Acumuladores compulsivos

Por Ana Pascoalete |
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Por Ana Carolina Carvalho Pascoalete

Os acumuladores de cada país têm características muito singulares devido à história e hábitos de consumo de cada localidade. Por exemplo, na Holanda os indivíduos que desenvolvem esse quadro patológico geralmente costumam apresentar características da escassez que experiênciaram após a segunda guerra mundial, apresentando dificuldade de desfazer dos seus pertences. Enquanto os indivíduos que desenvolvem o mesmo transtorno nos Estados Unidos apresentam características singulares devido à fartura de materiais e bens de consumo exagerado, acumulam indiscriminadamente pertences que adquirem por meio do seu poder de compra.

O que torna um indivíduo acumulador é uma desordem emocional desencadeada por situações traumáticas de intenso sofrimento ou como comorbidade de quadros psiquiátricos geralmente relacionados à depressão e ansiedade generalizada, que podem potencializar as compulsões que precisam ser identificadas o quanto antes para serrm tratadas. Iniciar o tratamento precoce aumenta significativamente as possibilidades de recuperação.

Um indivíduo pode desenvolver esse transtorno em qualquer idade e fase da vida, em alguns casos é possível identificar um acumulador já na primeira infância. Claro que nessa fase sem autonomia de evolução de gravidade tendo em vista o direcionamento dos tutores, porém já é comum identificar sofrimento no desapego de diversos objetos sem utilidade. O discurso evidente no diálogo dessas pessoas que desenvolvem valor afetivo nos objetos se tornando extremamente difícil se separar deles - mesmo que direcionando um destino como vendendo, doando, reciclando –é que sempre acreditam que em algum momento da vida aqueles objetos serão necessários.

Ao desenvolver o transtorno o indivíduo não consegue mais apresentar a percepção que um monte de coisas entulhadas gera sujeira, aos poucos o que deveria gerar um incômodo, permanece durante anos no chão e nunca será retirado para realizar a limpeza em baixo ou ao seu redor. Os acumuladores constantemente têm em suas casas objetos que não são utilizados há anos, porém permanecem lá por inúmeros fatores, como lembrança de uma época feliz da vida e mantê-los guardados é uma forma de acreditar que, de alguma maneira, as lembranças se manterão vivas, mesmo de épocas ou pessoas que já não existem mais.

A dificuldade de estabelecer limites dos pertences são tão intensas que os acumuladores não conseguem se desvincularem dos objetos que são considerados lixos, como embalagens e caixas diversas e são pessoas que se queixam frequentemente da falta de espaço em suas casas e sentem que não conseguem parar e continuam aumentando as pilhas de pertences acumuladas por todos os lados, sentindo–se envergonhado em receber pessoas em casa, mesmo as mais próximas como familiares, pela justificativa da bagunça, evitando o sentimento de exposição para, também, não realizar enfrentamentos e explicar o que não tem explicação.

A família é fundamental para o diagnóstico e início do tratamento, pois não é comum que a pessoa que apresenta o transtorno identifique a dificuldade. É de suma importância a consciência para reconhecer que existe um problema e assim encontrar soluções adequadas visando flexibilizar a resistência e desorganização emocional que a patologia desencadeia. Essa condição não faz distinção entre homens ou mulheres, cultura ou situação socioeconômica, afeta pelo menos 2,6% da população mundial e segundo o Journal of psychiatric Research piorou significativamente durante a pandemia da covid-19.

Há perigos em acumular compulsivamente como incêndio, risco de quedas, lesões e um tremendo risco de infestação, que aumenta a chance de desenvolver doenças do sistema respiratório. Vale ressaltar que essa doença promove sofrimento e os afetados têm dificuldade em abordar sobre o assunto que é ‘’estigmatizado’’ pela sociedade, que geralmente interpreta essa condição comportamental como preguiça, imoralidade, falta de padrões pessoais e não entende como pode ser considerada uma dificuldade de saúde mental.

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