Falta de mão de obra minimamente qualificada

Por Érica Gorga |
| Tempo de leitura: 3 min

Por Erica Gorga

O desemprego atingiu mais de 11 milhões de brasileiros no primeiro trimestre de 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Por outro lado, existem empregadores no país dispostos a contratar empregados, mas que não conseguem preencher as vagas disponíveis.

Uma pesquisa da consultoria de recursos humanos ManpowerGroup, que ouviu 40 mil empregadores em 40 países de todos os setores neste ano, revelou que 81% dos empregadores brasileiros enfrentam obstáculos para encontrar trabalhadores com qualificação adequada. Em outras palavras, de cada dez empregadores brasileiros, oito têm dificuldades para contratar funcionários aptos a exercer as funções.
Faltam pessoas capacitadas nas áreas de construção civil, hotelaria e restaurantes, atacado e varejo, indústria, TI e tecnologia e no setor bancário. A área de construção civil sofre com a carência de pedreiros, mestres de obras, eletricistas, encanadores, pintores e marceneiros.
Qualquer um pode fazer a experiência. Basta sair conversando nas ruas – e nas redes sociais – para se ouvir queixas sobre as dificuldades dos comerciantes que querem contratar vendedores e gerentes de vendas, assim como para quem precisa contratar secretárias, atendentes e caixas de supermercados. Faltam padeiros, jardineiros, costureiras, e por aí vai.
A pandemia apenas agravou o problema que já existia. As complicações para preenchimento de vagas ocorrem há tempo e são generalizadas, incluindo desde as funções mais simples até as mais complexas.
Tudo parece contraditório porque, conforme apontamos acima, os números do desemprego no país, apesar da recente redução, continuam elevados. Assim, como é possível que quem queira contratar acabe não o conseguindo?

Pequenos, médios e grandes empreendedores oferecendo vagas de emprego não conseguem contratar porque não encontram pessoas minimamente qualificadas e interessadas no desempenho das funções disponíveis. Os entrevistados elencaram as habilidades mais difíceis de ser encontradas: raciocínio, resolução de problemas, resiliência, iniciativa, confiabilidade e autodisciplina.

O problema é gravíssimo e tende a piorar. Isso porque o contingente de jovens que não estuda nem trabalha, conhecido como geração nem-nem, já alcança 25% da juventude brasileira, passando dos 11 milhões de jovens de 15 a 29 anos.

Assim, ao que tudo indica, o Brasil pode deixar de crescer pela carência de brasileiros que trabalhem. Tudo isso é fruto de séria disrupção no sistema de ensino do país. Escolas estão formando analfabetos funcionais. Faculdades não formam profissionais capacitados. Há, em alguns casos, carência de cursos técnicos. E o que é pior: ausência de estímulo social para que jovens busquem ofícios técnicos e obstáculos legais impostos pelo Estatuto da criança e do adolescente, que proíbe atividades laborais para adolescentes.

Há também disrupção gravíssima na ideologia hoje difundida. Incutiu-se na cabeça dos jovens que eles precisam forçosamente fazer faculdade. Muitas faculdades são caça-níqueis. Os jovens pagam caro, as famílias se endividam, mas não obterão formação que os capacite para as necessidades reais do mercado de trabalho. Essa falsa glamourização do bacharelismo afasta jovens de ofícios técnicos absolutamente necessários para o progresso da sociedade.

O Brasil tem que reformar o seu sistema educacional e reverter a mentalidade do complexo do bacharel inapto sem ofício, além de dignificar as profissões essenciais para que os jovens escolham exercê-las, não esbanjando tempo precioso de suas vidas.

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