A conhecida proposta de estar no mundo sem ser do mundo é ensinamento de relevante importância e encerra preciosa chave para que possamos cumprir as tarefas que nos cabem sem que nos prendamos às inúmeras ilusões a que estamos sujeitos nessa aventura-desafio que é a existência humana e o convívio social.
Torna-se um desafio permanente a capacidade de lidarmos com as mais diversas questões do cotidiano e do mundo material e, ao mesmo tempo, permanecermos com a consciência espiritual desperta, agindo a partir de um estado interior de lucidez, harmonia e paz. Somente a partir desse “lugar”, desse estado, é que podemos agir de modo verdadeiramente construtivo, criativo e curativo. As dimensões material e espiritual não somente coexistem mas se interpenetram e influenciam-se mutuamente, já que a vida é uma só, embora focalizemos a consciência preferencialmente em algum nível específico. Trabalhar com as questões e demandas materiais, ao mesmo tempo considerando-as no seu significado transcendente, torna-se aprendizado permanente durante a jornada existencial.
As mensagens e instruções espiritualistas genuínas, que visam à evolução e libertação humana rumo à plenitude e felicidade, não trazem nenhuma proposta alienante nem escapista em relação aos compromissos de ordem material. Ao contrário, os princípios espirituais, quando corretamente compreendidos e vivenciados, servem de referência e orientação diante de quaisquer situações. Desse modo, sem fugir do mundo nem das situações em que somos convidados ou constrangidos a viver, passamos a dispor de recursos iluminativos e pacificadores, os quais nos fortalecem e estabilizam, a fim de nos desincumbirmos das tarefas que fomos levados a realizar.
Temos a tendência adquirida e arraigada de separar a vida supostamente espiritual da vivência diária, a diferenciar o sagrado do profano, a fazer uma cisão entre as situações ditas religiosas, nas quais procuramos demonstrar certa reverência ou respeito (ainda que por convenção ou hipocrisia) daquelas em que nos permitimos agir com menos formalidades e de modo mais espontâneo, nas quais, geralmente, nos mostramos como realmente somos, despidos de máscaras e de vernizes sociais.
Estar no mundo sem ser do mundo, como conquista e realização interior, pode significar encontrar-se imerso na matéria sem se permitir hipnotizar em demasia pelas impressões sensoriais; trabalhar e servir, viver e conviver sem se apegar ao que é transitório, finito e limitado; doar-se no cumprimento do serviço evolutivo que estiver ao próprio alcance sem alimentar expectativas nem fantasias e sem nutrir ambições de caráter pessoal; usufruir tudo o que a vida material possa oferecer, desde que não ocasione prejuízo nem sofrimento a ninguém, de modo que seu desfrute não signifique aprisionamento nem obstáculo ao livre fluir da vida. Enfim, celebrar a vida sem se embriagar com as ilusões; compartilhar os dons, bens e bênçãos com que somo agraciados sem transformá-los em instrumentos que possam prejudicar ou ferir quem quer que seja, inclusive irmãos dos demais reinos da Natureza.
Estar no mundo sem ser do mundo é um permanente convite a todos os que, ao despertar a consciência espiritual, permanecem no mundo não mais em busca de satisfações egoístas e perturbadoras, nem para dar vazão a desejos e ambições inconsequentes, mas cada vez mais como servidores devotados, comprometidos com o bem de todos, o que se torna fonte de imensurável alegria.
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