Ao nosso eterno prefeito, o último adeus

Por Editorial JP | 15/07/2022 | Tempo de leitura: 4 min

Por Marcelo Batuíra Losso Pedroso

Poucos são aqueles se sabem viver uma vida digna. Porém, mais poucos ainda são os que, imbuídos pelo altruísmo, vivem uma vida que a todos em sua volta beneficia. Adilson Maluf foi uma dessas poucas, raríssimas pessoas que ajudaram toda uma cidade, a nossa cidade. A cidade que ele tanto amava e pela qual tanto lutou. Escolheu o pior dos caminhos: a política. Mas nela soube ser fiel a seus princípios, não esmoreceu. Lutou bravamente.
Foi nosso prefeito mais jovem: aos 28 anos era eleito. Corria o ano de 1972. Homem de visão, no seu primeiro ano de mandato foi aos Estados Unidos para buscar investidores para a cidade, pois como engenheiro que era, sabia que sem aporte de capital a cidade pereceria. Eram tempos difíceis, em plena ditadura militar. Adilson Maluf sabia que podia fazer a diferença para os piracicabanos. Com os investimentos, vieram os empregos e a cidade pode prosperar. Governou a cidade como um administrador eficaz, não como um político. Sabia valorizar o que dava resultado, sabia cortar gastos desnecessários.
Ao fim de sua gestão, em 1977, Piracicaba enfrentou anos negros, anos do fatídico episódio conhecido como “o mar de lama”. Só quem viveu, pode se lembrar. Piracicaba foi alvo do noticiário nacional: as páginas negras de Piracicaba.
Em novembro de 1982, novamente Adilson Maluf é eleito prefeito. Foram mais 5 anos: de 1983 a 1988. Os piracicabanos não esqueceram daquele jovem prefeito. A confiança havia voltado, a cidade podia respirar novamente. Viramos as páginas negras de nossa história.
Era agora um prefeito maduro que sabia olhar para os que mais precisavam dele: as entidades sociais estavam desamparadas e desorganizadas. Era preciso criar a algo que desse fôlego financeiro às entidades sociais privadas que atendiam aos pobres e aos necessitados. Assim nasceu a Festa das Nações, um evento anual de gastronomia e filantropia sem precedentes em outras cidades. Todo dinheiro arrecadado iria beneficiar, senão até mesmo sustentar, por um ano, várias entidades assistenciais da cidade.
Grandes memórias nos ligam a Adilson Maluf. Engenheiro, sempre jovem, sempre altivo, enquanto todos nós olhávamos o presente, ele estava de olho no futuro. Um passo sempre à frente. Visão de estadista. Um dia do mês de abril de 1985 foi até nossa casa, sentou-se em frente à velha cadeira de balanço que meu avô ocupava e nos disse o quanto meu avô, Fortunato Losso Netto fora importante para a cidade, o quanto ele tinha, talvez sem mesmo perceber, moldado a Piracicaba do século XX. Adilson, foi o primeiro a reconhecer. Perguntou-nos como quem não quer nada: “aquele busto ali (sobre a estante da lareira) não poderia ir outro lugar?”. E completou: “quero colocar no Teatro Municipal, dando a este o nome de Dr. Losso Netto”. O busto de Losso Netto, em bronze, esculpido no final da década de 1960 por Luiz Morrone, foi então para o hall do Teatro Municipal.
Poucos sabem, mas foi Adilson Maluf que também deu à Piracicaba seu hino oficial: não uma marchinha como muitas outras cidades, mas uma moda de viola caipira, escrita e composta em 1931, por Newton de Almeida Mello. A composição musical “Piracicaba” foi oficializada como hino da cidade e do município pela Lei nº 2207, de 30 de dezembro de 1975, pelo então prefeito Adilson Maluf. Vale transcrever suas palavras que justificavam o projeto de lei: “Ninguém, temos certeza, colocará em dúvida a popularidade da composição de Newton de Mello, nem a profundidade de seu significado humano, social, artístico e cívico, além da exatidão com que ela virá a ajustar-se como hino do povo piracicabano”.
Em 1993, numa breve passagem sua pela Câmara dos Deputados honrou seus votos e seus princípios: foi um dos poucos que votaram contra a instituição do injusto e famigerado Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF). E em 2007, realizou seu grande sonho: ser Presidente do XV de Piracicaba, o que segundo suas próprias palavras, era mais difícil de administrar que a própria cidade.
Uma vida bem vivida é aquela cujos atos são como sementes, que ao serem espalhadas, caem na terra úmida e fértil e geram raízes; estas, por sua vez, crescem devagar, mas fortes e mesmo com o passar dos anos, ainda nos dão frutos. Essa vida foi a de Adilson Maluf. Que sua vida sirva de exemplo, pois será como um farol de popa a guiar nossos caminhos.

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