe estão cavando os cavadores do Tesouro, a cova onde o acabariam de roer até aos ossos os tatus-canastras da politicalha. Nada, nada.”
O Brasil é um país vivaz, capaz de criar e recriar nas artes, em especial, toda a inventividade de sua gente, com altivez própria dos grandes, sabendo estar no mundo e respeitando quem dele faça parte.
Desentendo porque muitos dos que nos representam portam-se diferentemente desta grandeza e tem, de muitos, aplausos. O que o baiano sábio disse há um século se justifica agora com igual clareza. A ignorância permite aliar-se a pensamentos toscos, à falta de cultura, à rudeza de linguagem, a determinado comportamento deselegante, grosseiro. Não lastime. Converta-se!!
Como devem estremecer os espíritos de luz de nossos ancestrais a quem devemos tanto, negros e índios, em especial, cuja cultura contribuiu e contribui à capacidade de criar do brasileiro desprovido muitas vezes do acesso à Educação, mas por capacidade e talento inato se revela.
Por isso incomoda a quem pensa ver postulantes a cargos públicos ignorarem isso tudo, incapazes de oferecer nesta fase de corrida eleitoral, projetos efetivos de governabilidade, políticas públicas em busca de transformação e mudança.
Com isso, revelam desconhecer o homem como ser psicofísico, desprovido da espiritualidade que o envolve e lhe concede vida e inteligência.