Cecílio Elias Netto faz ressalvas sobre a influência do galego no português e diz que ‘caipirês’ resiste
Mindinho, seu vizinho, maior de todos, fura-bolo e mata piolho. As pessoas com mais idade devem se lembrar facilmente sobre esses nomes dados aos dedos das mãos, um jeito de falar sob ameaça de desaparecer. Segundo estudo da filóloga Lívia Carolina Baenas Barizon sobre o dialeto caipira, os mais jovens estão perdendo o palavreado tradicional usado pelos moradores de cidade localizadas próximas às margens do Rio Tietê. A tese foi apresentada recentemente na USP (Universidade de São Paulo) e tem como base o uso de 85 palavras do Atlas Linguístico Galego.
Conforme informações publicadas pelo jornal da universidade, os idosos são verdadeiros guardiões do sotaque acaipirado. A pesquisa de Lívia passou pelas cidades de Santana do Parnaíba, Itu, Sorocaba, Porto Feliz, Pirapora do Bom Jesus, Capivari, Piracicaba e Tietê.
O público consultado foi homens e mulheres de três faixas etárias: de 18 a 25 anos (jovens); de 36 a 55 anos (adultos); e acima de 60 anos (idosos). A pesquisa incluiu um bate-papo, aplicação de questionário e um desenho do corpo humano para que os entrevistados nomeassem cada parte dele.
O resultado para o grupo de 85 palavras entre os jovens foi de que 58% estão em desuso. A falta de hábito com tais palavras também é grande entre as mulheres pesquisadas, público que atingiu 45%. Os homens têm abandonado menos os termos antigos, ficando com 18% na pesquisa.
COM A PALAVRA…
Quando o assunto é dialeto caipira não se pode deixar de consultar a maior entidade no tema, o jornalista e escritor Cecílio Elias Netto. Estudioso da linguística e autor do ‘Dicionário do Dialeto Caipiracicabano’, a primeira ressalva feita por ele é a referência do galego e seu impacto no português. Para ele, a maior influência no vocabulário local vem de Portugal e de línguas anglo-saxônicas e, se houve alguma transferência para cá, chegou por meio dos portugueses. Na avaliação de Cecílio, o mais importante mesmo é o sotaque caipira. Perguntado se há alguma chance do ‘caipirês’ acabar, o escrito coloca uma dúvida crucial. “Quando a TV apareceu, já se falava nisso”, disse o jornalista. No ‘fringir dos ovos’, ele é enfático: as classes econômicas com mais poder aquisitivo acabam deixando o dialeto caipira, mas que sempre vai resistir entre os menos abastados e nos que mantém aquele bate-papo como rotina.
Cristiane Bonin
cristiane.bonin@jpjornal.com.br
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