Amores e Paixões

Por José Faganello |
| Tempo de leitura: 3 min

“Quero apenas cinco coisas/ Primeiro é o amor sem fim / A segunda é ver o outono / A terceira é o grave inverno / Em quarto lugar o verão / A quinta coisa são teus olhos / não quero dormir sem teus olhos / não quero ser… sem que me olhes. / Abro mão da primavera para que continues me olhando” (Pablo Neruda)

O amor clareia, conforta, dá sentido ao nosso viver, enquanto a paixão cega impede-nos de perceber a que exageros ela nos impele. O apaixonado se perde no outro, mergulha num sonho que o tira da realidade e na maioria das vezes faz com que os amantes mais sofram do que usufruam do amor. É incontável o número de enamorados que encontraram a desgraça em seus insanos amores. Marco Antonio e Cleópatra, histórico e clássico romance culminado com a morte dos dois; Romeu e Julieta, conto que teve como cenário a cidade de Verona, na Itália. Duas famílias poderosas, Montechio e Capuleto, inimigas mortais, viviam em constantes conflitos. Romeu, da família Montechio, para se esquecer do amor não correspondido à jovem Rosalina, foi a um baile de máscaras dos Capuletos, lá se apaixonou por Julieta. Esse amor também terminou em tragédia, Romeu morreu envenenado e Julieta apunhalou-se com a adaga dele. Tristão e Isolda foram protagonistas de outro trágico desenrolar amoroso, durante a Idade Média. A história de Tristão foi marcada por tragédias, desde a morte de sua mãe quando ele nasceu e de seu pai numa batalha, quando perdeu o reino de Lionesse. Foi criado por um cavalheiro, como se fosse seu filho. Quando criança, por acidente, matou um colega numa briga. Enviado a Bretanha para ser educado, foi aprisionado por piratas mulçumanos, mas conseguiu fugir. Ao tomar um filtro de amor preparado pela criada, para a noite de núpcias de sua ama Isolda, com Marco, rei da Cornualha, foi tomado por irresistível paixão por Isolda e tornou-se amante dela. Descoberto seu amor teve de fugir, mas amargurado morreu e Isolda veio para morrer ao seu lado. Podemos dizer que a paixão, na maioria das vezes, nos põe a perder, porém, igualmente, essas historietas mostram-nos que o amor tudo vence, menos a morte, aliás, inevitável. Esses amantes que tiveram um fim trágico se pudessem viver duas vezes, saberiam como dosar sua paixão ou fugir dos perigos que os eliminaram? O amor verdadeiro não muda com o dia e a hora, mesmo quando o tempo entorta nossos lábios e enruga nossa face; ele persevera até a morte e, com certeza, aquele que perdeu seu amor pela fatalidade, que a todos atinge, se tiver a grande sorte de encontrar um novo e verdadeiro amor é um predestinado. Devemos saber, no entanto, de que nenhum amor nos proporciona um tranqüilo curso e nos livrará de muitas atribulações. Privilegiado quem descobre que o amor que se procura é bom, mas aquele que recebeu, sem busca, é melhor. Felizes serão aqueles que não são contemplados com um amor medíocre e vulgar, apenas ocupado no deleite dos sentidos e nele colocam o maior valor. Um amor ideal, sublime diria, alimenta-se em extasiar-se diante da pessoa que ama e ter para com ela um pensamento constante, fazendo-a a razão primeira de sua vida, não admitindo passado nem futuro. Esse amor, por incrível que possa parecer, permite-nos o privilégio de nos magoarmos reciprocamente e a propósito de nada, mas, nem por isso ser diminuído. Assim como o bom vinho pode tornar-se vinagre e as plantas de nossos jardins secam se na forem regadas, assim acontece-se com o amor, ele exige cuidados constantes. Ele sempre foi cantado em prosa e verso e, aos enamorados, encerro com essa perfeita síntese do imortal Luis Vaz de Camões: “Amor é fogo que arde sem se ver; / é ferida que dói e não se sente;/ é contentamento descontente;/ é dor que desatina até doer;// é um não querer mais que bem querer;/ é um solitário andar por entre a gente;/ é nunca contentar-se de contente;/ é um cuidar que se ganha em se perder;”...

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