Vidas em construção

Por André Sallum | 25/02/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Na dimensão material em que nos encontramos, os seres, as pessoas, os relacionamentos e as instituições estão em permanente transformação, às vezes imperceptível pela nossa incapacidade de reconhecer mudanças sutis ou de longo curso.
Fenômenos surgem, têm seu apogeu, declinam e desaparecem, sendo substituídos por outros, no dinamismo incessante da vida. Os seres e as organizações nascem, crescem, se desenvolvem, amadurecem, envelhecem e morrem, encerrando o ciclo de existência na matéria. O próprio planeta em que vivemos segue ciclos, embora mais longos, o que por vezes escapa à apreciação humana.
Aquilo que se apresenta como destruição ou morte faz parte de ciclos mais amplos, através dos quais o que parece ter sido destruído ressurge sob novo aspecto, aprimorado e renovado. Assim, a destruição é parte necessária e inevitável para posterior renascimento.
Uma visão de conjunto, a qual contempla as transformações a que estão sujeitas as pessoas, os objetos e as instituições, permite certo distanciamento e favorece o desapego, a fim de que não se considere as circunstâncias desagradáveis ou adversas com excessiva dramaticidade. Também permite uma concepção existencial que reconhece, aceita e respeita os inumeráveis ciclos da vida e de tudo o que existe, ao mesmo tempo que estimula a busca de referências e valores que se encontram além da fragilidade e transitoriedade do mundo material. Nesse trabalho permanente de construção e reconstrução somos, ao mesmo tempo, autores e obras; em decorrência de nossas escolhas e atos, determinamos as suas consequências a nós mesmos. Somos, desse modo, construtores e construções de nós mesmos, o que nos evoca um maior senso de responsabilidade.
Sempre temos aspectos de nossa personalidade ou caráter que precisam ser demolidos, dissolvidos ou remodelados, por se mostrarem envelhecidos ou disfuncionais, além daqueles que necessitam de reforma, substituindo-se padrões inadequados por outros, melhores. Importante reconhecermos aspectos de nós mesmos, das circunstâncias e da vida que não temos possibilidade de mudar, pelo menos não como gostaríamos de fazê-lo nem no momento em que desejaríamos que ocorressem. Em tais situações, a vida nos pede paciência e fé, ao lado de uma entrega incondicional a desígnios superiores, os quais podem resolver da melhor maneira possível o que nos foge ao controle.
Quando defrontados por fracassos, perdas, quedas e derrotas, somos convidados ao reerguimento e à reconstrução, utilizando-nos da experiência como alicerce para novos empreendimentos. Com esse espírito de aprendizes que somos, torna-se mais fácil e menos penoso o necessário trabalho de reconstrução em que estamos imersos e do qual fazemos parte. Sob tal perspectiva torna-se possível ressignificar aparentes fracassos, convertendo-os em impulsos para novas e melhores realizações.
A expressão dos potenciais de que somos dotados requer um constante trabalho interior, no sentido de criar condições favoráveis para que se manifestem. Para isso, ressalta-nos a importância de se remover obstáculos, cultivar e desenvolver virtudes, equilibrar sentimentos, purificar pensamentos, elevar ideais, agir com presteza e constância no bem, a fim de que a Vida encontre em nós condições de fluir e se expressar mais livremente. Esse trabalho interior, parte indissociável de um processo verdadeiramente educativo, parece-nos imprescindível ao florescimento de uma vida individual e coletiva mais significativa e plena.

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