Relações comerciais de nossa região com a área do conflito

Por Gilmar Rotta |
| Tempo de leitura: 3 min

Antes de abordar a questão comercial, tema da exposição, vejo a necessidade de registrar consternação pelo aspecto humanitário envolvido em conflitos armados. Falhamos como sociedade global ao expor nossos semelhantes ao flagelo.
Retomando o tema, logo que recebi as primeiras notícias da deflagração do conflito reuni a equipe técnica do Parlamento Metropolitano de Piracicaba e orientei para a imediata estimativa de exposição ao risco de nossas relações comerciais com as áreas envolvidas, especificamente Rússia e Ucrânia. Pelo núcleo de estudos que implantamos, sempre com foco no desenvolvimento regional, senti a obrigação de subsidiar conteúdo para preparar nossos Parlamentares.
Com base nos dados oficiais, apuramos que a exposição era até modesta, já que no ano de 2021 o conjunto de municípios da RMP exportou para Rússia e Ucrânia o equivalente a US$ 48 milhões e importou de lá ainda menos, US$ 14 milhões. Considerando as somas de US$ 4,1 bilhões para nossas exportações regionais totais, e de US$ 3,7 bilhões para importações, concluímos que a área do conflito recebe o equivalente a 1,17% de nossas exportações e envia 0,39% de todas as nossas importações.
Nos extremos, Piracicaba respondeu por cerca de 90% do total exportado pelo bloco para a área de conflito, liderado pelo grupo de máquinas e aparelhos mecânicos; e Rio Claro também por cerca de 90%, mas da importação, com predominância de químicos e seus derivados, como polímeros.
A análise quantitativa não se mostrou preocupante, mas também não foi suficiente para me satisfazer, como líder da pesquisa, com a entrega ao Parlamento de um conteúdo com a necessária abrangência.
Já pela análise qualitativa, provoquei um longo debate na equipe acerca de uma observação que lancei, destacando que se nossa Região Metropolitana tem características bem particulares em relação às demais, com participação do agronegócio na economia superior a do total do Estado, quais possíveis desdobramentos que a simples análise numérica do passado não estaria revelando?
Analisamos naquele momento a importância do Leste europeu como supridor de matérias-primas para a produção mundial de fertilizantes agrícolas, e que qualquer incerteza adicional poderia prejudicar o fornecimento, bem como produção de alimentos, com consequência em preços. Independentemente de onde venha o insumo agrícola, pode ter dependido da matéria prima de lá.
Também identificamos a dependência mundial do leste europeu por grãos, como trigo, e milho; além de energia, como petróleo e gás para a Europa. Ainda que importemos de outros parceiros, um eventual choque de oferta afeta o balanço mundial, refletindo nos preços.
Formamos consenso pelo raciocínio de que nem poderíamos afirmar que o comprometimento maior estaria nas exportações para a agredida Ucrânia, já que retaliações e sanções econômicas têm o poder de prejudicar uma área muito maior no tabuleiro do comércio internacional.
Por fim, em meio a intensas trocas de impressões entre a equipe ao longo do final de semana, assistimos à entrevista, ao Programa Globo Rural, do Economista José Roberto Mendonça de Barros, um dos maiores especialistas no agronegócio brasileiro, cujo discurso veio alinhado ao que havíamos publicado na sexta-feira. Sentimo-nos realmente oferecendo um trabalho de utilidade pública regional.

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