Por André Salum

Vivemos em um mundo tão plural e diverso, ao mesmo tempo com tantas disparidades, conflitos e disputas, que nele ainda predominam o egoísmo, a agressividade e os interesses mesquinhos. Estes são tempos tão conflituosos que as situações mais triviais e os motivos mais banais desencadeiam reações enfurecidas e brutais, completamente desproporcionais e irracionais, evidenciando os desequilíbrios de quem as manifesta e revelando, ao mesmo tempo, a urgente necessidade de se pacificar o coração humano.
Nesse cenário, aqueles que conseguem conquistar alguma paz interior e são capazes de irradiá-la estão, ainda que não o saibam, ajudando a amenizar e dissolver a imensa carga de desarmonia e agressividade que satura o planeta, a qual eclode nas mais variadas formas de violência e, quando em âmbito internacional, nas guerras.
A conquista da paz interior, além de tesouro de inestimável valor que beneficia quem a experimenta (sobretudo nos tumultuosos tempos atuais), é importante serviço, embora silencioso e anônimo, que se pode prestar ao mundo.
Existe um princípio ensinado por instrutores espirituais, o qual afirma que qualquer iniciativa ou movimento em favor da paz só é legítimo se for expressão da paz interior e fruto da sabedoria e do amor, caso contrário é destituído da energia necessária à sua implementação, propagação e sustentação.
O trabalho de pacificação interior é primordial na vida de quem busque a saúde emocional e mental (e consequentemente a física), tanto quanto a harmonia nos relacionamentos e uma vida plena, já que não existe felicidade sem paz interior, e até mesmo para se utilizar e fruir dos bens materiais alguma serenidade é necessária.
Temos sido ensinados que a paz interior é favorecida pela compreensão das leis evolutivas e sobretudo pela voluntária obediência às mesmas – o que leva a uma atitude altruísta e fraterna – tanto quanto pelo exercício do perdão e do desapego, que funcionam como ferramentas libertadoras. Dos fatores necessários à paz destaca-se a consciência tranquila, pois quando alguém se reconhece com culpa sabe que se encontra em dívida perante a vida, a qual só desaparece quando os fatores geradores da desarmonia houverem sido removidos pelas ações retificadoras adequadas. Nesse sentido, são inúteis nossas tentativas de disfarçar as inquietações de consciência mediante as fugas e dissimulações que tanto nos consomem tempo e energia, até que resolvamos empreender a necessária autotransformação.
Parece-nos importante reconhecermos que o estado de paz interior é essencialmente dinâmico e transformador, portanto nada tem a ver com passividade, omissão, inércia ou acomodação, já que muitas vezes nos utilizamos do rótulo de pacíficos para não nos envolvermos em situações que requerem atitudes e posicionamentos firmes.
Quem exercita como programa educativo e terapêutico a ausculta interior e a conexão com o mais profundo de si, reconhece a si mesmo tanto quanto aos demais como vida sagrada, e quem se entrega a momentos de quietude interior torna-se gradativamente mais pacífico, portanto pacificador. Um indivíduo pacífico pode auxiliar muito mais a sociedade do que aquele que, apesar de muito falar e agir, dissemina preconceitos, fomenta ódios, gera conflitos e estimula condutas desagregadoras. O silêncio amoroso, o trabalho discreto e a ação paciente e perseverante em favor do bem comum podem ser valiosas contribuições à sustentação da harmonia e da paz onde convivemos.