Domingo sangrento

Por Rubinho Vitti | 05/02/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Provavelmente você já ouviu os versos "Sunday Bloody Sunday" cantados por Bono Vox em gravações da banda U2. A letra da música conta um episódio real e marcante na história da Irlanda do Norte: o Domingo Sangrento ("Bloody Sunday").

A canção remete aos acontecimentos de 30 de janeiro de 1972, quando membros do Exército Britânico abriram fogo contra um grupo não armado de civis que protestavam na cidade de Derry, na Irlanda do Norte.
Naquela época, havia uma forte disputa na Irlanda do Norte entre dois grupos formados por católicos e protestantes que, muito além da religião, têm ideologias diferentes.

Os sindicalistas (unionistas, de maioria protestante) são aqueles que defendem a permanência da Irlanda do Norte no Reino Unido e os nacionalistas (republicanos, de maioria católica) reivindicam que o país deixe de pertencer ao Reino Unido e que as duas Irlandas se unam, formando uma ilha de um só país.

Sempre achei muito esquisito uma ilha do tamanhinho da Irlanda, com cerca de 7 milhões de habitantes, menor que o estado de São Paulo, fosse dividida por dois países, sendo o Norte parte do Reino Unido!
A República da Irlanda se tornou independente em 1937 e, desde então, embates entre sindicalistas e nacionalistas vinham acontecendo frequentemente e de forma violenta no lado norte da ilha. Essa época ficou conhecida como The Troubles.

Por volta de 1969, o Exército Britânico havia entrado na Irlanda do Norte para conter a violência entre os grupos rivais.
Em 1971, a Grã-Bretanha instituiu um novo sistema no tribunal de crimes na Irlanda do Norte, voltado a punir ataques terroristas.
O sistema também proibia qualquer tipo de manifestação e o Exército recebeu "carta branca" para agir contra protestos. Quem praticasse atos de terrorismo seria julgado sem júri — e a condenação era certeira.

Em 30 de janeiro de 1972, na cidade de Derry, um ato foi organizado pelo Northern Ireland Civil Rights Association, associação dos direitos civis da Irlanda do Norte. O motivo da manifestação pacífica, que levou cerca de 10 mil às ruas da cidade, em sua maioria jovens católicos republicanos, era justamente o novo sistema tribunal do país.
Os manifestantes tiveram a ideia de protestar pacificamente, marchando até a Câmara Municipal da cidade.

No meio do caminho, por volta das 16h, o grupo foi surpreendido por uma barricada do exército britânico que havia chegado ao local para impedir a marcha por ordem das autoridades britânicas. Os soldados, inicialmente, tentaram prender alguns dos manifestantes, mas houve resistência.

Foi então que eles atiraram indiscriminadamente contra a multidão de manifestantes. Treze civis desarmados foram mortos a tiros e uma outra vítima morreu meses depois por consequência dos ferimentos. Além dos mortos, 26 ficaram feridos.
Sete dos mortos eram menores de idade e muitas das vítimas foram alvejadas pelas costas, provando a crueldade e covardia da ação do exército britânico.

O Domingo Sangrento completou 50 anos. Apesar de ter sido tenebroso, ele foi responsável por fazer com que a guerra na Irlanda do Norte, até então refletida apenas na pequena lha, fosse ganhar manchetes nas capas de jornais de todo o mundo.
Até hoje, a Irlanda do Norte lembra e chora seus mortos, como forma de tentar, repetidas vezes, fazer com que aqueles anos problemáticos nunca mais voltem!

Pronto! Agora, da próxima vez que você cantar "Sunday Bloody Sunday", já não será apenas uma música do U2!

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