Cassiano Ricardo

Por José Faganello | 17/08/2022 | Tempo de leitura: 4 min

Por José Faganello

“…O poeta é um ser alado e sagrado, todo leveza, e somente capaz de compor quando saturado do deus e fora do juízo, e no ponto, até, em que perde de todo o senso. Enquanto não atinge esse estado, qualquer pessoa é incapaz de compor versos ou de vaticinar” ( Platão – Irão).

Cassiano Ricardo nasceu em São José dos Campos em 1895. Filho de modestos lavradores, já aos dez anos queria ser poeta e jornalista. Dos poetas que li, ele foi um que muito me impressionou. Tomei conhecimento de suas poesias quando estava no colegial e estudava em Lavrinhas, no Vale do Paraíba, portanto não muito distante da cidade natal dele. Meu gosto pela literatura foi turbinado pelo primeiro livro de Monteiro Lobato, que li ainda na infância. As obras literárias são a melhor expressão do espírito humano, pois contêm excelente qualidade estética e são capazes de perdurarem ao longo do tempo, sem perder seu valor e sua invejável atração. A imprensa, no término do século 20, começou a publicar os melhores representantes de diversas categorias: melhores filmes, músicas, jogadores de futebol, romances mundiais, brasileiros etc. A maioria, incluindo os intelectuais, não teve a oportunidade de ler a maior parte dos livros elencados, por vários motivos, um deles o de não haver tradução para o português e disponibilidade nas livrarias e bibliotecas. Acredito que se houver uma pesquisa abrangendo leitores em geral, muitos irão afirmar que não entenderam e não gostaram dos livros consagrados que leu e, muitas vezes, largou a leitura no meio. Não há consenso quando se trata de gosto, especialmente de gosto literário. Um dos entraves para ser encaixado como bom escritor é a entronização de autores consagrados pela crítica literária, que repudia autores como Paulo Coelho, traduzido em 38 idiomas e Danielle Stell que vendeu aproximadamente 500 milhões de livros no espaço de tempo de 20 anos e 22 deles adaptados para o cinema. Não li nenhum livro de Paulo Coelho e apenas três de Danielle Steell.Tanto minha primeira esposa, como a atual me induziram a ler essa autora, que confesso ter apreciado e iniciei a leitura de mais um O Brilho De Sua Luz. Há aqueles que dizem não apreciar determinados autores excomungados pela crítica literária e elogiam Ulisses de James Joyce, mesmo que nada tenham entendido da leitura feita. Fiz essa introdução para dizer que entre os poetas que li, pela ordem, os que mais me emocionaram foram Homero, Virgílio, Horácio, Shakespeare, Neruda, Fernando Pessoa, Dante Alighieri; dos brasileiros há uma lista grande, cito em especial, Casemiro de Abreu, Castro Alves, Drummond, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo. Evidentemente há outros, mas o espaço não me permite citá-los e comentar o porquê da preferência, Casemiro de Abreu, por exemplo, me emocionou ainda na minha infância assim como Gonçalves Dias com seu convincente indianismo, para uma criança; Castro Alves pelo elaborado vocabulário, rimas ricas, citações espetaculares e a causa que abraçou sem temor, combater a escravidão. Cassiano Ricardo é pouco citado, por isso a maioria dos jovens nunca leu nada sobre ele, mas quando tomei conhecimento de sua poesia, nele me amarrei, pois descobri em seus versos o que sua poesia trás: diz em poucas palavras o que a prosa não consegue fazer; causaram-me uma espécie de transe ou alumbramento; ele soube olhar o mundo como um apaixonado olha para a mulher de sua paixão; me proporcionou prazer e iluminou meu entendimento sobre os temas que desenvolveu; foi um professor de esperança e de deslumbramento pela natureza de nosso país; mostrou-se dono de um coração transbordante de lirismo; um malabarista das palavras alinhadas em seus versos admiráveis; conseguiu dar graça a tudo e testemunho de fatos de nossa história, com versos de harmoniosa música. De seus livros li: Borrões de Verde e Amarelo; Martim Cererê; Poesias Completas e Jeremias Sem-Chorar. Escreveu, parece-me, mais uns nove. Dos meus, restou-me apenas Martim Cererê, pois os outros foram e não mais voltaram, mesmo tendo em um de meus artigos solicitado que me devolvessem e até parodiei Gregório de Matos que emprestou uma bandeja para sua vizinha que iria usar numa festa de aniversário, ao qual não foi convidado e não recebeu de volta o empréstimo. Ele ao encontrá-la declamou num repente: Dizem que as almas do outro mundo vão e não mais vêm;/ Será que minha bandejinha virou alma também? No meu caso foram livros.

Não posso encerrar sem colocar alguns versos de Cassiano Ricardo. Nesses, ele conseguiu explicitar a luxúria com classe: “E tão grande há de ser nossa luta/ Sobre o leito trançado de cipós,/ que a noite cairá pesada e bruta,/ suando pingos de estrelas sobre nós”.

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