A Juventude

Por José Faganello | 23/02/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A juventude costuma ser a época de nossa existência mais comentada. Poetas, como Casemiro de Abreu, versejaram-na demonstrando uma pungente saudade: - “Oh! que saudades que eu tenho da aurora da minha vida,/Da minha infância querida/Que os anos não trazem mais”.
Outros demonstram um grande arrependimento e uma terrível desilusão de não a terem aproveitado melhor, já no final da vida, desesperam-se pelo tempo que se esvai, pela vida que se acaba e nos deixam versos amargos, como os de Nadine Stair, em “Instantes”. Estes versos foram falsamente atribuídos ao poeta argentino Jorge Luís Borges. A viúva de Borges, Maria Kodama, processou a revista que popularizou o poema como sendo de Borges. Ela afirmou ser uma infâmia a idéia de que Borges pudesse ter tido a desilusão expressa na poesia. Os versos de Nadine Stair possuem uma intensidade tal, que transmitem ao leitor a sensação de encontrar neles uma expressão de sabedoria e o retrato daquilo que a maioria de nós irá sentir no acaso da vida, ao fazer um balanço do seu passado. Vejamos os versos de Instantes: - “Se eu pudesse viver novamente minha vida,/Na próxima, trataria de cometer mais erros./Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, /Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade, bem poucas coisas/levaria a sério./Seria menos higiênico/Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais/entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares aonde nunca fui, tomaria mais sorvetes e menos/lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada/minuto da vida: claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; não perca/o agora. Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro,/uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se/voltasse a viver viajaria mais leve./Se eu pudesse voltar a viver, começaria descalço no começo da/primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na rua, contemplaria mais amanheceres e/ brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.”
A juventude de hoje, com seu dia todo tomado por aulas, cursos e compromissos mil, terá um forte motivo, para se chegar aos 85 anos, declamar os versos de Instantes. Estes jovens, exigidos como são, tenderão a exigir mais ainda de seus filhos e, deste modo, jamais poderão colocar em prática o conselho do poeta Schiler: “Diga-lhe que, quando homem, deverá respeitar os sonhos de sua juventude e não deverá abrir o coração, essa suave flor divina, ao mortífero inseto do célebre bom senso”.
No entanto, nos meus oitenta anos, espanta-me os noticiários sobre a disciplina nas escolas e para com os pais, mães, avô e avós.
Hoje mesmo foi postado o retrato de um professor de História com o rosto ensanguentado por um seu aluno.
Se não por um freio nessa indisciplina estaremos deixando para nossos netos uma herança maligna e uma deseducação irreparável, pois, sem disciplina nada prospera.

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