A Crença

Por José Faganello | 16/02/2022 | Tempo de leitura: 3 min

“O desconhecido continua desconhecido, embora alguns filósofos os tornassem conhecidíssimos” (Dirceu, humorista de Araxá)
Acreditar, ter fé, desvendar mistérios insondáveis, sempre foi um indomável anseio humano que resulta em bonitas lendas, mitos, crendices e tentativas de explicar aquilo para o qual não se encontra explicação.
Surgiu, então, o inevitável confronto entre crédulos e cientistas, que foi se agravando com o passar dos tempos. Aqueles, não aceitando ver suas crendices serem desmistificadas pela ciência, estes, muitas vezes, mostrando-se demasiadamente pretensiosos.
Jonh Horgan em seu livro “O Fim da Ciência”, afirma que a humanidade está chegando ao esgotamento de sua capacidade de aprendizado, época gloriosa, em que todas as leis da natureza foram descobertas. Sem dúvida esta é uma afirmação eivada de um triunfalismo pretensioso e falso.
“Eurípes Alcântara em recente artigo, Fronteiras do Desconhecido” (Veja 16/7/97), por exemplo, elenca 50 perguntas, até hoje, sem respostas. Entenda-se aqui, respostas científicas e não respostas baseadas em tradição, fé inabalável, crendice. Entre elas encontramos: por que o universo existe? Como a vida surgiu na Terra? Em que lugar surgiu o primeiro homem? Por que ele evoluiu?
Ao comentar a primeira pergunta ele afirma que além do homem não conseguir, até hoje, responder baseado naquilo que ele vê e até pode tocar, outra mais difícil ainda sê-lhe depara: 99% do universo é resultante da chamada “matéria escura”, uma substância totalmente misteriosa e sobre a qual nada se sabe.
Quanta à pretensão humana, cita, Thomaz Edison, o inventor da lâmpada, que em 1811, disse: “muito pouco ainda falta para ser inventado”…
As dúvidas que angustiam a humanidade servem ao mesmo tempo como impulsoras para contínuas e novas descobertas. As incertezas são muitas ainda, portanto, mais descobertas virão.
Um dos grandes problemas atuais é a progressiva perda da fé. Hoje, os meios de comunicação tornam públicas e universais notícias, afirmações e desmistificações que antes eram sonegadas para as multidões. Sem a fé, instituições, governos, seitas, agrupamentos, partidos, não têm como manter coesos seus seguidores.
O povo judeu conservou-se unido, até hoje, graças à sua fé. Sobreviveu a todas as perseguições, reagrupou-se após três diásporas e confiante de sua predestinação de “povo escolhido” mantém-se coeso.
Os cristãos enfrentaram a poderosa organização do Império Romano. Estribados numa fé inabalável, superaram inenarráveis torturas e grandes perseguições. Impuseram sua fé, primeiro aos romanos, depois aos bárbaros e finalmente à grande parcela da humanidade, espalhando-se por todos os continentes.
Os islamitas, com Maomé como profeta, Alá por Deus e o Corão como
diretriz, conquistaram um imenso território, ameaçaram seriamente o cristianismo europeu, conquistaram Constantinopla e hoje, o Islã, é uma religião que cresce de um modo impressionante.
O Nazismo, com sua crença na superioridade ariana, fanatizou um povo teoricamente imune pela sua cultura, àquela barbárie. Na guerra que provocou, a besta-fera andou solta de ambos os lados, deixando os sensatos em dúvida quanto à sanidade humana.
A crença dá sentido à vida dos humanos e torna-se uma alavanca poderosa para mover pessoas e aglutinar multidões que, muitas vezes, se deixam degradar com fervoroso e insensato entusiasmo.
A democracia é uma das crenças, atualmente, com grande número de seguidores.
Para uma democracia funcionar é necessário haver representação popular - poder legislativo e executivo.
O império romano caiu quando a corrupção fez o povo perder a fé em seus imperadores e deus
Nossa democracia está correndo o mesmo risco. Uma corrupção avassaladora torna o noticiário uma rotina exasperante. Ela corrói sua credibilidade e provoca a perda da fé na representação popular. Muitos passam a suspirar por algum “salvador”, talvez um Maduro tupiniquim.

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