
O estudante piracicabano Guilherme Almeida, 16, só pensa no ‘Free Fire’ – um jogo virtual no qual todos lutam por um objetivo: ser o único sobrevivente. Pelo menos, nos últimos três anos tem sido assim para esse adolescente. Aos 13 anos, ele descobriu o talento para o “eSports” e, com o apoio irrestrito de seus pais e de seus dois irmãos, vem se destacando nas competições. Empolgado, sonha voar mais alto e longe, até ser um jogador profissional, ganhar milhões e ser famoso.
Para isso, passa o tempo todo com o celular na mão para aprimorar a técnica, intercalando o tempo com a escola - atualmente está no 1º ano do ensino médio na Etec Cel. Febeliano Fernando da Costa, no Centro, e cursa Técnico em Mecatrônica na mesma instituição. Mas agora, nas férias, ele deu uma turbinada nos treinos e fica de oito a dez horas por dia no batente. “Quero ser jogador de ‘Free Fire’; Eu sonho com isso!”, diz, determinado.
Com tanta dedicação e persistência, o adolescente – que no jogo é conhecido como Guilherme “JuuNOo99” Almeida – sagrou-se recentemente campeão do torneio ‘São Paulo Jogos de E-Sports’, cuja final foi realizada no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. O campeonato foi composto por mais de 10 mil jogadores da rede estadual de ensino (pública e privada) e ele deixou todos para trás.
Guilherme conta que teve um ato rendimento nas fases eliminatórias, ficou em terceiro lugar e isso resultou na final presencial em São Paulo. Houve oito classificatórias e 48 players se classificaram. Mas, na final, oito jogadores não puderam ir e a final foi baseada com 40. “Aí, eu me destaquei, com o MVP (jogador com mais abate na final) e saí como campeão”, descreveu Guilherme.
“Foi algo surreal tudo o que aconteceu. Quando fui consagrado o campeão, tive muitas postagens nas redes sociais e muitas mensagens no privado”, lembrou.
Guilherme começou no esporte há três anos por indicação de um amigo. “No início jogava em um tablet quebrado, pois na época não tinha um celular. A partir de um tempo, comecei a me destacar e vi que esse jogo seria pra mim. Minha família investiu e comprou um celular. Com isso eu retribuía jogando diversos campeonatos”, explicou.
Por enquanto, ele ainda dá os primeiros passos, participa de peneiras e competições de nível médio. Porém, a meta é estar entre os grandes, em torneios como a Liga Brasileira de ‘Free Fire’, séries A, B e C, e a Nex cup, além de outros certames amadores e ligas. O ápice de um jogador, assim como no futebol, é ir a um mundial – honra que somente os dois primeiros times colocados da Liga Série A têm esse direito. Guilherme quer chegar lá: “A minha glória vai chegar!” Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista.
Como começou a sua história com os jogos? Foi apenas por acaso ou você sonhava sempre com os jogos?
Foi há uns três anos, três anos e pouco atrás, eu tinha 13 anos. Eu já me interessava por outros jogos no celular, tomei gosto e estou até hoje. No início era muito mais pela brincadeira mesmo, eu só queria me divertir e passar horas no celular porque era uma coisa que eu queria, mas comecei a pegar gosto pelo jogo, fui melhorando a cada dia e o desejo de competir foi aparecendo, chegando. Com o tempo, a vontade de competir era maior. Fui progredindo e consegui disputar vários campeonatos.
Foi muito complicado no início para você, não? A falta de equipamento apropriado para competir foi um desafio a ser vencido no começo também?
Na verdade, eu jogava em um tablet, onde eu não podia ligar o meu microfone, senão travava tudo e eu não conseguia jogar. Aí, depois disso, eu comecei a jogar alguns campeonatos, só que nesse tempo o meu pai investiu em mim e comprou um celular. Só que esse celular, infelizmente, não rodava tão bem. Aí ele, investiu em outro e depois em outro. Hoje, é um iPhone e, graças a Deus, é um celular muito bom.
Quando foi que você pensou ‘ah!, eu acho que posso ganhar dinheiro com isso!’ Quando você percebeu que poderia ser algo mais sério?
Não era nem por mim e sim pelos meus amigos que falavam: ‘Nossa, você é diferente, você é o destaque entre nós!’ A partir disso, eu comecei a jogar com o pessoal lá do Norte-Nordeste e eles falaram para mim: ‘Entre para o nosso time e vamos ver o que vai dar’. E isso seguiu até hoje, quando eu consegui ser campeão.
