O Relógio do Juízo Final

Por Cecílio Elias Netto | 19/07/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Por Cecílio Elias Netto

Compreensivelmente, quase nada se comenta sobre o Relógio do Juízo Final, também chamado de Relógio da Meia Noite e do Apocalipse. Consultá-lo ou pensar nele aumenta o medo. Acompanhar o seu movimento angustia por revelar, ao mesmo tempo, a dimensão da loucura humana e a impotência individual diante da “morte anunciada”.
Por, realmente, ser, a história, “escrita pelos vencedores”, pouco se discute, ainda hoje, o verdadeiro genocídio que os Estados Unidos cometeram em Hiroshima e Nagazaki. Foram milhares de pessoas mortas aleatoriamente, dizimando civis inocentes, crianças, idosos. Com apenas duas bombas. E, com aquele massacre, a humanidade entrou na monstruosa “era nuclear”. E permanece em suspenso pela possibilidade de qualquer maluco apertar um único botão e, então, dar-se a extinção global.
Essa ameaça real foi entendida logo após o término do conflito mundial. Mais uma vez, revelara-se como as maravilhas das descobertas científicas podem ser usadas também para o mal. O remédio que salva também pode matar. Há que se lembrar ter sido o próprio Einstein quem advertiu para o uso da energia nuclear para o desastre. Mas a bomba aconteceu. O fato é que, então, foi criado o que se tornou conhecido como o Relógio do Juízo Final. O apocalipse chegará quando o relógio indicar a meia-noite.
Foi diante do horror que, quatro meses após a tragédia do Japão, cientistas de Chicago aumentaram os alertas sobre a possibilidade, a partir de então, da hecatombe universal. O temor de uma outra guerra mundial uniu cientistas, pensadores, estadistas em busca de soluções pacíficas, conscientes da possiblidade do fim de uma história. Ao próprio Einstein, atribuiu-se uma previsão. Ao lhe perguntarem como seria uma terceira guerra, ele teria respondido: “A Terceira, não sei. Mas a Quarta será com arco e flecha.”
Em 2021, o relógio indicou faltarem apenas 100 segundos para o extermínio de nós mesmos. Confesso não saber o que o relógio mostra com a gravidade dos acontecimentos – nos vários níveis – nesta segunda metade de 2022. A tensão, porém, está no ar. Há, aliada ao temor, uma percepção universal de tragédia próxima não apenas de ordem bélica como, também, de rompimentos institucionais. Ou seja: tiranias à vista. Algumas ameaças são claras demais para serem ignoradas. Em diversas áreas do mundo. E, também, no Brasil. Não nos esqueçamos de que Hitler e Mussolini não foram levados a sério. E que Lênin se aproveitou do caos da Rússia Imperial para instalar seu projeto comunista.
É de uma obviedade absurda dizer-se estar o mundo novamente em chamas. Mas assim está, assim é. Como vírus pandêmico, os ódios espalharam-se pelos quatro cantos e o amargor dos rancores alcança-nos a todos. Não se trata mais apenas de um Juízo Final anunciado pelas bombas. Parece estarmos próximos de um Apocalipse moral que assusta. O egoísmo individualista – que contaminou o mundo a partir de economias pérfidas – e a idolatria a tecnologias sem alma levam-nos aos segundos finais do Relógio do Apocalipse.
O Brasil precisa, urgentemente, abandonar a indiferença do “me engane que eu gosto”. A luz vermelha está piscando. Inventaram existir um “bolsonarismo”. É uma farsa. O ex-capitão está sendo usado para acontecer a tragédia já anunciada: o militarismo. Que é uma doença letal. O presidente não lidera nada. Está apenas a serviço. E diverte-se com isso. O que fazer? A lição de Otávio Mangabeira ainda está viva: “A democracia é uma plantinha tenra que precisa ser regada todos os dias.” O voto responsável é nosso regador.

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