“A porca”

Por Walter Naime |
| Tempo de leitura: 3 min

Se alguém perguntar o que é que tem focinho de porco e não é porco, tem rabo de porco e não é porco, tem orelha de porco e não é porco, tem intestinos de porco e não é porco, o que diria?
Você já deve ter ouvido essa pergunta, uma dezena de vezes. No entanto a pergunta permanece viva, porque o nobre suíno, pelos estudos de anatomia é o animal que mais tem os seus órgãos semelhantes aos humanos, e até podem ser substituídos uns pelos outros.
Como a língua portuguesa é muito rica e não faz parte dos componentes da feijoada, nos fornece alternativas da palavra porca e ao mesmo tempo dá a dica de que a resposta para a pergunta inicial é “feijoada”.
A feijoada foi criada no Brasil, nos tempos da escravidão, pois os restos resultantes da matança dos porcos eram fornecidos aos escravos cozidos com o feijão fazendo parte do conjunto. Hoje é um prato moderno e degustado por muitos, servido com farinha, couve e laranja, uma delícia para os humanos. Devido as semelhanças dos órgãos do porco e a do homem surge a ideia que a feijoada poderia ser a prática de um canibalismo moderno.
A porca de que iremos tratar é o que forma o conjunto “parafuso e porca”, que serve para apertar qualquer coisa contra outra, fixando o que estiver entre as duas. Essa que não tem cheiro ruim, não é mole, não ronca, não procria, não engorda, e sua dureza não permite ser mastigada só serve para arrochar pois normalmente é metálica ou plástica.
No caso do parafuso sem a porca o aperto é feito com uma chave diferenciada e a fixação é feita pela hélice do parafuso. O adicionamento da porca é o que serve para travar o acoplamento.
No cenário sociológico e governamental o povo é o que sempre fica entre o parafuso e a porca, apertado entre o sistema político e os manobradores mandantes.
Para isso basta examinarmos o que já se passou e o que estamos passando no comportamento atual.
Parece que os políticos não governam para o povo, mas atendem às desavenças entre si, para manter o seu status e posição de mando e assim o conjunto parafuso e porca são os operadores da ação das porcas contra o povo. Nesse processo, na linguagem da mecânica o parafuso nunca chega a espanar, mas o povo sofre o esmagamento da esperança aguardando a melhora.
Na vivência desses momentos não conseguimos escapar das hélices pressionadoras de suas roscas, aparecendo a falta de trabalho e renda, com 14 milhões de desempregados, com alta da inflação afetando o poder de compra, com 60 milhões de almas procurando o altar da fome, pois a ração para os “suínos” sempre aumenta e mal terminam já estão afiando os dentes para outras refeições.
Em nosso país as eleições são para escolher os governantes e não para escolher os políticos com propósitos positivo. Os políticos deveriam ser escolhidos pelos seus méritos, pelos valores, pelo respeito à causa pública, discutindo as políticas através de planejamento e capacitação, para depois serem apresentados às urnas.
O nosso hino que espelha nossa grandeza está totalmente deturpado e com todas essas porcas comprimindo nossas reservas, a boa feijoada vira uma “porcaria”. Estamos distantes das práticas citadas, mas tentando concretizar a mesma e cada vez mais nos aproximando de soluções concretas para amenizar o “aperto” que esmaga tudo diante da ganância de uma peça com o nome igual a mulher do porco: a “porca”.

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