Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (Parte 3/4)

Por Luiz Xavier | 21/06/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Não é incomum o relato de crianças que presenciam na casa de amigos, vizinhos e parentes, situações que envolvem apresentação de material pornográfico ou brincadeiras com contato físico íntimo com adolescente ou adulto, atitudes consideradas violência sexual tanto quanto o voyeurismo, o exibicionismo e ato sexual (com ou sem penetração). Por isto, a única forma de proteger as crianças do abuso sexual é construindo conjuntamente a ideia de intimidade, privacidade e respeito.
Proteger a criança contra o abuso sexual é ensiná-la sobre os limites entre seu próprio corpo e o corpo de um adulto; é ensiná-la o que cada um pode ou não fazer com esses corpos. Proteger é livrar o filho de qualquer submissão. Mas para isso, é preciso que primeiro nos livremos de certas amarras que mantém uma ordem aparente, como a de família perfeita. Para proteger a criança contra o abuso sexual é preciso, sem dúvida alguma, ter ‘ouvidos de ouvir’ e força para enfrentar, primeiramente, os monstros que nos habitam”. 
Estatísticas pelo mundo afora revelam que o abuso sexual (e outras formas de violência) acontece em todas as classes sociais e, na grande maioria dos casos, dentro da própria casa, por pessoas conhecidas e da confiança da criança, e não por pedófilos ou psicopatas. Por isto, o limite entre o que é abuso e o que é carinho às vezes se confunde, dificultando a consciência da criança do ato abusivo. Patrícia Grinfeld cita dois autores, Pfeiffer e Salvagni:
‘O agressor usa da relação de confiança que tem com a criança ou adolescente e de poder como responsável para se aproximar cada vez mais, praticando atos que a vítima considera inicialmente como de demonstrações afetivas e de interesse. Essa aproximação é recebida, a princípio, com satisfação pela criança, que se sente privilegiada pela atenção do responsável. Este lhe passa a ideia de proteção e que seus atos seriam normais em um relacionamento de pais e filhas, ou filhos, ou mesmo entre a posição de parentesco ou de relacionamento que tem com a vítima.
As abordagens, que se tornam cada vez mais frequentes e abusivas, levam a um sentimento de insegurança e dúvida, que pode permanecer por muito tempo, na dependência da maturidade da vítima, de sua estrutura de valores e conhecimentos, além da possibilidade ou não que teria de diálogo e apoio com o outro responsável, habitualmente favorecedor, consciente ou não, da violência.
Quando o agressor percebe que a criança começa a entender como abuso ou, ao menos, como anormal seus atos, tenta inverter os papéis, impondo a ela a culpa de ter aceitado seus carinhos. Usa da imaturidade e insegurança de sua vítima, colocando em dúvida a importância que tem para sua família, diminuindo ainda mais seu amor próprio, ao demonstrar que qualquer queixa da parte dela não teria valor ou crédito. Passa, então, à exigência do silêncio, através de todos os tipos de ameaças à vítima e às pessoas de quem ela mais gosta ou depende. O abuso é progressivo; quanto mais medo, aversão ou resistência pela vítima, maior o prazer do agressor, maior a violência’.
É por isto que a situação de abuso sexual só finda mediante denúncia contra o agressor e medidas de proteção à vítima.

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