“Sofremos porque somos estranhos a nós mesmos”

Por Francisco Ometto | 25/06/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Você sabia que uma criança hoje tem mais informação que um imperador romano tinha no passado? Imagina os adultos! E, não satisfeitos, vamos congestionando cada vez mais nossa mente: com o que não é necessário! Consequência direta: estamos nos abandonando… O autoconhecimento é coisa de filósofo, a gestão e os cuidados emocionais são itens supérfluos; depressão é coisa de gente rica e terapia é para loucos… Entretanto, as doenças psicossomáticas e a infelicidade vêm caminhando na mesma estrada (veloz) do preconceito e da tecnologia… Doenças que estampam crises internas, sufocadas, mal elaboradas e que, paradoxalmente, surgem para tentar “falar” o que não se está conseguindo falar, o que não se está conseguindo resolver.

De forma inconsciente, o que ocorre é a busca de uma espécie de “acalento” na doença psicossomática, numa tentativa de fuga do sofrimento, da angústia, dos desconfortos, desesperanças e conflitos. É o corpo “transmitindo” a alma, mesmo porque, na maioria das vezes, a pessoa só consegue utilizar essa forma de comunicação.

Fato é que as emoções conversam com o corpo e um dos maiores Psicanalistas que tivemos, Jacques Lacan, numa conferência que proferiu em Genebra (Suíça), fez uma importante analogia entre o fenômeno psicossomático e um hieróglifo, afirmando que o primeiro é como uma espécie de escrita no corpo, baseada num código estranho e que só passa a fazer sentido quando esse código é desvendado.

Fato incontrolável é que, por problemas e angústias todos nós passamos, entretanto, aceitar e saber lidar com isso faz toda a diferença. Mas, lidar com o que? Em primeiro lugar, consigo mesmo! Aí está o segredo e por isso escolhi como título do artigo de hoje este sábio pensamento de Sigmund Freud.

Nada vai funcionar para uma pessoa se ela não estiver acertada com ela mesma. Explico com alguns exemplos: não existe sucesso num relacionamento a dois quando existem “metades” a serem completadas. O que faz um relacionamento ter sucesso é a união de duas pessoas completas, resolvidas, de bem com elas mesmas. Não haverá uma carreira de sucesso para uma pessoa de alto QI e um baixo QE, ou seja, uma pessoa de alto potencial técnico e acadêmico, entretanto, com dificuldades em gerir suas emoções, se autoconhecer e se relacionar com os outros. Todos esses conflitos vão fazendo as pessoas se refugiarem delas mesmas e muitas também buscam outros “alívios”, como a vitimização, a reclamação ou a terceirização. E é triste ver pessoas culpando as outras desnecessariamente, apontando o dedo, sem comprometimento ou propostas de solução, causando apenas mais problemas para elas e terceiros. Independente da sua posição, faça sua parte. Se o outro não está correto, o máximo que você pode fazer é conversar, tentar conscientizar, e, se não adiantar, não vá além do que você pode ir e não crie “mais” problemas. Descongestione-se. Respeite as escolhas dos outros.

A Filosofia e mais precisamente o Estoicismo, aliados à Psicanálise, nos ajudam (também) no tema de hoje. A maioria absoluta do sofrimento que há no mundo e as consequentes doenças emocionais e físicas têm suas causas na falta da compreensão e da aplicação destes ensinamentos e é por isso, também, que uma das principais funções do Analista é desvendar os “hieróglifos” que o inconsciente do paciente vai revelando nas sessões, como citei mais acima na analogia de Lacan.

“Quem conhece os outros é sábio; quem conhece a si mesmo é iluminado”. (Lao-Tsé)

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