O apoio dos seus pais, irmãos e família, principalmente neste início, foi fundamental para a sua ascensão…
Eles me apoiam em tudo. Meus pais investiram em mim, comprando celular e me ajudando no que eu preciso. Os meus dois irmãos e amigos também me apoiam bastante.
E sobre os campeonatos, você disputa mais no individual ou por equipe? Como funciona isso?
Eu nunca tinha disputado um campeonato individual, sempre por equipe, e esse (o torneio ‘São Paulo Jogos de E-Sports’) foi o meu primeiro campeonato individual e o resultado foi o melhor.
Nesses três anos, quantos campeonatos você já participou? Tem muitas competições no Brasil?
Olha, eu já perdi as contas de quantos campeonatos eu já participei. Mas os famosos e os campeonatos grandes, foram cinco, basicamente.
Nos fale agora sobre esse campeonato que você conquistou em São Paulo, o torneio ‘São Paulo Jogos de E-Sports. Foi exclusivamente com alunos da rede pública e privada. Apesar disso, o nível estava muito alto, não?
Nesse campeonato, eu disputei contra 10 mil jogadores, onde somente 40 foram para a final e só dois ganhavam premiações, no caso o campeão e o segundo colocado. Quem fizesse mais pontos, com melhor desempenho, seria o campeão. Eram três partidas, porém, na primeira eu já fui muito bem e a confiança aumentou. Mas na segunda e na terceira, eu não tive um desempenho tão bom. Por isso, no final e estava tenso. Tanto que eu ganhei por apenas um ponto. Foi uma loucura!
E como foi a repercussão dessa vitória entre os amigos, família após a conquista em São Paulo?
Nem eu esperava tanta repercussão que teve. Os meus amigos postaram tudo, os meus familiares; ganhei muito seguidor, meus vídeos bateram metas grandes e foi isso… Tudo muito bom; muito legal a repercussão que teve.
Com tudo isso acontecendo em sua vida, sonha um dia ser profissional? Falta muita coisa ainda para evoluir no seu jogo?
Sem dúvida, é um sonho. Eu pretendo não desistir dos estudos também, já que eu estou em uma escola muito boa (Etec Cel. Febeliano Fernando da Costa) e fazendo um curso (Técnico em Mecatrônica). Mas é um sonho de ‘moleque’, como se fosse um sonho de ser jogador de futebol, como hoje todo mundo tem. O meu é ser jogador de ‘Free Fire’. Eu sonho com isso’!
E o que precisa, além do talento, é claro, para ser jogador profissional de ‘Free Fire’? Sabemos que é necessário também sorte, não basta apenas ser competente. É preciso estar no lugar certo e na hora certa. É por aí?
Assim como no futebol, você precisa se destacar sempre. Só que no futebol é mais com relação a empresários. Mais no mundo ‘Free Fire’ você precisa entrar em campeonatos, ‘entrar de cabeça’ , se destacar, ficar horas jogando e pedir muito a Deus uma oportunidade, porque a oportunidade é que vai te levar longe.
É como no futebol, no início você tem de correr atrás. Principalmente quando está no início…
É isso. No momento, não recebi nenhuma proposta, mas quando fica famoso, fica literalmente tudo mais fácil. Um jogador profissional ganha no mínimo um salário mínimo e no máximo milhões. É difícil falar em máximo, porque se você chegar ao ápice da carreira, não existe limite. Hoje, eu estou na luta ainda, mas a minha glória vai chegar.
E quais os planos para o futuro agora. O que está em sua agenda para os próximos eventos. Quais os próximos campeonatos?
Olha, eu terei uma peneira de um time de Série B, o “Stars Horizon”, de Campinas, que vai ser realizada nas próximas semanas. E vamos esperar as partidas, para ver qual será o meu desempenho.
E você está se preparando muito para esse dia? Como se prepara para um evento tão importante? Por que esse é o sonho de todo jogador que está começando, não é mesmo?
Eu treino muito, cerca de oito a dez horas por dia. Tem de ser muito inteligente. Se você for bom, em questão de tiro, porque o jogo é de tiro, se for bom de bala, é muito bom. Mas se você não tem a cabeça aberta, a mente aberta, você não consegue se destacar tanto. Então, tem de ser muito inteligente.
E para terminar, qual o conselho que você dá para essa galerinha que pensa dia e noite neste jogo?
Olha, não desista dos seus sonhos. Eu, sinceramente, não acreditava no meu. Então, foi uma oportunidade de ‘um em um milhão’ e deu tudo certo. Então, vocês que vão ler aqui, não desistam por que o seu sonho é a felicidade de sua mãe, de seu pai e a sua felicidade. Então, nunca desista!
Erivan Monteiro
erivan.monteiro@jpjornal.com.br
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