Jesus Vive!

Por David Chagas | 24/04/2022 | Tempo de leitura: 4 min

Não houve, naqueles anos distantes quem lhe indultasse. Também não lhe permitiram, no Sinédrio, ampla defesa. Ah esta reunião de confrades determinando tudo sem que haja Luz sobre eles!
Como não há em mim nenhuma dúvida, aflijo-me diante do que leio e ouço a respeito do Filho do Homem, em tempos moderníssimos como estes, eu que envelheço sob tantas marcas deixadas. Por sorte, pude, antes, conhecer e aplaudir escritores que souberam, em seus escritos, ensinar-me a respeito da vida, sem afastar-me dele e de sua palavra, mas intensificando sua força, sua luz, em espírito e em verdade.
Machado de Assis, quem primeiro me ensinou. Com ele, pude entender a importância de não transmitir a ninguém como legado, a miséria que nos domina.
Será o país que me provoca tamanha indignação?
Vejo o mundo fora do tabuleiro, sem entender bem que peça devo movimentar para vitória digna. O impasse se agiganta. Muitos saem aflitos por trás de religiões, as mais diversas, à procura de caminho capaz de dar sentido somente a seus anseios.
Basta de especulações filosóficas e teológicas em torno de lugares comuns, normalmente propaladas por quem não cuida sequer do que lhe compete, com competência e cuidado.
Da leitura do flagelo, da dor, do martírio imposto a Jesus na caminhada para o Monte Calvário, entendo não ter havido nenhuma voz em sua defesa. Os evangelistas, sinóticos por excelência, por vezes se repetindo, outras tantas, se contradizendo, pouco acrescentam àqueles que, como eu, querem alinhar-se ao sofrimento de quem fez por libertar-nos do que nos pesa a alma.
Tudo parece igual. Os detentores do poder, dois mil anos depois, provocam medo, em seus discursos. A palavra é o detalhe que nos revela seu espírito. O olhar, o gesto é a forma, em meio ao lamaçal de maldade que os envolve, de subverter, com o mal, a ideia de bem, de bom senso, de acerto. Há quem os siga, quem crê no que dizem e fazem, que lhes traga a bacia com água lavarem-se as mãos.
Nos primeiros tempos cristãos, até seus nomes causavam repulsa. Não tinham, penso eu, nenhuma preocupação com o rastro que, deles, ficaria na história. Hoje, os tempos são outros. Deixar como herança a miséria humana, é escolha pessoal. Permitir que isso se esparrame ao longo da vida de herdeiros é maldar, sem dó nem piedade.
Herodes Antipas, governador da Galileia. Pôncio Pilatos, governador romano. Estes, os que denunciaram, interrogaram, acusaram e, julgando a Jesus Cristo, lhes determinaram sentença.
Não houve naqueles, por certo não haverá nestes, latejo que, incomodando, provoque pesar e arrependimento.
Cresci respeitando sobremaneira a data em que se recorda a paixão e morte de Jesus Cristo em todo seu sofrimento. Também soube reconhecer o cântico de vitória, passada a desolação, quando, num transbordamento de Vida e Luz, ressurgiu.
Depois de episódio tão desolador, a vitória, explosão de luz, triunfo da vida em toda sua proeminência. Se a fé lhe permite entender, Cristo ressurrecto vive entre todos.
Há os que, dizendo-se seus seguidores, fazem uso indevido de seu nome. Desenham gestos rudes contra seus semelhantes, armam incautos, praticam ações repugnantes sem observar o aleta de Mateus, em seu Evangelho. Por todo lado e em toda parte, violência, atrocidades, desrespeito à mulher, sublimada por Deus e por Ele dignificada. Fome, muita fome, entre idosos, ao final de uma vida marcada pela desesperança; entre crianças, quem, sem pensar, vive a deixar pelos caminhos a marca de sua inocente tristeza, que lhes rouba, sem que se apercebam, o brilho próprio da vida, dando imprecisão ao olhar impreciso, destruído já no despontar da existência, sem dar lugar a sonhos.
Difícil, bem sei. Nestes tempos sombrios, marcados pela morte, sugerindo em cada ato (doenças, guerra, mentiras, descalabros, injustiças) de quem, no poder, se imagina eterno e não se apercebe que a vida se esvai e traz, nisto, um desejo incontido de que a espécie desapareça.
A hora nona, aquela em que, abandonado, Cristo clama pelo Espírito do Pai, exige reflexão profunda e demorada. Hoje, mais que ontem, porque a história em nada ou quase nada tocou o coração dos homens nem lhes deu maturidade para não repetir erros semelhantes, já que prosseguem insistindo em erros contra tudo e todos, contra a natureza, onde Deus se espelha. Prosseguem perdoando criminosos de toda ordem, cedendo à pressão indevida, ferindo honras, maculando a dignidade de muitos. Quanta escola fez Herodes! Quanto deixou Pilatos!
As escrituras não são livros de história. Exigem cuidado no entendimento de relatos, na observação do momento. Do nascimento à morte de Jesus Cristo, tudo nos leva a agigantar-nos diante do inesperado: a Ressurreição. Talvez aí seja o momento de celebrar a vitória dos justos.
Dentre tantas mensagens, uma há que repetir sempre: Jesus Vive! Se vive, como entender o comportamento inaceitável de Pilatos assentados em bancadas do poder, cuidando de lavrar o mal, primeiro, lavar as mãos depois. Cenário absurdo desenhado por mãos que desconhecem o real sentido delas.
Acredite: está vivo o Filho de Deus. As marcas se evidenciam no gesto, no aceno, no sinal de luz que se acende sobre o que dele e nele se origina. Com Ele e por Ele, Felizes Festas de Páscoa!!

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