Sorte e Desgraça

Por André Sallum | 03/06/2022 | Tempo de leitura: 3 min

As diversas situações da vida se apresentam ora como positivas e benéficas, ora como negativas e maléficas, a depender não somente dos fatos, mas sobretudo de como são percebidos e considerados a partir da realidade interior de cada um.
Tomemos como exemplo alguém que receba um prêmio ou uma herança, o que, sob um olhar imediatista e superficial, pode ser considerado benéfico. Entretanto, se essa pessoa se utilizar do dinheiro de modo irresponsável, pode não somente perder tudo que haja ganhado como desperdiçar excelente oportunidade de usar bem os recursos transitoriamente em suas mãos, além de ter atrofiadas as forças morais ao se entregar às ilusórias facilidades que a riqueza proporciona. Pode, além disso, expor-se a riscos e perigos desnecessários e perder-se em viciações diversas.
Por outro lado, há pessoas que diante das mais adversas circunstâncias conseguem superar todos os obstáculos e vencer cada desafio que se apresenta, alcançando êxitos jamais possíveis se houvessem contado com facilidades. Tais pessoas aprenderam a transformar aparentes dificuldades em alavancas de crescimento e oportunidades de realização. Tudo indica que em nosso atual nível evolutivo ainda precisamos de certos estímulos e desafios mais intensos para não nos desviarmos dos propósitos evolutivos da vida.
Aquilo que convencionalmente se chama de sorte pode sê-lo apenas na aparência. Geralmente consideramos positivo aquilo que satisfaz nossos desejos, ambições, caprichos e fantasias, que nos mantém na zona de conforto e nos traz aparente tranquilidade – ou seja, tudo o que nos alimenta o ego e atrapalha nossa evolução.
Frequentemente o excesso do que seria bom se converte em prejuízo, por extrapolar sua função ou desviar-se do equilíbrio. Assim, o excesso de zelo, carinho e concessões dos pais, ao negligenciarem ao filho o exercício de limites, disciplina, obediência e respeito desvirtua o caráter da criança, criando futuro adulto desajustado, disfuncional e infeliz, incapaz de lidar com as contrariedades e com os mais simples desafios do cotidiano. Por outro lado, o excesso de rigidez, crítica e cobrança de pais autoritários e intolerantes pode sufocar emocionalmente a criança e impedir seu livre florescimento.
O que se apresenta como favorável e benéfico para alguém pode não ter o mesmo valor para outrem, dadas as diferenças individuais quanto aos temperamentos, valores, anseios e necessidades.
Segundo a lei universal de causa e efeito, ou lei do carma, estudada e difundida nas mais variadas religiões, aquilo que se considera sorte ou graça é o resultado de esforços pregressos, ou um tipo de empréstimo, moratória ou concessão da vida a quem o peça ou se abra a recebê-lo. Essa visão permite que se considere tanto os antecedentes, próximos ou remotos, quanto as consequências, a curto ou longo prazo, da questão considerada, compreendendo-se que quaisquer ocorrências, felizes ou não, são consequência natural do que se atrai por sintonia e merecimento.
Independentemente de circunstâncias exteriores, quer nos agradem ou não, parece-nos que o mais importante é o rumo que damos à própria vida, pois depende essencialmente de nós, que sentiremos os efeitos de todas as nossas escolhas e ações, de modo imediato ou tardio. Segundo tal perspectiva, importa não apenas esperar por situações favoráveis que venham de fora, mas criar condições internas para um viver correto, recebendo, naturalmente, as dádivas que a vida sempre oferta a todos os seres.

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