Viver dói

Por Marisa Bueloni | 09/02/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Este é o título de um livro que comecei a escrever. Viver dói. Nele, conto que sou uma pessoa tocada pela dor e tento uma narrativa de tudo o que passei, ao longo da vida, pois já me submeti a inúmeras intervenções cirúrgicas, sendo quase todas com anestesia geral. Com orgulho, sou uma sobrevivente. O pós-operatório nunca é fácil e nos sentimos tão fragilizados!
Só a coluna, operei três vezes. No livro, narro com detalhes cada uma delas, as dores, as expectativas, o medo de não mais andar, não me recuperar. Graças a Deus, me recuperei. Mas o grande divisor de águas na minha vida foram os 13 anos de Pilates, as aulas com professoras maravilhosas. Comecei a fazer Pilates um ano após a terceira cirurgia na coluna, e senti no corpo o fortalecimento dos músculos, responsáveis pelo bem estar da nossa parte óssea e articulações. Sobretudo, nossas vértebras.
Mas quando afirmo que viver dói, não me refiro somente às dores do corpo. Há dores maiores, que são as da alma. As dores das perdas que sofremos ao longo da vida. Seja a dor de amor (que nunca é fácil de superar…), seja a dor de perder um ente querido, amado. As dores da alma, a angústia do luto, da tristeza profunda, podem até mesmo levar à depressão.
No entanto, seja qual for o tipo de dor, só nos resta lutar. Importante é não entregar os pontos, não se sentir derrotado jamais! Eu lutei, Deus sabe quanto eu lutei para ficar de pé, para andar direito, recuperar a marcha, me sentir bem depois de tantas cirurgias e suas possíveis sequelas.
Poder voltar à vida normal após uma cirurgia é algo fantástico. No leito, deitada quietinha, vendo TV ou lendo um livro, parece que não vamos mais sair dali. Contudo, os dias passam, a energia volta, e a vida tem graça de novo. Uma caminhada lenta, mas feita com fé, e o passo se refaz. Depois de um ano da terceira cirurgia na coluna, voltei a dirigir meu carro. Esta é a bênção maior da minha vida.
Vejo meu veículo como a extensão das minhas pernas e pés. Ele me leva onde preciso ir, quase sempre até a porta. Passei por uma perícia técnica que comprovou minha capacidade de dirigir carro normal e tenho toda segurança na direção. Assim, meu cotidiano é abençoado pelas 4 rodas que bendigo a todo instante. A maioria dirige e pronto. O ato é mecânico. Eu dirijo rezando, louvando e agradecendo. Ninguém ama o trânsito mais do que eu, a sua lógica, a sua dinâmica, as suas leis.
Viver dói. As perdas de pessoas queridas nos fazem sofrer. E foram tantas, nos últimos tempos! Perdemos amigos, parentes, resta um vazio tristíssimo, difícil de ser preenchido. Estamos convivendo com a morte e os velórios de forma mais frequente agora, e isso nos toca muito profundamente. Temos de ser fortes, enfrentar a partida dos nossos amados, sem entrar em desespero.
Amo viver e guardo esperanças no coração. Tenho crenças religiosas e espirituais que me levam a esperar por um momento de grande luz! Se há algo que nos fortalece é a oração diária. Rezar, orar, ter uma conversa particular com o Criador nos ajuda a enfrentar estes tempos sombrios.
Desejo força a todos. Sim, viver dói. Mas pode ser uma dor transformadora, um sofrimento que amadurece, dignifica e enobrece. Paz e Bem!

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